Aione 28/02/2024Um encontro com Holly é a primeira comédia romântica de Brittainy Cherry, conhecida por suas obras românticas e com alta carga dramática, assinadas como Brittainy C. Cherry. Embora eu tenha perdido o interesse de ler a autora depois da experiência com O ar que ele respira, fiquei curiosa por esse novo estilo de história, que também me cativou por se passar na época de Natal — quem não ama um romancinho natalino? Traduzido por Adriana Fidalgo, foi publicado pela editora Record e está atualmente disponível no Kindle Unlimited.
Holly fez sucesso como escritora sendo co-autora de mais de 50 romances, que publicou com sua melhor amiga. Contudo, há um ano ela não consegue escrever mais nada, desde que foi abandonada no altar pelo noivo… e que a largou para ficar com a melhor amiga em questão. Agora, está determinada a voltar acompanhada para a cidade onde tudo aconteceu para passar o Natal com a família e mostrar que superou o passado. Ela só precisa, primeiro, encontrar um pretendente.
Em primeira pessoa, a narrativa se alterna entre capítulos de Holly e de Kai, o mocinho da história. Assim como Holly, ele carrega os próprios traumas, que pouco a pouco vamos descobrindo. E, se ela é extrovertida e esperançosa, apesar dos dramas vividos, Kai é fechado e um tanto quanto mal-humorado. Por isso, a relação entre eles inicialmente é a típica cão e gato, repleta de más primeiras impressões e implicâncias mútuas.
Dia desses, acabei parando em um segmento muito esquisito de uma rede social e fiquei assistindo a um homem sem camisa cortar lenha por, tipo, cinco horas seguidas, então ele esmagou uma melancia com as coxas. Por que ele estava esmagando frutas com as coxas? Nem me pergunte. Por que eu estava vendo esse cara esmagar a tal fruta? Bem. Era meio que… impressionante.
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Infelizmente, Um encontro com Holly passou longe de me agradar e de me convencer. Na primeira metade do livro, as personagens são caracterizadas de forma um tanto quanto estereotipadas, sem haver de fato um bom desenvolvimento de cada uma. Mais do que isso, o romance não se sustenta, me deixando com a impressão de que o único fator que faz com que se apaixonem é a atração física. Kai ultrapassa os limites de “rabugento”, tendo atitudes e falas grosseiras. Mas, pior do que isso, o que mais me incomodou foi a maneira paternalista de como ele se porta em relação à Holly, como se a personagem — uma mulher adulta — fosse incapaz de ter o mínimo de noção sobre si e dependesse da ajuda dele para entender quem é e o que quer. Aliás, chega um ponto em que Holly depende até mesmo da aprovação dele para decidir o que fazer. Ainda que Holly esteja perdida e pudesse contar com o apoio de Kai em seu processo de amadurecimento, algo muito comum em romances, isso precisava ter sido mais bem trabalhado para não ficar superficial como ficou. Uma comédia romântica pode ser leve e, ainda assim, ter profundidade, ainda mais quando se propõe a abordar traumas delicados como os de Holly e Kai — conheço muitas extremamente bem-sucedidas nesse quesito. Personagens precisam ser bem delineadas, independente do tipo de livro, e não apenas representar papeis esperados dentro de cada gênero.
Sendo justa, a segunda metade do livro traz um aprofundamento maior dos protagonistas, quando ambos começam a criar uma conexão mais forte e se abrem sobre o que viveram. Contudo, esse estágio não se sustenta, já que houve uma falha na construção da relação. Também, a partir daí, boa parte do livro traz uma gama de citações de efeito para causar impacto emocional e proporcionar reflexões. Adoro frases do tipo, mas elas precisam estar associadas a uma profundidade do livro como um todo, o que não é o caso daqui. Por fim, as personagens secundárias, os conflitos por elas vividos e como esses conflitos afetam o desenvolvimento central igualmente soam caricatos.
Mas eu fiquei, porque ele era a única coisa que confortava meu conturbado coração. Ele estava começando a parecer um lar para mim. Só esperava que aquele lar não ruísse com o tempo.
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Um encontro com Holly tem seus momentos. Dei risada com o humor de Brittainy Cherry, que fez o livro parecer bastante promissor nas primeiras páginas, e me surpreendi com as reviravoltas, que eu não havia previsto. E, para quem gosta de cenas sensuais e apimentadas, a autora entrega um conteúdo satisfatório. Vale dizer, gostei também dos apontamentos de Holly sobre a literatura romântica, em especial a erótica, que em geral sofre tantos preconceitos. Porém, nada disso foi suficiente para que o livro tivesse um balanço positivo. Quem procura uma leitura rápida e para se distrair, pode gostar, sem se incomodar com os aspectos que, para mim, foram suficientes para que eu siga sem querer ler mais nada da autora.
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