A face mais doce do azar

A face mais doce do azar Vera Saad




Resenhas - A face mais doce do azar


15 encontrados | exibindo 1 a 15


beIinha 01/11/2024

Maravilhoso
Uma leitura bem brasileira, com contexto histórico, social, enredo intrigante, forte, que te pega e poe dentro do contexto e mentalidade de cada um dos personagens, você sabe exatamente onde esta e o que ta acontecendo, adorei a leitura!
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Tamiris.Isabeli 25/10/2024

Alterada eternamente pela leitura
Eu li esse livro pela sinopse e por indicação de youtuber. As críticas são maravilhosas e ainda assim me surpreendeu. Eu fui ler somente por esse enfoque em contar mais um período que eu não vivi, o governo Collor e saber mais da narradora vivendo esse momento. E fui pra sempre marcada por uma personagem que eu me identifiquei completamente, que me vi em todas as dores e desafios, nossa juro estou impactada até agora. No final eu só ficava torcendo pra Dubianca, a personagem narradora, ficar bem e ter um final bom, de tanto apego e identificação com essa menina de 13 anos que é fictícia. É impressionante como mesmo eu nascendo mais de 10 anos depois da personagem eu sinto que os dramas familiares e de vida são muitooo parecidos. Não sou crítica literária mas é muito claro quando uma autora toca a gente com a escrita, e a Vera Saad teve esse impacto em mim. Achei muito maravilhoso como ela descrevia um país e uma família em crise de uma forma muito poética. Senti carinho pela Dubianca em todo momento, e espero que a vida dela tenha sido melhor Vera, só penso em querer saber o que aconteceu com ela. Acho que não terei um livro pra me contar isso mas vou imaginar o melhor pra ela
vehelena 01/11/2024minha estante
Tamiris, que depoimento mais tocante, muito obrigada, eu fico tão feliz e agradecida com suas palavras, sua identificação e empatia pela Dubi aquece meu coração e me faz pensar no quanto essa ferida aberta atinge a todas nós, obrigada, querida, pela leitura e pela linda resenha




Maria Faria 21/10/2024

A face mais sombria do que resta
O livro de Vera Saad é instigante, interessante e abre uma espécie de câmera para o passado, dentro da casa de uma família tradicional, durante o governo de Fernando Collor. Para o leitor que viveu naquela época, ainda que fosse criança, é impossível não reviver os acontecimentos.
A narradora é a pré-adolescente Dubianca, que mostra o abismo que pode se abrir entre uma grande esperança com o início de um negócio próprio e o desespero de ver as economias confiscadas como aconteceu com sua família e milhares de brasileiros.
A história prende o leitor e quando alcança seu auge, não é possível saber em que ponto a face mais doce da esperança empurrou todos para o lado mais sombrio do azar. E a partir daí todos precisaram lidar com o que restou de uma família após um desfecho trágico.
?A face mais doce do azar? é um retrato fiel daquele Brasil da era Collor: inflação gigantesca; famílias falidas moral e financeiramente; pessoas que ainda guardavam as sequelas da ditadura militar.
E da mesma forma que o abismo se abriu repentinamente sob os pés dos brasileiros naquele período, o livro se encerrou deixando o leitor órfão. A única critica negativa que tenho é sobre o final. Não trata-se do tradicional ?final aberto?, mas sim de uma brusca interrupção. E talvez essa crítica seja apenas resultado das lamúrias de uma leitora mal humorada com o fim inesperado de uma leitura que estava amando.
vehelena 01/11/2024minha estante
Que alegria ler sua resenha, muito obrigada, e sua crítica foi também a dos leitores beta do meu livro, é bastante perspicaz, eu que sou teimosa e decidi assumir o risco, pensando no trauma, que a acompanha em passado , presente e futuro


vehelena 01/11/2024minha estante
Muito obrigada por suas palavras tão lindas, Maria




Roberta 18/10/2024

“Não conseguia parar de pensar naquele cachorro. O corpo mirrado. Costelas à vista. Não latia nem rosnava. Deixava que a dona ou qualquer uma de nós o segurasse e fizesse com ele o que bem entendesse.”

