maria.e.sousa.7 10/05/2024
Vertiginoso, de fato!
Vertiginoso é um adjetivo geralmente associado ao livro de Jeovanna Vieira e sim, ela cria uma narrativa vertiginosa de ler e para ler, porque começamos e não queremos mais largar essa estória, até chegar ao seu final.
Com capítulos curtos e ligeiros, imprime um ritmo dinâmico, ágil e intenso à leitura. No desenrolar da estória, ela vai e vem na linha do tempo, rememora, reconta... tece, costura e mescla as lembranças com o que está vivendo no momento presente, imprimindo fluidez e dinamismo ao que é contado.
Um livro difícil, doloroso, desconfortável, mas ultra necessário, que descreve uma relação interracial com um indivíduo narcisista: Virgínia é uma mulher negra bem-amada pela família (embora tenha crescido com pai ausente/desconhecido), inteligente, e muitíssimo bem-sucedida profissional e financeiramente. Mas cai na teia insidiosa de um ator estrangeiro, um Narcisista Vulnerável, que usa sua história de vida com a mãe abusiva como cartão de visitas. O sujeito está no ponto cego mais obscuro de Virgínia, que fica completamente fascinada e hipnotizada por ele.
Conforme acompanhamos o desenrolar desse romance abusivo, a angústia se acumula, porque é uma história conhecida demais, comum demais e percebemos que muitas de nós já estiveram lá nesse lugar tenebroso, sujeitadas pela paixão ao fascínio por essa serpente sedutora do narcisista/manipulador. Pode acontecer com qualquer uma de nós; qualquer pessoa – mais notadamente com mulheres – que não tenha uma autoestima saudável, uma estruturação emocional forte e equilibrada. E mesmo uma mulher/pessoa emocionalmente saudável não está isenta de cair na teia de um parceiro narcisista, pois todos temos nossos pontos cegos. O resultado pode ser aniquilamento psicológico, do qual é muito difícil se recuperar depois. Em casos mais trágicos até mesmo morte – vide os altos e nefastos índices de feminicídio no Brasil e no mundo.
Com a sua narrativa intensa e brutalmente honesta, Jeovanna nos presta um grandissíssimo serviço de observação e reconhecimento dos sinais que esse tipo de relação tóxica e abusiva vai mostrando ao se construir. E assim ela nos ajuda a ficar atentas e observar tais sinais, para podermos pular fora antes que seja tarde demais - Destaque para o "Violenciômetro" que ela traz ao final: uma verdadeira pérola a se observar!
De brinde, ainda ganhamos a ambientação nas cidades maravilhosas de Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, além da homenagem à cultura afro através das festas, celebrações e costumes descritos em algumas passagens.
Que estreia formidável, Jeovanna! Que seja somente o primeiro de muitos!
Parabéns e muito obrigada!
Ganhei da NetGalley/Companhia das Letras! Muito obrigada!
4/5 - Excelente!