Vania.Cristina 08/03/2024
Deleite sensorial
Com arte e roteiro de Jean-Pierre Gibrat essa história em quadrinhos trás uma aventura romântica de época, que se passa na França ocupada pelos alemães, no final da Segunda Guerra Mundial.
A protagonista é Jeanne, jovem com ideais comunistas, que trabalha para o movimento francês de resistência à ocupação alemã. A história começa com Jeanne presa. O comissário de polícia recebeu uma carta anônima que a denunciou como contrabandista. Ao revistar seu apartamento, a polícia encontrou armas e documentos falsificados que seriam da resistência. Com a moça presa, o comissário encontra-se dividido: se ele a entregar para os alemães pode virar alvo da resistência, se não entregar, pode ser acusado de cumplicidade.
Logo depois de Jeanne, um ladrão também é preso e colocado na mesma cela. Seu nome é François.
Durante um bombardeio, François consegue aproveitar a confusão, enganar um guarda, e fugir com Jeanne, levando-a por uma clarabóia e escapando com ela pelos telhados de Paris.
Ele está habituado a fugir pelos telhados dos prédios, afinal é um ladrão, mas Jeanne não. Ela torce o tornozelo e fica difícil prosseguir. Eles são obrigados a se abrigar da noite e da chuva ainda nas alturas. E de lá assistem os bombardeios nas cidades vizinhas.
A diferença entre os dois é gritante e eles começam a se desentender: enquanto Jeanne tem preocupações sociais e acredita lutar pela libertação de seu povo, François duvida de tudo isso, está focado em sobreviver e em ser esperto. No entanto, ele poderia ir embora e deixá-la sozinha, mas ao invés disso, por um motivo misterioso, resolve ficar.
Acabam procurando a ajuda de conhecidos de François, uma família dona de um barco, e lá permanecem escondidos.
Jeanne está preocupada, temendo pela vida dos amigos que atuam na resistência, e principalmente, por sua irmã, Cécile, que pode ter sido capturada pelos alemães. (Quem leu o livro Destino Adiado de Gibrat, já conhece Cécile).
Fragilizados pela guerra e vivendo perigos e aventuras juntos, aos poucos Jeanne e François vão se aproximando...
A arte de Gibrat é um espetáculo visual e a edição é belíssima. Os desenhos são suaves, cheios de detalhes agradáveis e cores aconchegantes. A gente se perde olhando com prazer a beleza da protagonista, da paisagem e da cidade. É um livro que trás deleite sensorial, porque é gostoso até de tocar.
A beleza de Jeanne é de uma perfeição quase irreal. Ela é uma pin up sensual, delicada, e, na verdade, estereotipada também. O que dá uma certa personalidade a ela são seus ideais de luta, sua postura jovem e sofisticada e pequenos detalhes visuais, como sua boina vermelha. Por sinal, reparem bem na boina, além de ser a marca registrada de Jeanne, ela é um recurso visual da narrativa, um importante gancho de ligação entre cenas.
Já os outros personagens têm os traços mais reais, com pequenas imperfeições ou peculiaridades, ou são até mesmo um pouco caricatos.
Embora a história seja divertida, com aventura, humor, ação, drama e romance, ela também fala de violência. São tempos de guerra contra o nazismo, de opressão.
Mesmo a narrativa sendo cinematográfica, tive um problema durante minha experiência de leitura: para mim o roteiro pareceu um tanto truncado, dificultando meu envolvimento profundo, pelo menos num primeiro momento. Mas a beleza da arte compensou muito isso, porque ela me agarrou e me levou a folhear as páginas duas vezes, e depois mais outra, e outra...