Em A Face mais doce do azar encontramos Dubi, Bianca ou Dubianca, o nome muda de acordo com a forma ou de quem a chama, uma menina, como tantas nesse país. É fácil se identificar com ela, muitas meninas já passaram ou ainda passarão pelas mesmas situações, na verdade, acredito que esse livro seja um belo retrato da sociedade brasileira, é possível perceber um pouco de cada pessoa que conhecemos em algum dos personagens. E isso faz a história ficar ainda mais verdadeira, mais sensível, mais forte e, também, mais bonita.

Achei interessante como a autora usou um fato histórico do nosso país, a eleição, golpe e impeachment do presidente Collor para permear a vida dos personagens, além de conseguirmos visualizar na prática como as escolhas políticas afetam diretamente as nossas vidas, percebemos, também, como aspectos externos moldam as nossas relações pessoais.

Não gosto de descrever sinopses quando falo de um livro, sinto que isso é o de menos quando pegamos um livro para ler, o que realmente fica é o que essa história faz com a gente, como ela nos toca. Posso afirmar que essa leitura vale a pena por muitos motivos, bem escrito, personagens identificáveis, história forte e necessária.

Faz pouco que comecei a ler os nacionais e me apaixono mais a cada novo livro.

@bibliotecadarobin

site: https://www.instagram.com/p/DBRiYUNva9-/
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nathsql 16/09/2024

Escrita única da autora
Uma história pesada, contata de maneira pausada, como que para obrigar o leitor a digerir o que está sendo escrito.
Foi interessante descobrir um pouco de como foi para as pessoas lidarem com o desgoverno de collor.
Mas o mais impactante do livro é a triste história de dubianca, que Collor indiretamente criou.

?A única coisa que aprendi com Deus, vó, foi a odiar?
vehelena 25/09/2024minha estante
Que linda leitura, muito obrigada




Natacha.Bischoff 02/09/2024

Uma leitura fluida e bonita
Foi uma agradável surpresa essa leitura disponível no Kindle Unlimited. O assunto é interessantíssimo pois mistura fatos históricos do Brasil com a vida dos personagens fictícios. A leitura é fluida e bonita mas o final tem um corte seco muito brusco, por isso as 3,5 estrelas.
vehelena 25/09/2024minha estante
Muito obrigada pelo comentário


vehelena 25/09/2024minha estante
É tão lindo ver meu livro ganhar novas formas com leitoras tão incríveis


Mariana 02/10/2024minha estante
Ei Natacha, obrigada por comentar isso, já estava me achando doida! hahaha Eu amei o livro, mas o final me deixou meio assim: ué?


Natacha.Bischoff 15/10/2024minha estante
Alô Vera escreve uma continuação para nós! ??


vehelena 16/10/2024minha estante
Suas lindas


vehelena 16/10/2024minha estante
Essa foi uma crítica dos leitores beta, eu resolvi correr o risco, por acreditar que o trauma é o presente, sem fim, acompanha Dubi lado a lado, mesmo depois de mais de trinta anos, quando ela escreve a história, ela vive, revive esse trauma, não consegue colocar um ponto final nele


vehelena 16/10/2024minha estante
Mas não apenas entendo a crítica de vocês como concordo em certo sentido, quando pensamos em uma narrativa literária, e fico feliz demais com seus comentários




Stephanys27 21/08/2024

Livro bem escrito com um contexto histórico incrível, as nuances familiares e políticas são um caso a parte.
O único ponto que me fez tirar uma estrela foi a falta de profundidade em alguns assuntos como a bulimia, o abuso e as perturbações mentais de Antônio. Considero que os assuntos foram abordados de forma respeitosa só gostaria de um aprofundamento maior.
vehelena 03/09/2024minha estante
Sua participação no Clube do livro foi enriquecedora, como seus comentários aqui, muito obrigada!




Camila.Mendonca 09/07/2024

"Cedo ou tarde agiríamos como nossos pais."
O erro desse livro é ter tão poucas páginas!! Meu Deus, que sensacional!

O livro todo é narrado pela Dubianca, que ainda muito nova vê a sua família ser devastada pelo período pós ditadura militar, diretas já e todo o caos envolvendo o Plano Collor. O olhar dela sobre as atitudes dos seus familiares é muito interessante de acompanhar, principalmente por presenciarmos a perda de sua inocência.

Eu nunca tinha lido nada nesse contexto histórico e amei demais! Queria que tivesse muitas e muitas outras páginas. Não conseguia parar de ler.

