Ismael.Chaves 17/10/2023
O último viking
Em sua obra "De Bello Gallico" (Das Guerras da Gália), Júlio César descreveu as diversas campanhas militares romanas contra as tribos germânicas. Como documento histórico, seu valor é inquestionável. Porém, como interpretação fiel aos fatos, abre margem para muitos questionamentos. Afinal, a regra é clara: histórias contadas sob o ponto de vista do lado vencedor sempre serão tendenciosas.
Apesar de haver pouco material histórico do ponto de vista dos povos conquistados, isso não é impedimento para a Literatura, cujo poder de imaginação ultrapassa os limites acadêmicos.
Em "Druida: a última morte", o novo romance histórico de Eduardo Kasse (que já escreveu as séries "Tempos de Sangue" e "Saga Vikings"), o leitor viajará para a Britannia do século I a.C., uma época em que o sagrado e o aço tiveram de se fundir para defender a liberdade – e a vida – dos povos da ilha.
É verdade que a falta de organização política e união das tribos dos territórios celtas resultaram em sua perdição, diante do numeroso exército romano. Mas é justamente aí que Eduardo resgata a figura mítica, aqui totalmente humanizada, do Druida e cria laços improváveis entre esses magos e guerreiros sedentos por sangue para tentarem uma ofensiva ousada e jamais vista contra os temíveis invasores.
Aliás, é bom que se diga antes: se o leitor espera encontrar aqui uma aula de história e tramas políticas e complexas, com diálogos intermináveis a la "Game of Thrones", pode tirar o bode da chuva. "Druida" é um romance frenético e cheio de ação que chafurda em poças de sangue e tripas da primeira à última página. Se você curte séries como "Vikings", "The Last Kingdom" e "Barbarians", então pegue pegue sua adaga e mergulhe nesse mar de corpos desmembrados, cabeças decepadas, litros de sangue, cenas de sexo e jargões chulos. Ainda assim, é nítido como o autor pesquisou a cultura celta e outros documentos históricos para compôr os cenários e o dia-a-dia desse povo. Tudo escrito de uma forma imersiva, porém crua e direta para que o leitor sinta cada golpe. E, apesar disso, ainda dar muita risada com esses guerreiros malucos.
Recomendo muito!