Mauricio S S C 08/01/2024
Un bel morir tutta la vita onora.
Nessas 144 páginas de uma escrita absolutamente magnética, Calligaris abre mão do rigor acadêmico e passeia por memórias familiares, reflexões filosóficas e psicanalíticas, além de referências poéticas e plásticas, com o intuito de questionar o que seria uma vida feliz e que tipo de princípios poderia conduzir a ela. O autor demonstra uma erudição que não se confunde com arrogância. Ele recorre a nomes consagrados, como Aristóteles e Petrarca, a fim de propor uma vida guiada por princípios estéticos, em contraposição aos princípios éticos (próprios de algumas religiões, como o cristianismo, ou grandes ideologias utópicas, como o socialismo).
Calligaris nos adverte também sobre as distrações da vida. Ninguém pode realmente viver ("carpe diem") quando se está distraído. Uma vida interessante demanda atenção, exige presença. O que nos anestesia a dor também nos rouba o tempo de vivê-la. Por isso, convém abraçar de corpo e alma os momentos de luto, angústia, tristeza... E, sobretudo, a morte. Porque nós vivemos uma única vida, e nela morremos uma única vez. Que grande desperdício é não estar por inteiro nesse momento!
Contardo sabia que estava morrendo (a obra foi concluída poucos dias antes de sua morte), o que torna irônicos alguns comentários ao longo do texto - como quando ele fala dos planos futuros de escrever um livro sobre a história de sua família. Escrever um livro no futuro a respeito de seu passado... Quando, na realidade, o que lhe restava era apenas o presente, e este já chegava ao fim. No frigir dos ovos, não é o que fazemos todos: ir em direção à morte, planejando o futuro como se ela não existisse? Esse é o tipo de sutileza que torna esta obra encantadora!
"Un bel morir tutta la vita onora". Contardo morreu com elegância, deixando um belo presente para nós.