Lia e sentia como se fosse a minha mãe me contando uma história, já que ela também participou dos protestos dos "caras-pintadas" no início da adolescência.

Além disso tudo, fiquei MUITO surpresa com o rumo que a história tomou. Não esperava que iria além do drama político. Tem uns gatilhos bem pesados!

Gostei bastante e em vários momentos me lembrou os livros da Elena Ferrante.

4 estrelas apenas porque senti falta de alguns pontos e talvez de um final um pouco mais trabalhado, mas vale SUPER a leitura!
vehelena 10/07/2024minha estante
Camila, como fiquei feliz com sua resenha, muito obrigada. Me enche de alegria saber que o meu livro te proporcionou


Camila.Mendonca 11/07/2024minha estante
Vera, que felicidade o seu comentário!!! ??? Muito obrigada pelo carinho e por escrever um livro tão incrível! Eu amei muito e estou ansiosa para conhecer mais o seu trabalho ??


vehelena 18/07/2024minha estante
A felicidade é minha, Camila




oliviaghetti 08/07/2024

Contexto histórico Plano Collor
Esse livro conta a história de uma família, tendo a filha Dubianca como narradora, em meio ao momento histórico que contempla desde logo após as Diretas Já até o início do movimento que causou o impeachment de Collor.
O livro é muito bem escrito, traz informações relevantes sobre a época e ainda nos faz refletir sobre a importância da família, os problemas (inclusive psíquicos) que sobrevieram o Plano Collor, relacionamentos de homens mais velhos com jovens adolescentes, abuso?
Uma leitura muito válida, importante é, de certo modo, prazerosa!
Vou ficar de olho na autora!
vehelena 09/07/2024minha estante
Puxa, seu comentário me deixou muito feliz :) muito obrigada


oliviaghetti 09/07/2024minha estante
Eu que agradeço por você ter escrito um livro tão bom, que envolve a gente e que ensina muito. E pra fechar com chave de ouro, tem uma capa deslumbrante!


vehelena 09/07/2024minha estante
Sim, essa capa é maravilhosa, é uma pintura da artista Clarice Gonçalves chamada Extensão da Zona de Silêncio (obrigada pelo comentário generoso sobre meu livro




collour 04/07/2024

A face mais amarga da sorte
A gente cresce com a Dubianca nessa história que relata a vida de uma família no fim dos anos 80 e início dos 90 com a crise política e financeira do país e isso se mistura com o cotidiano de gente do povo.
Apesar da gente saber o contexto da história, é feito de um jeito bem mais leve por estarmos vendo pelo olhar de uma criança, ela não entende as discussões de política, ela tem os adultos que ela admira, a amizade com a prima e a relação com as pessoas mas aí ela vai crescendo e começa a perder a inocência e as coisas começam a afetar ela diretamente e aí não fica mais legal, a escrita é ótima mas que virada, o livro tomou outro rumo, um site eu não esperava e aí eu não entendi o motivo da decisão da Dubianca e a última página é de sofrer
vehelena 05/07/2024minha estante
Muito obrigada pela leitura e pelo comentário. Que linda


vehelena 05/07/2024minha estante
Sinto tê-la decepcionado no final


collour 05/07/2024minha estante
Não moça, não foi porque a escrita foi ruim, longe disso hahaha só me deixou triste, eu queria que ficasse tudo bem ? eu com certeza vou ler outros livros seus


vehelena 05/07/2024minha estante
Muito obrigada


vehelena 05/07/2024minha estante
Mas, assim que tiver novidades com novas publicações, eu te aviso com prazer


vehelena 05/07/2024minha estante
Não sei o que acontece por aqui, escrevi uma mensagem enorme e só saiu muito obrigada! Fico muito feliz de saber disso, e te entendo muito, muitas vezes é difícil mesmo, eu mesma também tenho dificuldades com alguns assuntos do livro. Pena que não tenho nenhum dos meus outros livros comigo e eles não são mais comercializados pela Patuá




_ijaqline 02/07/2024

"Cedo ou tarde agiríamos como nossos pais."
"Não seríamos nós o ponto de fuga? Uma conversa é também um arremedo de imprecisões. Uma imagem borrada de algo que se diz. A procura na vista daquilo que se ouve. A busca por qualquer sentido no encontro de duas paralelas."

