O arrebatamento de Lol V. Stein

O arrebatamento de Lol V. Stein Marguerite Duras




Resenhas - O arrebatamento de Lol V. Stein


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Yasmin O. 25/12/2023

A pequena louca de M. Duras
Um livro que li envolta em nuvens de clonazepam e mirtazapina (2023 me deixou em um estado incapacitante ainda em tratamento), o que provavelmente, mas não necessariamente, intensificou o sentimento labiríntico e de desorientação que ele deixou em mim, pois Lol é uma personagem insondável, que emana obscuridade mesmo em plena luz do sol da baía. Um livro hermético e hipnotizante ao mesmo tempo, que me fez sentir mais do que entender.

Fui arrebatada pelas deambulações de Lol, a pequena louca, enigmática, melancólica, obstinada e falsamente resignada, em suas idas e vindas que se assemelham ao movimento das marés do cenário em que se passa a história.

Acompanhamos a fragilidade psíquica de Lol, intrincada com sua "alegria bárbara', com sua dor silenciosa, sua aparente opacidade, em uma eterna tentativa de recriar o momento do arrebatamento no baile, quando seu noivo também foi arrebatado por outra mulher, numa dupla acepção dessa palavra.

Uma personagem durassiana fascinante, que me deixa a sensação de compreendê-la sem compreender de fato, que me traz um reconhecimento e entendimento que não consigo transformar em palavras, apenas sentir. Certamente muitas releituras virão. Se tornou um dos meus queridinhos junto com Moderato Cantabile e O amante.

"Ela ainda se pergunta onde deveria estar esse corpo, onde exatamente colocá-lo, a fim de que pare de se queixar.
- Estou menos longe de sabê-lo do que antes. Passei muito tempo colocando-o em lugares diferentes de onde deveria estar. Agora acho que estou chegando mais perto de onde ele seria feliz". - O arrebatamento de Lol V. Stein - Marguerite Duras
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estevesandre 19/04/2024

Arrebatada ou arrebatadora?
Na Bíblia, o arrebatamento representa o anúncio do fim dos tempos, quando os fiéis serão recompensados com a subida aos céus. Esta ascensão implica um movimento que tira o ser humano do terreno, do que lhe é conhecido, para elevá-lo a um plano incógnito e, portanto, cheio de possibilidades.

Em “O arrebatamento de Lol V. Stein”, Marguerite Duras explora esse termo no sentido psicológico. Há aqui uma protagonista que também é removida do que lhe é habitual na vida – uma juventude pacífica, povoada de amigos e pela promessa de um casamento feliz – para ser lançada bruscamente a um terreno em que experimenta o obscuro da existência, o abandono imposto pelas circunstâncias e a ausência interior decorrente do vazio exterior.

Para Lol, no entanto, nesse fim iminente, há um desejo constante de voltar a ocupar o espaço, reexistir, resistir.

É interessante notar como, em sua obra, Duras parte de premissas comuns, mas que sempre se dirigem a um campo mais pedregoso: o da psique humana. Nesse romance, ela coloca no foco de um baile de verão uma garota que está prestes a se casar com o homem dos sonhos, mas o perde na mesma noite para uma mulher mais velha. O afastamento entre Lol e o novo casal de amantes a deixa num estado de suspensão. É como se ela nunca se desconectasse daquele momento crucial, que representa o rompimento de uma ilusão.

Tal situação leva Lol a um adoecimento mental que permanece latente nos anos seguintes. Ela consegue prosseguir e manter uma vida de aparências, mas há essa pendência emocional que faz os outros temerem que, a qualquer momento, Lol caia no buraco que a ameaça. Contudo, a graça da narrativa se mostra quando percebemos que, num contraste interessante, não é Lol que está em vias de ser arrebatada, mas sim de arrebatar, no sentido de tomar para si.

Este romance reforça a minha impressão de que Duras buscou, por meio da sua literatura, captar com a palavra toda a confusão que reside no íntimo humano e evidenciar que, por mais que se tente tocar o âmago das pessoas, sua essência será sempre essa massa difusa, imprevisível e complexa. Apesar disso, não custa nada continuar a dissecando.

| Resenha originalmente publicada na minha conta no Instagram: @memorialdeumleitor |
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guilhermecraz 10/01/2024

O amor alhures de Lol
Cheguei neste livro por interresse em entrar nos trabalhos de Duras e por querer saber mais desta importancia dada por Lacan à história de Lol.
Me parece que a cena do baile é esta que introduz os leitores a história de Lola, mas que cena é essa? Ressoa o "quem fora arrebatado?" de Lacan. Muito interessante como a leitura do romance de Duras está como que na experiência de corpo daquele que lê, implica algo intransponível, mas ao mesmo tempo estruturante: o vazio do objeto. E isso retorna e é visto de diversos ângulos no romance e é outra vez lido por nós: que corpo é esse? Há corpo? Há olhar, e a importância indiscutível do olhar para o amor de Lol - posteriormente generalizado por Lacan ao dizer do amor como "imagem de sí de que o outro reveste você e que a veste" - isto parece poder ser tudo. Fica o relançe, o olhar pela fresta da porta, a memória da memória, a tentativa de descrever, agora, meu arrebatamento pelo oque pudera ter sido o arrebatamento de Lol. V. Stein.

"Teria sido eternamente, para sua cabeça e seu corpo, sua maior dor e sua maior alegria, misturadas até sua definição, que se torna única, mas que era inominável por falta de palavras. [...] A palavra nunca serviu".
p. 66-67

Ótima leitura!
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Jasmine 18/02/2024

Sobre o arrebatamento que nos provoca Marguerite Duras
Um acontecimento marcante provoca o arrebatamento de Lol V. Stein, no momento em que ela perde o noivo na noite do baile de T. Beach. O noivo de Lol é atraído por Anne-Marie Stretter, mas Lol não consegue sofrer por isso. O que Lol perde, nessa noite, é a sua investidura, a imagem do noivo sobre Lol, aquilo a que Lol usava como cápsula, veste e recurso garantidor de uma vida social. Sem essa fantasia, fora da noite em que Lol observara o casal, a jovem psicotiza. O livro inteiro é a rememoração desse baile.
Nos dez anos que se seguem após essa noite, Lol revive a causa do seu arrebatamento e tenta encontrar um sentido para viver, no casamento, na maternidade, na jardinagem e em longas caminhadas pela cidade, onde pode libertar as suas lembranças, sem culpa.
Após esses dez anos, Lol reencontra ? não de propósito, mas guiada pelo seu desejo ? a amiga Tatiana, que esteve ao seu lado na noite do baile em T. Beach. Com Tatiana e o seu amante, Lol dá prosseguimento à fantasia quase perdida de ser o terceiro excluído.
O amante de Tatiana Karl, Jacques Hold, é a ?voz da narrativa?, ou, como disse Lacan no posfácio: é a angústia de Hold que narra. Os diálogos, a própria narrativa e os pensamentos desses três personagens se imiscuem de tal forma, onde tudo pode ser dito e qualquer desejo
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Flora.Lorena 04/10/2024

Talvez seja o tipo de obra que necessita de duas ou mais leituras, Maguerite nos arrebata com sua escrita, descreve os cenários e os pensamentos das personagens, as vezes a leitura pode ficar um pouco caótica, mas é dessa forma que os enigmas de Duras nos capturam.
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Bru 14/10/2024

Genial
Esse livro é a exemplificação perfeita da genialidade da marguerite duras. a escrita e a construção de enredo na obra, além do claro destaque da exploração psicológica feita com maestria demonstram o que apenas uma verdadeira artista consegue fazer quando escreve: produzir uma obra de arte
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