camllaaaaaa 26/10/2024
Depois que li 'O Iluminado', fiquei numa ressaca literária horrível. E olha que até li bons livros depois, mas não me senti de fato conectada com a história de nenhum deles. Senti falta de uma leitura que me prendesse de verdade, sabe? A página do Stephen King Brasil que eu sigo recomendou 'Cupim' e fiquei curiosa. Comecei a ler sem muitas expectativas e, como é um livro curto, decidi dar uma chance enquanto meus outros livros não chegavam (viva Prime Day!).
E, juro, que ótima surpresa foi essa indicação! A obra conta a história de uma família que vive numa casa mal-assombrada. Vozes surgem do nada, santas aparecem, pessoas desaparecem e vultos se manifestam. Aos poucos, vamos descobrindo o que aconteceu ali e por quê. A neta e a avó narram os acontecimentos, e a descrição do livro diz muito bem o porquê das sombras desse lugar "crescerem como um cupinzeiro diante da injustiça social."
Gosto da forma como a escrita é quase falada; chega a ser poética. A pontuação (e a falta dela) dita um ritmo muito específico que, logo nas primeiras páginas, você já se acostuma e passa a gostar. É engraçado porque, até a metade do livro, você se sente meio perdido com os acontecimentos. As coisas não são mastigadas; você tem que ir entendendo, pois em nenhum momento a escritora vai pegar na sua mão e explicar tim tim por tim tim toda a situação. Eu lia e voltava às páginas para recompor as cenas e montar toda a narrativa.
Algo que também me chamou muito a atenção é que esse livro é definido como um horror feminista. Gostei bastante da explicação do conceito que achei numa matéria da Galileu: em poucas palavras, é a história assustadora que se constrói a partir de um acerto de contas de personagens femininas. Esse acerto, no geral, tem a ver com diversos tipos de abusos e desigualdades. É a ficção como último refúgio para reagir a uma realidade que, apesar da crescente militância e das políticas públicas adotadas nos últimos anos, continua essencialmente hostil ao gênero feminino.
Acredito que esse livro seja a melhor ilustração possível para o horror feminista. Você se revolta com a neta, a avó e a casa, que também é uma baita personagem. Eu realmente senti com elas todo o ódio. Enfim, é um livro muito, muito bom.