MUITO BOM, simplesmente.
vehelena 04/07/2024minha estante
Que linda


vehelena 04/07/2024minha estante
É difícil comentar por aqui, aparece somente metade do comentário! Agradeço demais sua leitura!


_ijaqline 04/07/2024minha estante
ah, maravilhosa! eu que agradeço pelo presente muito especial que foi essa leitura. adorei a sua escrita e espero poder conhecer mais em breve. ?


vehelena 05/07/2024minha estante
Puxa, muito obrigada




Biblioteca Álvaro Guerra 22/02/2024

A face mais doce do azar é um livro da escritora brasileira Vera Saad, que narra a história de Dubianca, uma mulher que relembra sua infância e adolescência marcadas pela crise econômica e política do Brasil no início dos anos 1990. O livro mistura ficção e realidade, mostrando como os acontecimentos históricos afetaram a vida de uma família comum e seus relacionamentos. O livro é uma leitura emocionante, que aborda temas como amor, amizade, família, autoestima e recomeço.

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/titulo.jsf?codigo=675026&fonte=
vehelena 16/05/2024minha estante
Muito obrigada pelo comentário




Gisele (@enquantoissoleio) 16/02/2024

Romance nacional do tipo 'vira página' de tão viciante
Nasci em 1993 e quase tudo que sei sobre o governo Collor são fatos relatados pelos meu pais que viveram as angústias e incertezas desse período, mas não tinham nem dinheiro no banco para ser confiscado. Ao pesquisar dados reais, um estudo mais histórico, percebi que jamais compreenderia como foi vivenciar esses dias por aqueles que perderam tudo que tinham. Pelo menos isso era o que eu achava até realizar a leitura de ?A face mais doce do azar?, de Vera Saad.

Dubianca é a narradora e nos conta suas memórias desde o final da década de 1980, quando ela tinha apenas 10 anos de idade, até pouco depois do seu aniversário de 15 anos. Por meio de frases curtas, diretas e duras, Dubi narra como foi passar do estado de euforia ao ver seu pai e seu tio conseguindo deslanchar com a loja de materiais de construção, até a confiscação de todo dinheiro da família durante o governo Collor.

Ela não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas lia as expressões dos pais e pegava pedaços de conversa que confirmavam o pior: estavam falidos. Morando de favor com os pais no porão da casa dos tios, Dubianca passa a sentir que sua família se tornou um problema indesejado, principalmente para a tia, e busca entender como de um dia para o outro tudo mudou.

Entrelaçando acontecimentos reais, como comprova a bibliografia apresentada pela autora ao final do livro, com a vida fictícia dessa família, Vera Saad nos comove e envolve em um enredo do tipo ?vira página?. Cada capítulo nos chama para o próximo e os acontecimentos da metade para o final do livro torna impossível largar a leitura.

Destaco o estranhamento que tive ao perceber que a autora escolheu narrar o livro em primeira pessoa, logo, contando com as memórias de Dubi aos 10 anos. A escolha mais óbvia, ao meu ver, seria narrar em terceira pessoa e apresentar os dados com um narrador onisciente, mas confesso que da forma como foi feito me aproximou mais da Dubianda e contribuiu também para a construção dos demais personagens.

Recomendo para leitores dispostos a conhecer mais sobre esse período da história do Brasil.
vehelena 16/05/2024minha estante
Muito obrigada pela leitura atenta




Suelen 02/12/2023

O que me cativou nesse livro, de início, foi a escrita maravilhosa da autora. Não sou uma pessoa muito afeiçoada com política, mas o jeito que ela descreveu toda a história de Dubianca e suas desventuras durante a época do queridíssimo Collor fez com que eu viajasse para muitos aspectos da minha infância: crescer em uma casa com meus pais, tios e primos embaixo do mesmo teto, as desavenças familiares, o auge da vida financeira seguido de uma queda brusca que corrompe sonhos... O apartamento que nunca saiu... Problemas de assédio... É tanta informação nesse livro que a cada trecho eu ficava mais e mais presa. Em muitas partes senti como um soco no estômago porque muito me vi em Dubianca, e isso me deixou reflexiva. Enfim, que livro! Eu amei!
vehelena 10/01/2024minha estante
Que linda




Krishnamurti 27/11/2023

A face mais doce do azar...
[ou da sorte mesmo...]
Nesses anos em que tenho praticado a crítica literária, jamais imaginei que uma coisa assim pudesse me acontecer. Peço desculpas portanto, aos leitores que me acompanham, pelo tom pessoal do texto. Não acredito em sorte ou azar... Acredito em atitude... Em quem luta pelos seus desejos e faz acontecer. Existem sim, parece-me, felizes e infelizes ‘coincidências’, uma das quais muito feliz, exponho, celebrando a sorte com um brinde especial e, ao azar, para quem ainda não leu “A face mais doce do azar”.

