Desinformação

Desinformação Dan Ariely




Resenhas - Desinformação


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Thaisdv 03/09/2024

Vivemos na era da informação e somos bombardeados constantemente por notícias, vídeos e mensagens, muitas das vezes com conteúdos enviesados fazendo as pessoas acreditarem em fake news, teorias da conspiração e outras coisas irracionais. Neste livro, o autor Dan, através de muitas pesquisas e experiências pessoais, nos mostra como as pessoas agem e pensam de forma irracional que se torna praticamente impossível argumentar com as pessoas que querem acreditar no que já acreditam e são tomadas pelo ódio.
No início do livro, o autor relata como o seu nome foi equivocadamente ligado à pandemia do covid-19, e a partir disso, muitos de seus seguidores mais carismáticos, começaram a lhe bombardear com ódio, sendo que não lhe permitiam brechas para explicações. Após toda essa situação embaraçosa, Dan ficou muito intrigado com toda repercussão negativa envolvendo seu nome baseado em desinformação, que decidiu mergulhar nesse universo e estudar a fundo buscando responder o que acontece quando uma pessoa aparentemente racional começa a cogitar, adotar e então defender crenças tão irracionais?
Este fenômeno abordado é entendido como negacionismo. Uma lente distorcida pela qual as pessoas começam a enxergar o mundo, refletir sobre ele e, a partir daí, descrevê-lo para os outros. Também é um processo, tipo um funil que vai puxando as pessoas cada vez mais para o fundo, que o autor chama de funil da falácia. O objetivo é mostrar como qualquer um, sob determinadas circunstâncias, pode acabar caindo nesta armadilha. A natureza das teorias da conspiração tem a ver com conexões, redes ocultas de causa e efeito, relacionamentos secretos e alianças dedicadas a causas obscuras. Então não é de surpreender que as próprias teorias tenham tendência a se misturar e se entrelaçar.
O funil da falácia é um fenômeno incrível e complexo. As pessoas começam com um conjunto de opiniões e crenças, entram no funil e saem com outro conjunto bem diferente. O funil da falácia pode ser dividido em elementos emocionais, cognitivos, de personalidade e sociais.
Elementos emocionais: seres humanos são criaturas emotivas. As emoções tendem a preceder as crenças e costumam ser as principais impulsionadoras das nossas ações. Como afirma o psicólogo social Jonathan Haidt: “As intuições vêm em primeiro lugar, e o raciocínio estratégico, em segundo.” Em outras palavras, começamos com uma reação emocional intensa e só depois encontramos uma explicação cognitiva para ela. No funil da falácia, os elementos emocionais giram em torno do estresse e da necessidade de mantê-lo sob controle, o que cria as condições para que os outros elementos entrem em ação.
Elementos cognitivos: a mente humana tem uma capacidade imensa de raciocínio, mas isso não significa que ela é sempre racional. Quando somos motivados em uma ou outra direção, o viés de confirmação surge com tudo e nos leva a buscar informações que superam a necessidade independentemente da sua exatidão, ou seja, construímos narrativas para chegar às conclusões que queremos. Não é apenas a forma como pensamos, e sim a forma como pensamos sobre nossos próprios pensamentos que nos causa problemas à medida que nos distanciamos da realidade.
Elementos de personalidade: nem todos os seres humanos são predispostos ao negacionismo. Certas personalidades são mais propensas do que outras a adotar falsas narrativas sobre o mundo.
Elementos sociais: o negacionismo não se desenvolve nem prospera num ambiente isolado. Forças sociais poderosas incentivam as pessoas a mudar de opinião, as levam por caminhos específicos, as mantêm próximas a outros negacionistas e até aceleram o apego a uma crença. A sensação de pertencer a um grupo é muito atraente. Redes sociais alimentam a bolha da informação, e a moeda social de curtidas e reações alimenta a sensação de ser um membro. No funil da falácia, os elementos sociais são os componentes que selam o acordo e fazem com que escapar seja muito difícil.
Observar o negacionismo pela lente da desconfiança nos ajuda a entender como as pessoas se aprofundam cada vez mais em uma determinada distorção da realidade. Também nos ajuda a compreender por que falácias atraem outras falácias, mesmo parecendo que não tem conexões. Desconfiança gera desconfiança, e é em parte por isso que a rede de desinformações tem tantos pontos inesperados de conexão.
O estresse é uma força poderosa na vida de todo mundo, então é importante observar que, quando se trata de negacionismo, o estresse não determina tudo. Ele é um dos elementos emocionais que, junto com outros, pode aumentar essa probabilidade. Em geral, os seres humanos não lidam muito bem com o estresse imprevisível. É sabido que fatores estressantes inesperados podem acontecer, mas não esperamos que de fato aconteçam com a gente e quando acontecem, geram uma sensação muito forte de desamparo. Quando sofremos um estresse recorrente sobre o qual não temos controle, nos tornamos menos propensos a tomar uma atitude e menos capazes de pensar em soluções. Acabamos nos sentindo pior sobre a situação.
O estresse nos passa a sensação de que tudo está fora do eixo e de que não há como saber o que virá em seguida. São sentimentos extremamente desconfortáveis. Um dos motivos para o acúmulo de estresse é que não somos bons em identificar as fontes de emoções em geral, principalmente o estresse. E isso gera a atribuição errônea de emoções. Quando vivenciamos uma emoção, não necessariamente sabemos de onde ela vem e podemos atribuí-la a coisas diferentes dependendo das circunstâncias e as vezes erramos. Compreender esse mecanismo pode ser útil de várias formas. Primeiro, é útil saber que quando sentimos estresse, principalmente acumulado de várias fontes, podemos associá-lo ao motivo errado, o que pode nos levar a tentar aliviá-lo da maneira incorreta. Em segundo lugar, podemos usar a atribuição errônea de emoções em benefício próprio. O estresse literalmente dói. E, quando sentimos dor, pensamos e nos comportamos de um jeito ainda mais prejudicial.
