liaentrelivros 13/01/2024Todas as coisas passam, especialmente os sonhosO Sri Lanka é uma ilha ao sul da Índia que sofreu forte influência dos portugueses, holandeses e foi colônia britânica ? antigo Ceilão ? até 1948, o mesmo ano em que Burma, Israel, Coreia do Norte e a África do Sul do apartheid, foram criados. Sua população é formada por maioria cingalesa, mas também por tâmeis, mouros, burgheres, malaios, cafres e o povo aborígene Vedda. Seu governo é semipresidencialista, possuindo uma capital legislativa e outra executiva, sua economia atual é predominantemente baseada no turismo, e o país ainda sofre os reflexos da Guerra Civil que perdurou por mais de vinte anos, entre 1983 e 2009, época em que se passa o livro.
Malinda Albert Kabalana, ou simplesmente Maali Almeida, 35 anos, foi um fotógrafo de guerra, viciado em jogos e gay não assumido, morto em Colombo, a capital executiva, em 1990.
Após uma noite no cassino do Hotel Leo, ele tenta acordar de um sonho, mas logo descobre que está no Interstício, local para onde vão as almas após a morte, também conhecido como "Igual Lá Só Que Pior", e não é à toa, cheio de almas perturbadas, fantasmas e demônios que vagam pelo mundo em busca de respostas, de vingança e do que possa lhes dar varam (uma dádiva, espécie de privilégio entre os mortos).
Enfim, Maali não tem tempo pra isso, ele tem fotos que poderão acabar com essa guerra para divulgar, precisa descobrir como foi parar nesse local, quem o matou e como entrar em contato com DD, seu namorado não assumido e Jaki, sua melhor amiga, as únicas pessoas que sabem onde estão as fotos e para quem elas devem ir. Tudo isso antes da Sétima Lua, ou ele não conseguirá ir para a Luz.
Comecei o livro rindo muito dos diálogos irônicos sobre como a gente imagina ser a pós-morte, mas com o passar dos capítulos as histórias sobre o Sri Lanka, a guerra e a política, os personagens que Maali encontra no Interstício, nossas crenças e as muitas reflexões sobre os propósitos que encontramos na vida me fizeram chorar. Foi quando entendi o motivo desse livro ter sido eleito o romance do ano e vencedor do Booker Prize 2022. Eu diria que Shehan Karunatulaka é o Neil Gaiman srilankês. Prepare os marcadores de frases e os lencinhos, a depressão pós-livro chegou cedo este ano! ?
"? Por que o Sri Lanka é o número um em suicídios? [...] ? É porque temos a quantidade precisa de educação para compreender que o mundo é cruel e a quantidade exata de corrupção e desigualdade para nos sentirmos impotentes diante disso." ?