18 de novembro último acordei tarde. Tinha fritado a cuca até altas horas com projetos de planejamento de obras. Fiz rápido café da manhã, sentei-me à mesa, não sem antes colocar o celular à mão para saber do retorno do e-mail que havia enviado com o tal planejamento. Nada. Levei o café quente aos lábios e na outra mão, o pão com queijo. O celular tocou anunciando chamada telefônica. Olhei para o display e vi tratar-se de chamada de telemarketing. Não podia recusar. Mãos ocupadas. Tocou por longo tempo e parou. Logo a seguir nova chamada estridente, número desconhecido. Silêncio após três ou quatro toques. Seguiu-se nova chamada irritante que não pude identificar a origem porque, irritadíssimo, depus o pão no prato, e sem olhar ao certo o que estava a fazer, toquei no display de maneira desordenada a fim de fazer cessar aquele som antipático. E eis que; entre o abre e fecha de sites que meu dedo provocou, fui parar em uma live do Instagram. Lá estava ela falando sozinha. Ao menos foi o que o registro de presença da live acusava naquele momento. Contava sobre o processo da edição de um livro que tinha acabado de lançar. Como é tema que sempre me interessa saber, acalmei a irritação, e fiquei ouvindo-a por alguns minutos, ao cabo dos quais ela parou, olhou o controle de acessos da live e disse. “Gente! Acho que ainda não deu tempo de as pessoas entrarem aqui. Quem está ouvindo?” – olhou para a tela, soletrou meu nome quilométrico e disse muito compenetrada: “Que bom que você está aí! então eu falo pra você!” Pois; foi assim que conheci a senhora Vera Saad, autora do romance “A face mais doce do azar”.

Dividida em três partes a obra nos apresenta a história de Dubianca, uma garota que teve sua vida atravessada pelos desequilíbrios de um país como o Brasil que insiste, e miseravelmente perdura, numa injustiça social tremenda desde que era mero armazém de Portugal. Muito bem; a adorável Dubianca (mérito da autora em dar vida a personagem tão doce e inteligente), vive sua pré-adolescência morando com os pais na casa de um tio (irmão do pai). O pai e o tio são proprietários de uma loja de materiais de construção. A residência conjunta das duas famílias é obra da fé que o pai de Dubianca alimentava de pagar apartamento próprio. Da esperança – Deus que palavra mais desesperadora neste país! – de que, com muita persistência e trabalho duro, poderia afinal ascender socialmente, e proporcionar à pequena família melhores condições de vida. Anos 90 do século passado. Só quem viveu aquele tempo pode fazer ideia do caos que foi. Uma inflação galopante de 1.900%. Até que veio o tal Plano Collor. Conjunto de medidas econômicas adotadas pelo governo de Fernando Collor de Mello (1990 – 1992). Fazia parte da cachorrada a que se deu o nome de “plano”, o confisco das poupanças do povo, e uma série de medidas que afetaram a quem? Aos “Zé ninguém” do país, ou seja, a população brasileira. Quem era rico, continuou rico e quem era pobre ficou ainda mais fodido! Como diria um papagaio pornográfico que habitava as proximidades da residência dos Limeira. O coitado do Antônio, pai da protagonista, perde-se, fica sem chão, se desequilibra de tal forma que acaba enlouquecendo! Como dar conta de pagar o apartamento, como manter a loja? como prover as necessidades mais elementares da família? como?

Separemos as coisas. O relatado no livro não é mera ficcionalização de completa distopia. É espelho fiel do que aconteceu naqueles anos. De fato, houve vários casos de suicídio na ocasião. O confisco do dinheiro da população tornou o país mais justo? Alçou a nação a patamares de país desenvolvido? Resolveu o problema da inflação galopante? Nada. Cachorrada por cima de cachorrada.