A sensação de injustiça predomina entre os negacionistas. Quando você se convence de que está em desvantagem, isso significa que alguém está se dando bem às suas custas. Enquanto você sofre uma dificuldade imensa, alguém está escapando ileso, bem como, se você não tem o controle sobre a situação, esse controle deve estar nas mãos de alguém. E quando não conseguimos dominar ou combater o estresse, quando nos sentimos impotentes somos impulsionados a buscar uma forma de alívio emocional. E como podemos reduzir o desconforto do descontrole de maneira relativamente simples? Encontrar explicações para o caos e encontrar alguém para levar a culpa. Não importa se as explicações são corretas ou mesmo verdadeiras. Só precisamos que elas nos tragam conforto. A busca por vilões é um triste efeito colateral da maneira como nosso sistema psicológico lida com o estresse e com o medo.
Por que as teorias da conspiração são tão complexas? Talvez possamos concluir que isso ocorre sem querer, porém partindo de um viés psicológico podemos tentar compreender quais seriam as possíveis vantagens emocionais associadas a tamanha complexidade. O viés da proporcionalidade é a ideia de que, ao depararmos com um grande evento, partimos do princípio de que ele deve ter sido causado por algo grandioso. Outro motivo psicológico é o desejo de ter um conhecimento especial, de forma que, esse conhecimento alivia parte da sensação de impotência e de estar à mercê de forças ocultas e, com frequência, negacionistas se sentem um pouco excluídos da sociedade, nesse caso, possuir um conhecimento especial oferece uma sensação de controle e superioridade.
A indignação moral é diferente do ódio normal, por exemplo, quando uma pessoa expressa indignação moral, ela se coloca num patamar superior, saindo de crítica e passando para uma integra defensora da justiça e da moralidade e também, a pessoa pode estar demonstrando sinalização de virtude, quando mostra que ela é tão ética que fica indignada quando os outros não alcançam seus padrões de moralidade. A expressão da indignação moral elimina qualquer possibilidade de perdão, depois que alguém se torna moralmente censurável, não há como se redimir.
Quando muitas pessoas aparecem com relatos próprios para confirmar uma história, as chances de a alegação ser aceita como verdadeira aumentam, isso é chamado pelos cientistas de prova social. A questão aqui não é duvidar de todas as crenças, o autor quer mostrar que nós contamos com atalhos para lidar com a complexidade do mundo saturado de informações. Não dá para revisarmos todas as nossas opiniões o tempo todo. Por isso nos apegamos a crenças básicas para proteger nossa sanidade da tempestade de dados que encontramos. Essas crenças básicas funcionam como um mecanismo de defesa, nos impedindo de vagar pelo mundo achando que não temos a menor ideia do que está acontecendo e assim acabamos ficando mais inflexíveis em nossas opiniões.
Todos os dias nossos comportamentos e escolhas são orientados por crenças que adotamos, mas que talvez não questionamos nem pesquisamos com tanta frequência. A pesquisa tendenciosa, é qualquer tipo de pesquisa que revele apenas parte do universo de informações disponíveis. É claro que é difícil imaginar uma pesquisa perfeita, sem qualquer tipo de parcialidade, devemos questionar o quanto a pesquisa é enviesada. Quando se trata do negacionismo, a pesquisa tendenciosa costuma se basear no que chamamos de viés de confirmação. Trata-se de uma pesquisa tendenciosa que começa com uma hipótese e busca apenas as informações que a confirmem, rejeitando ou ignorando tudo que possa contradizê-la. A tendência humana de buscar por evidências que sustentem uma hipótese em vez de refutá-la. O viés de confirmação não se resume a como procuramos por informações, ele também nos motiva a interpretá-las de modo a confirmar ou sustentar crenças ou valores preexistentes e a evitar ou ignorar informações que possam desafiar tais crenças e valores.
Vemos as coisas da maneira que queremos ver e bolamos argumentos muito bons para justificar nossas opiniões. Utilizando o termo da ciência cognitiva, todos nós praticamos o raciocínio motivado, que é a tendência a moldar a realidade ao nosso redor para que ela se encaixe na realidade que desejamos. A aversão à solução é basicamente quando não gostamos da solução proposta para um problema, usamos o raciocínio motivado pra negar que ele existe. Se quisermos mudar a opinião das pessoas, precisamos entender com mais detalhes o motivo por trás de sua resistência. O efeito Doning-Kruger se baseia na observação de que nosso conhecimento e nossa confiança nesse conhecimento não necessariamente são equivalentes, ou seja, quando não sabemos muito sobre um tema específico, costumamos saber que não sabemos, e quando sabemos muito, costumamos saber que sabemos. Só que quando estamos no meio do caminho, sabemos um pouco sobre o assunto, mas nem tanto assim, costumamos achar errado o quanto realmente sabemos.
O objetivo é perceber o problema mais geral do excesso de confiança. A discrepância entre o que achamos que sabemos pode ser perigosa. E muitas vezes tomamos decisões que não se baseiam em nosso nível real de conhecimento e habilidade, mas na percepção que temos do nosso conhecimento, e isso pode nos levar a sofrermos com as consequências.
O cérebro é um órgão que encontra sentido para as coisas e busca padrões o tempo todo, o que faz com que todos nós os enxerguemos. Só que, quando sentimos que perdemos o controle, a mente se esforça ainda mais para encontrar padrões e nos ajudar a entender o mundo, mesmo que esse entendimento seja uma fantasia. A dissonância cognitiva é o desconforto que sentimos quando nossas crenças entram em conflito com nossos comportamentos, bem como as maneiras estranhas como lidamos com esse desconforto.
No processo de melhorar nosso ambiente físico, tornamos a nossa vida muito mais interessante, aumentamos a nossa expectativa de vida,mas também tornamos a nossa existência mais complexa. Como consequência, agora somos obrigados a sobrecarregar nosso sistema cognitivo de um jeito nunca feito por seres humanos. A vida moderna é incrível e deveríamos nos sentir privilegiados todos os dias por vivermos nessa época. Mas também devemos reconhecer que o ambiente moderno aumentou muito a complexidade das decisões que precisamos tomar todos os dias.
Hoje a desinformação não é apenas um equívoco que pode ser solucionado com informações corretas, mas como uma inverdade corrosiva que pode mudar profundamente uma pessoa, muitas vezes para sempre. E isso é uma ameaça real à nossa capacidade de nos unirmos para solucionar os grandes desafios que nos assolam. Esses desafios parecem ser grandes e aterrorizantes demais para serem enfrentados, porém a humanidade se aprimorou de muitas formas e já conseguiu superar muitos obstáculos. E por fim, entender um pouco e ter empatia com a forma que as pessoas pensam pode nos deixar um pouco mais otimistas em relação ao futuro.


