Carla.Parreira 07/07/2024
A Última Visita (Org. Rick BZR). Melhores trechos: "...A energia daquela presença drenava toda a minha energia. Não era como uma energia negativa desencadeada por algo humano. Ela era densa. Sua estatura alcançava o teto. Era corpulenta. A foice em sua mão parecia ser feita de ossos, e seu corpo era composto de uma matéria escura que eu desconhecia... Ela não era feia, tampouco bonita, mas sabia que possuía certas qualidades que fariam um homem morrer de amores por ela. Infelizmente, tais qualidades só poderiam ser percebidas em uma segunda etapa, após o seu físico pouco desejável conseguisse chamar a atenção de alguém do sexo oposto. Vivia fazendo promessas para si mesma, iludindo-se a respeito de atitudes que jamais tomaria: Amanhã vou iniciar uma mudança radical na minha vida, vou à academia para fazer todo e qualquer tipo de exercício que faça de mim a mais gostosa das mulheres. Mentiras. Duras mentiras. Piores mentiras. Inúteis mentiras. Mentir para si não é mentir, é se conhecer muito, é saber que, no fundo, você não passa de uma idiota que pode enganar a mais idiota de todas: você – pensou, espantada com a própria lucidez. Sua psicóloga ficaria orgulhosa... Consciente do perigo que corria, no entanto, sabia que não podia desistir. Lutava, usando o único recurso que lhe restava: a vontade de viver. Precisava, desesperadamente, acreditar que tudo terminaria bem, mesmo sentindo cada vez mais frágil a vida que pulsava em suas veias... Enlameou os pés num trecho úmido, barroso; seus passos afundavam com lentidão. E então, voltou a ouvir os ruídos no cascalho, em algum ponto ao seu redor. Um bêbado nunca admite que está embriagado, talvez nem para si mesmo... Ouviu quando levaram o falecido: o som abafado de quando o cadáver foi envolvido pelo plástico do saco de despojos. Poderia ser ele ali dentro. As luzes foram apagadas novamente, restaram as de emergência, iluminando o corredor. A escuridão não causava medo. Ele estava acostumado, e o silêncio era uma constante... No meio da noite, quando acordou, Luci não conseguia se mexer por causa da paralisia, sua mão formigava, mas ela não olhou. Tinha desenvolvido a habilidade de não abrir os olhos quando acordava incapaz de se mover. O que os olhos não veem o coração não sente. O velho ditado popular parecia ter sido criado para ela de tão perfeito que se encaixava... 'Come tudo, senão a assombração vai te pegar!', dizia minha mãe. Eu, desde menino, sempre tive medo das coisas que não podia ver. Naquela época, ainda não se falava em crenças limitantes. Lembro-me que muitos adultos (não todos), costumavam assustar as crianças com coisas que, eles próprios, jamais conseguiriam provar que existiam de fato. Analisando a minha vida e a de meus amigos próximos, talvez muitos de nossos insucessos pessoais procederam daquelas chantagens insensatas feitas em um passado bem distante. Percebo que as crianças de hoje são muito mais espertas que as de ontem... Ainda quando criança, lembro-me de uma passagem muito intrigante: ouvi um certo alguém dizer que: 'Quando a morte não acha a pessoa que ela deveria levar, ela pega o primeiro que aparecer à sua frente'... Cada pessoa será ceifada, no momento certo. Nem antes, nem depois. Embora, quando fui chamada à existência, o plano original do Criador era que existisse somente o final natural, sem finais violentos, ninguém arrancaria ninguém de sua existência. Tudo saiu diferente, pois no mundo a grande variante é o fator humano. Contudo, a vida tem seu equilíbrio e tenho um grande papel nisso. Eventualmente, eu escolho parcerias para me auxiliar a exercer minhas funções. Não, eu não me associo a assassinos. Eu chamo boas pessoas para ajudar os ceifados em seu momento de colheita... A morte não aceita ser passada para trás..."