Mariana 23/07/2024Foi lindo ver como a Tia explorou a solidão e inseguranças de pessoas negras de uma formação tão lúdica. Que mesmo sendo ?vencedores?, em um mundo com os olhos de quem está de fora e completos ?perdedores? dentro de si mesmos é um com o outro, como os próprios protagonistas dizem: pessoas quebradas.
Acho que o romance em si é apenas um detalhe, porque o que é trabalhado individualmente com cada um dos protagonistas é muito mais denso, por exemplo, Genevieve nega suas próprias origens se escondendo de si mesma e escondendo a si do mundo por seus personagens e puro comodismo, pelos traumas vividos (trabalhados com muito custo ao longo de muitos anos) e insegurança do que virá, que se protege atrás de seus personagens e a pequena rede de apoio que tem.
O Shane é outro, tomado pela culpa, acredita ser indigno do mínimo que um ser humano de vê ter: amor, família, Porto Seguro. Ele se blindou tanto que essa excentricidade, por quem apenas assiste, é admirável: um dos nomes mais famosos da literatura é um mistério.
Louco isso né? As pessoas enxergam da gente o que queremos que elas enxergem. No caso de Eva e Shane, só conseguimos ter essa desconstrução quando somos gradativamente introduzidos ao passado, como certas decisões de 15 anos atrás refletem no adulto que se tornaram. A forma com que passado e presente se cruzam foi muito bem elaborada, sem confundir o leitor e apresentas no momento certo.
Pode parecer que não, mas a maturidade da Audre, uma garota de 11 anos é o brilho e ponto fora da curva no meio de dois adultos temerosos. Uma garota de 11 anos é um alicerce. Muita responsabilidade? Sim, mas apresentada como um alivio cômico com um leve (ou nem tão leve assim) convite à reflexão. Me apaixonei pela complexidade do cérebro dela.
*spoiler(?) abaixo*
O mais interessante, pelo menos pra mim, é que assim como a vida, não tivemos um felizes para sempre. Mas o reconhecimento de suas limitações particulares para um tratamento adequado que possibilite (ou não, fica o questionamento) de formar um conjunto. Nada é perfeito em uma super velocidade, sejam 7, 14 dias ou 15 anos, existe todo um processo para que isso aconteça e vê-lo sendo construído foi lindo.