site: https://medium.com/@thaisdovalle94/resenha-desinforma%C3%A7%C3%A3o-dan-ariely-dd3ff1f782c0
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Pagliuca 03/08/2024

Resolvendo a desinformação sobre a desinformação
Como alguém consegue escrever um livro tão leve depois de passar por tanto perrengue e ainda por cima conseguir nos orientar com tanta empatia por todos?
Desinformação me fez ter ainda mais certeza que precisamos mesmo calçar os sapatos dos outros para podermos ter uma humanidade melhor.
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Knots 12/07/2024

Tanto entender como falhamos!
Excelente livro que descreve de forma detalha como um ser consegue adentrar em lugares obscuros!
Com a didática do Funil da Falácia, o autor consegue demonstrar em palavras o que sentimos ao ver pessoas reproduzirem informações erradas como se fossem super-heróis ou desbravadores da verdade escondida!

No fim do livro, o que eu tenho como aprendizados, e que falta é acolhimento nos núcleos familiares que segregam e não há diálogo construtivo sobre tudo.

A falta confiança nos indivíduos e na sociedade em geral faz a pessoa adentrar no submundo dos seus pensamentos de perseguição e consequentemente entrar em grupos que valorizam o que pensa!
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Alexandre249 03/07/2024

Muito esclarecedor mas....
Achei cansativo.
A obra traz um repertório amplo para o entendimento do comportamento negacionista. Analisando cada um das camadas sociais, pessoais e comportamentais o autor traz um olhar interessante sobre a questão da desinformação.
Obra atual, recomendo a leitura, mas pessoalmente achei que a mensagem foi passada mas depois muito detalhada. Essa forma de apresentar o conteúdo me pareceu cansativa.
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Alípio 17/06/2024

Para entender
Ler esse livro tem sido bom para entender porque tem tanta gente que ainda acredita no socialismo e ainda o prega, usando das mais absurdas falácias não só para enganar os outros, mas para enganar a si mesmo.
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