spoiler visualizarlu.apinis 16/08/2024
A lenda da água que persegue.
?começou como o início de todas as coisas: uma garota à margem, aterrorizada e ansiosa.?
"lições sobre afogamentos", de ava reid, conta a história de effy, a única mulher da faculdade de arquitetura, uma criança trocada, e uma menina que acredita profundamente no povo das fadas.
effy, acostumada a fugir de conflitos e, principalmente, da realidade, para sobreviver, decide se inscrever para reformar a casa de emyris myrddin, seu autor favorito, que faleceu há pouco mais de seis meses. para a surpresa da garota, e de todos em seu curso, seu projeto ganha, e effy embarca em uma longa viagem para o centenário inferior, a parte mais precária e supersticiosa de lyr.
?o que é uma sereia senão uma mulher meio afogada??
ao chegar na mansão hiraeth, effy conhece preston héloury, outro universitário cujo objetivo é desvendar a verdade sobre a autoria das obras de myrddin. a antipatia que sente por héloury, somada à falta de recepção da viúva de myrddin, que a obriga a ficar na casa de hóspedes, e à semelhança entre ianto, filho do escritor, com o professor orientador de effy ? um homem oportunista que abusou da falta de reação da aluna para ultrapassar limites ? faz com que a garota, que antes tomava uma pílula para inibir alucinações apenas quando sentia paredes invisíveis se fechando ao seu redor, passe a tomar uma ou até duas pílulas todo dia, assim que acorda.
effy era uma criança trocada, muito chorona e birrenta, que, segundo as lendas e crenças supersticiosas, havia sido trocada pelo povo das fadas, uma população mística que vivia escondida nas sombras do mundo. quando era pequena, sua mãe, completamente fora de si pelo alcoolismo e pelas ações da filha, decidiu abandoná-la em um lago. enquanto effy flutuava sozinha na água, o rei das fadas ? uma figura importante para a superstição sulista e personagem central do livro mais famoso de myrddin ? apareceu para ela e estendeu a mão. a mãe de effy, arrependida, voltou a tempo de puxá-la para fora do lago, mas não antes de o dedo anelar da menina ser congelado e atrofiar. as "alucinações" de effy e o medo do que pudesse estar nas sombras começaram ali, e desde então, ela sempre carrega o frasco com as pequenas pílulas.
enquanto preston trabalhava em sua tese e effy tentava se concentrar no projeto de reforma da mansão em ruínas, os dois universitários se encontraram tanto no interesse de descobrir a verdade quanto no interesse um pelo outro, mesmo que a pressão de ianto ? que era completamente contra qualquer interação entre ambos ? tornasse tudo mais tenso.
effy e preston conseguem viajar para longe por dois dias, mas fugir de hiraeth parece impossível, e, antes que percebam, estão de volta ao controle de ianto e aos mistérios e perigos que rondam a mansão no topo de um precipício prestes a ceder pela força das ondas do mar, que diariamente se chocam contra a fundação da casa.
o livro termina revelando o verdadeiro myrddin que effy não gostaria de ter conhecido, assim como mostra que ianto já não era quem dizia ser. talvez effy não fosse completamente maluca, como pensava, e talvez preston tenha que abrir mão de seu ceticismo em relação às superstições sulistas. afinal, a personagem principal do livro, a famosa angharad, cujo nome dá título à obra, basicamente surge como fantasma.
?tudo parecia um terrível golpe do destino, um tapa na cara, pessoal e malicioso.?
mesmo que as descrições longas sejam cansativas e quebrem o ritmo da leitura, o livro é bem escrito e, até certo ponto, fluido. ava reid escreve de maneira envolvente os momentos românticos, assim como sabe construir capítulos de tensão muito bem. a introdução de effy na faculdade não apresenta a dinâmica mais rápida que a história passa a ter no desenvolvimento. confesso que o clímax foi bem óbvio desde o começo, mas mesmo assim não deixou a desejar.
achei effy meio boba demais para a idade dela, já na faculdade, tendo recebido a maior nota do "vestibular", mas entendo que seja difícil manter um senso crítico aguçado quando você vive com medo do que pode estar te observando das sombras e quando tudo que você escuta é que desde sempre você foi uma menina desequilibrada e não confiável. sobre preston, realmente só tenho elogios. é um jovem adulto mais responsável do que a maioria dos homens do livro se apresenta ser, mas acredito que seja pela criação e também pelo trauma da morte de seu pai (que não é um spoiler por si só, pois ele fala disso em uma de suas primeiras conversas com effy). preston foi uma exceção nesta distopia que ava criou, em que os homens do livro são ainda piores do que os homens da vida real. mas amei que a autora fez com que ele cumprisse a promessa para effy de protegê-la, independentemente do que acontecesse
?eu não tenho medo de me importar com você."
por fim, sinto que vale dizer que me decepcionei com a falta de "fantasia" neste livro de fantasia. por boa parte da história, nem sabemos se o povo das fadas ou o rei das fadas é real e, sinceramente, senti falta dessa magia antiga que é citada tantas vezes. os artefatos de proteção contra o rei das fadas, como o freixo da montanha, o ferro, e até as pedras da bruxa, são interessantes, mas não têm utilidade para o leitor por boa parte da história.
para mim, não foi um livro que me deu aquela vontade de não parar de ler. na verdade, enrolei bastante para pegar o livro durante os dias de leitura e basicamente me forcei a sentar e ler. mas, quando me propunha a estar entregue à leitura, tudo fluía naturalmente e era até difícil parar de ler. sinto que se eu não tivesse chegado ao livro com a expectativa de que fosse uma grande fantasia, teria gostado muito mais.
neste momento, foi um livro de três estrelas, mas que fica no meu coração com um sentimento bom.
"queria dizer ?não acredito em você?. e também ?obrigada?. e então ?me conte mais sobre quem eu sou porque não sei mais?."