Mandyavanna 31/10/2024
"Família é isso, um lugar onde lhe dão teto e comida em troca de você ficar presa com um punhado de vivos e outro de mortos."
A casa em sua essência era feita de sombras, sombras de mortos que se misturavam em sua construção, permeando pelos cômodos e mobília como algo viscoso sempre espreitando seus movimentos.
Se arrastavam e espreitavam em cada andar, cada corredor, cada cortina, em todo cantinho possível onde pudessem se esconder.
Por mais que se rezasse elas não iam embora, pelo contrário, cresciam.
Rezavam às santas mas nunca pediam ao anjos, afinal, elas já os viram e eram seres assustadores que as vigiavam pelas janelas do sótão...
Com o tempo perceberam que as sombras poderiam ajudá-las, mas será que estavam dispostas a pagar o preço? Estar presas para sempre naquela casa já não era tristeza o suficiente?
Cupim vai muito além de uma história sobre casa mal assombrada, é um comichão que vai dando na cabeça e que vai aumentando, aumentando te ensandecendo aos poucos até não ter mais retorno.
Ele é muito mais do que uma história de terror, ele é um grito de indignação ante ao descaso e asco que a burguesia trata "seus inferiores". É aquele sentimento de revolta ao perceber que nada muda e que se não tentarmos quebrar esse ciclo
ficaremos presos num vórtex de frustração, discriminação e injustiça social.
A atmosfera de terror do livro é sensacional. Não é aquele terror explícito, mas pequenas nuances de que a casa está ali sempre na espreita observando, esperando. Seja em pés saindo por de baixo da cama, o medo de abrir panelas e encontrar alguém lá e até mesmo nos sussurros em seu ouvido ou em estrondos que a casa faz quando se esta inquieta com algo.
A sutileza com que a autora escreve tais cenas pega o leitor de surpresa, ja que demonstra o quão familiarizados com esses espectros as personagens estão, me trazendo acreditar que se eu abrir um armário ou olhar atrás de uma porta também encontrarei algo.
Esse livro se tornou um dos meus favoritos. Não apenas por ser uma história de terror, mas de mulheres que usam suas crenças, vivências e fé para tentar quebrar um ciclo de opressão não só familiar mas de servidão.
Nota: 5?