Marcos 02/03/2024
Ela voltou! (resenha no youtube, link no final do texto)
A Holly é uma personagem recorrente nas histórias do Stephen King, e este livro é um romance de suspense publicado em setembro de 2023. Aqui acompanhamos a história de Holly Gibney, uma investigadora particular que é contratada para encontrar Bonnie Dahl, uma jovem que desapareceu sem deixar vestígios, durante o período da pandemia de COVID-19, no ano de 2021.
Entretanto, diferente da narrativa clássica de investigação policial, em que não sabemos quem são os culpados, King opta por subverter, nos mostrando logo no início quem são os responsáveis pelo desaparecimento de Bonnie e de outras pessoas. Os Harris parecem ser um casal de aposentados inofensivos, mas escondem um segredo muito sombrio.
O livro portanto não se sustenta no suspense de descobrir junto da personagem principal quem são os verdadeiros culpados, e sim no caminho que ela irá trilhar para chegar até lá, e principalmente na grande questão que é: ela vai conseguir descobrir? Nós, enquanto leitores, vemos a situação de cima, o quebra cabeça montado, Holly não, e provavelmente a força dessa história mora nisso.
Ao longo da história, Holly também lida com o luto em razão da COVID-19. A perda de uma pessoa importante para a personagem a deixa em um estado de vulnerabilidade, o que a torna mais suscetível aos perigos que a cercam.
Aqui, King busca uma atmosfera voltada mais para o suspense do que para o terror em si, ainda que, em certos momentos, tenhamos algumas cenas que são mais fortes e impactantes quando acompanhamos os Harris.
Além disso, Stephen King como sempre fez em sua carreira como escritor, reflete o que ocorria na sociedade na época em que escreveu cada uma de suas histórias, seja mencionando objetos como um aparelho VHS ou smartphone, seja tratando de temas como o racismo, presente em A Espera de um milagre, ou a COVID 19 em Holly.
Portanto, mais uma vez ele traz temas relevantes socialmente, sendo o mais evidente aqui, o negacionismo com relação a COVID-19, que ocasionou a morte de diversas pessoas que não acreditavam na proteção das vacinas e nem em medidas de higiene capazes de impedir a circulação e contaminação pelo vírus. Tudo isso, influenciadas por figuras políticas, como Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Os Harris são bem desenvolvidos por King, que é mestre em nos fazer compreender exatamente quais são as visões de mundo de cada personagem, seus hábitos, manias e obsessões. Por essa razão, conseguimos ter uma noção de como cada um reage de forma natural aos acontecimentos. O motivo pelo qual os Harris matam as pessoas, é muito a cara de algo que o King imaginaria. Criativamente macabro.
Holly é uma personagem complexa e fascinante. Ela é inteligente, perspicaz e determinada, mas também é vulnerável e traumatizada. King explora a psique de Holly com maestria, criando uma personagem que é ao mesmo tempo forte e frágil.
O livro aborda temas como o luto, divergências políticas, o medo da morte, traumas do passado, o lado sombrio da natureza humana e que nem sempre a velhice pressupõe moderação e sabedoria.
Por fim, sinto que na metade do livro a escrita do King deu uma grande desacelerada, tornando a leitura mais intrincada, dando a sensação de que não estava acontecendo muita coisa, que o tempo estava demorando muito para passar, e isso pra quem está acostumado a narrativas mais rápidas e dinâmicas pode ser um alerta, no entanto, quem está mais acostumado a escrita do autor sabe que é natural suas narrativas levarem mais tempo, e ele sempre a uma cadência e sequência de acontecimentos que faz você querer permanecer no livro e ver o que vai acontecer dali adiante.
site: https://youtu.be/WyGBITFruRg