Em “A face mais doce do azar”, Vera Saad aborda duas vertentes da História. A que relembra o passado sob a ótica do sofrimento imposto à uma família classe média da São Paulo à época do despautério completo que foi o governo Collor, portanto história pública de toda a gente, ou social – como queiram – que se entrelaça à história pessoal de vida de Dubianca, protagonista da ficção, que por sua vez, se embaraça dolorosamente, com personagens que viveram e sofreram na pele a ditatura militar que ocupou o governo do Brasil durante longos e tenebrosos 21 anos (1964-1985). Recuemos no tempo por algumas linhas. O amalucado Jânio Quadros assumiu a presidência da República em 1961, e nesse mesmo ano renunciou ao cargo, dando lugar à posse do vice João Goulart. A ditadura foi implantada. A princípio, com o objetivo de evitar o avanço das organizações populares do Governo de Goulart, acusado de comunista. 21 anos de crimes e toda sorte e desmandos. Veio a abertura afinal, Tancredo Neves eleito presidente, morreu na véspera de assumir a presidência, veja-se o ‘azar’ nosso que vem lá dos tempos da ditadura Vargas – mas isto é ‘outra história’ –, e fomos de José Sarney. Pronto. A coisa começou a degringolar novamente, até que apareceu Fernando Collor, o caçador de Marajás, um detonador de maluquices à torto e à direito que impactaram na vida de milhões de brasileiros e não resolveram absolutamente nada. Escândalos, corrupções, acusações, divisões, dissenções, o diabo! O Brasil, sempre inclinado aos voos atrapalhados das “baratas voadoras”. Sem potência, sem direção, sem rumo.

Uma última e importante observação. A obra se abre com uma epígrafe do escritor argentino Jorge Luis Borges. Poema em que faz referência ao deus Jano. Como sabemos, Jano é o deus romano das mudanças e transições. Tem poder sobre todos os começos. Em seu poder estão os inícios, em relação às mudanças (recomeços). A sua dupla face simboliza passado e futuro. Resumidamente. É deus dos inícios, das decisões e das escolhas. Se tivermos o cuidado de analisar mais detidamente o contexto da obra da senhora Vera Saad, e dentro de uma perspectiva temporal alargada, facilmente chegaremos à mesma conclusão do filósofo Antonio Gramsci: “O velho mundo agoniza, um novo mundo tarda a nascer, e – nesse claro-escuro, irrompem os monstros.” Vivi o sofrimento imposto pelo desgoverno Collor de Mello, que à época, levou-me ao time de milhões de desempregados. Sim; Fernando Collor de Mello. Esse mesmo que, após renúncia e escândalos de toda sorte, foi eleito senador da república. Prova inconteste que nosso povo não tem a menor consciência histórica.
A senhora Vera Saad serviu-se de um passado que tangenciou a formação de sua personalidade. À época uma pré-adolescente, para compreender o que se passa hoje. – e para os que não intuíram ainda do que venho falando até aqui, ninguém se persuada de que em breve não tenhamos relatos dolorosamente tristes sobre a criminosa falta de vacinas e oxigênio nos hospitais nos anos da pandemia da Covid que ceifou milhares de vidas, e de quem foi a culpa. Já se disse e se escreveu: aqueles que não aprendem com o passado estão condenados a repeti-lo. Não conhecer o passado, condena presente e futuro. O livro nos mostra, e nos ensina, que a protagonista Dubianca assumiu a história de sua vida, dentro de uma imensa revolta existencial. O que mais se poderia esperar de uma ambiência de violações de toda sorte (aí inclusive, estupro físico na sua condição de mulher), como até hoje ocorre no Brasil grotesco que vamos construindo? Nela viu, contudo, a realização de si mesma, certa de que, assumir o controle da própria biografia significa a clareza sobre quem se é, e de quem se quer ser. Jano o deus das escolhas e das retomadas humanas. Não nos esqueçamos. Está em nossas mãos. Acatar ensinamentos da história significa buscar liberdade. A História é a base dessa liberdade.

Livro: “A face mais doce do azar” – Romance Vera Saad, Editora Claraboia, São Paulo/SP, 2023, 136p. ISBN: 978-65-80162-16-1 Links para compra e pronto envio: https://www.lojadaclara.com.br/produto/a-face-mais-doce-do-azar-vera-saad
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vehelena 16/05/2024minha estante
Resenha a que todo escritor almeja! Muito obrigada :)




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