Claire Scorzi 15/11/2023
Uma heroína para hoje
Senhorita Marjoribanks foi publicado pela primeira vez em 1865 e nos apresenta uma figura de mulher no mínimo incomum. Creio que, mesmo se pensarmos em exemplos na literatura de hoje, iremos considerar Lucilla Marjoribanks um achado no quesito originalidade para uma protagonista. Porque ela é.
Lucilla tem características que mesmo na ficção contemporânea serão mais presentes em personagens femininas secundárias: ela é inteligente, mas é tão segura de si que chega a ser ingênua; é corajosa, mas essa coragem não é vista em atitudes de auto sacrifício ( modelo tradicional feminino) ou de rebelião ( modelo contemporâneo). Lucilla Marjoribanks sabe o que quer, empreende os meios para consegui lo, e surpreende pelos projetos que têm; ela é dinâmica e sente necessidade de usar suas capacidades, não indo atrás de um romance ou de um marido, ou apenas se auto afirmando num feminismo agressivo: ela é mais que ambas as atitudes. Faz as coisas acontecerem, seja promovendo um ambiente de cultura na cidadezinha de Carlingford, seja unindo casais, seja apoiando causas políticas. Sua energia é imensa, seu senso de oportunidade, perfeito, e sua constatação, algo ingênua, é que só é pena que nem todos aproveitem o que ela tem a oferecer. Mas Lucilla jamais é queixosa, ela está ocupada demais para isso.
O romance depende em grande parte de Lucilla Marjoribanks conquistar o leitor, pois como acontece em Arabella (1750) de Charlotte Lennox, tudo gira em torno da heroína título. Porém, ame-a ou se irrite com ela, uma coisa é certa: é impossível ficar indiferente a Lucilla Marjoribanks. A seu modo, ela é uma força da natureza, movendo tudo e todos.