Jenipapo Western

Jenipapo Western Tito Leite




Resenhas - Jenipapo Western


5 encontrados | exibindo 1 a 5


jota 06/10/2024

BOM: E não sobrou quase ninguém para contar o resto dessa história de violência e vingança
Jenipapo Western, esse título é curioso. Mistura uma fruta das Américas Central e do Sul, um tanto comum no nordeste brasileiro, com um gênero de filme bastante difundido no cinema desde sua invenção, mas nem tanto hoje.

A capa se assemelha ao cartaz de um faroeste americano dos anos 1950-1960, por aí, passado em Monument Valley, no sudoeste norte-americano e nem um pouco à paisagem do nordeste brasileiro, da caatinga, do sertão.

Porém, com toda a sua vermelhidão a cobri-la, consegue fazer o leitor se lembrar também de algum spaghetti western do diretor Sergio Leone, daqueles bons tempos do vasto e rico cinema italiano.

Naquele tempo, num filme desse gênero, tinha tanto tiroteio e mortes e sangue que a tela do cinema parecia se encher de molho de tomate. E o que não falta em Jenipapo Western são mortes violentas, provocadas por outras mortes que ficam a exigir vingança agora.

E tudo se transforma numa violenta espiral que tinge a terra seca do nordeste de vermelho sanguinolento. É família contra família: Palmares, os ricos e aliados do delegado local, e Trindade, os pobres, que vivem quase que ao deus-dará, cultivando algodão.

São vantagens dessa leitura: a história é curta, os capítulos são curtos, as frases são curtas. E, para combinar, também as vidas são curtas. Quase não sobra ninguém para continuar a história dessas duas famílias que se odeiam, uma explorada e outra exploradora.

Esse ódio todo também lembra um pouco, pelo título, aquele violento e ótimo western de Quentin Tarantino, Os Oito Odiados... Então o tempo todo é, como diz um personagem, “olho por olho e dente por dente.”

Ódio e violência é assim, uma espécie de ponte entre Tarantino e o livro de Tito Leite e os spaghetti western. Que aqui vira não caju ou cajuína, mas jenipapo.

Penso que o livro atinge seu pico quando o “sonhador” Ivanildo, irmão gêmeo de Sandro, busca vingar não apenas a morte deste, depois também de Gil, outro irmão assassinado pela família que manda na cidadezinha de Jenipapo. (Na sequência a história já não me agradou tanto assim.)

Jenipapo vive da cultura algodoeira, não da criação de gado ou busca por ouro, como ocorreu no Velho Oeste. Não tem saloon com pianola, mas tem o Bar das Calcinhas, “o puteiro de Dora”, como é conhecido o estabelecimento na cidade. E em vez de uísque, toma-se muita cerveja.

É em quase tudo parecida com outra cidadezinha da região, Dilúvio das Almas, que é o livro anterior de Tito Leite, muito bom. Mais interessante e com menos personagens do que este Jenipapo Western. Ótimo mesmo.

Lido entre 23 de setembro e 04 de outubro de 2024.
comentários(0)comente



Alexandre Kovacs / Mundo de K 12/05/2024

Tito Leite - Jenipapo Western
Editora Todavia - 152 Páginas - Capa: Giovanna Cianelli - Lançamento: 2024.

Tito Leite consolida um estilo que conquistou muitos leitores a partir de "Dilúvio das almas", seu romance de estreia, finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2023. Estilo no qual as frases são curtas e os diálogos essenciais, lembrando Graciliano Ramos (1892-1953), nem uma palavra a mais ou a menos, cortante e direto ao ponto como o sertão nordestino. Na cidade fictícia de Jenipapo, a lavoura de algodão, fonte de sustento da população, é controlada por alguns poucos compradores que impõem os preços do produto, perpetuando as condições de injustiça social. No entanto, a exploração e os desmandos forçam os personagens a se organizarem para sobreviver com dignidade.

Ivanildo é considerado um sonhador na família Trindade e desafia os poderosos locais quando planeja e executa com seus irmãos um plano que tem como base o aluguel de um caminhão e a venda do algodão em usinas localizadas em cidades próximas. O sucesso da empreitada influencia outros agricultores da região e não tarda a represália violenta que resulta em um atentado contra Ivanildo que acaba atingindo, com duas balas nas costas, o seu irmão gêmeo Sandro, justamente o mais conformado com a situação na cidade. O covarde assassinato dá origem a uma espiral de violência e sequência de revanches que envolve todos os integrantes da família Trindade, jurados de morte.

"O sertão é por um fio. Insetos, folhas, raízes e formigas em volta da terra. Tudo tão seco e ao mesmo tempo inteiriço. No sol escaldante, uma flor luta e sobrevive. Mesmo trincada, a vontade de vida insiste. Na cidade de Jenipapo, tudo é quebradiço, a moeda de troca circula nas lavouras de algodão. Plantam, colhem e se submetem aos três compradores. Não há banco na cidade. Roberto, um dos usineiros que começou como intermediário, disponibiliza o dinheiro e as sementes de baixa qualidade. O pagamento vem com as futuras safras do ouro branco. Um santo mártir, no momento de sua morte, certa vez falou: 'Serei trigo nos dentes das feras'. Um pouco isso, o que acontece, as pessoas são trituradas e ainda agradecem, sorridentes. Elas vendem o fruto do seu trabalho praticamente de graça e esbanjando contentamento, como se a compra fosse um gesto altruísta." (p. 9).

A novidade neste verdadeiro western nordestino é que a prosa lírica de Tito Leite, um autor que também sabe utilizar a poesia como forma de expressão, está associada às cenas de ação em uma linguagem seca – mas também cinematográfica –, que prende a atenção do leitor e cumpre o seu papel de denunciar a desigualdade social ainda tão presente em nosso país. Todos os homens e mulheres da família Trindade, cada um com suas próprias fragilidades, não têm alternativa que não seja escapar do papel de vítimas e se transformarem também em assassinos, ou uma improvável mudança de status, de oprimidos para opressores que, contudo, cobrará o seu preço em vidas.

"Caminha pelas ruas poeirentas que fedem a bosta de cavalo e onde ninguém puxa assunto. Neste momento ele é um afastado. Não por vontade, mas pela indiferença dos habitantes de Jenipapo. Os olhos ardem quando vê a igreja. Sente desejo de jogar uma pedra e perguntar pelo silêncio de Cristo. A porta estava fechada. Então, Ivanildo pensa: 'até Deus fechou a sua casa para mim'. Na frente da igreja, uma pracinha. Há quinze anos, foram fazer uma nova construção e encontraram ossos. Desistiram de cavar os alicerces. Na verdade, desistiram da própria memória. De acordo com alguns relatos, o local, antes de transformado em pracinha, era o cemitério onde se enterravam índios e vítimas de pestilências. A região foi primeiramente dos índios, depois dos coronéis e da igreja. Ali também foram enterrados os suicidas, considerados a escória da cidade. Era o cemitério dos malditos, de homens e mulheres que viviam à margem. O sepultamento, que deveria ser um rito de passagem, também era uma forma de condenação pública. Em Jenipapo, nem os mortos dormem placidamente. Alguns expiam velhos pecados." (p. 62)

Como Ivanildo logo percebe, a morte é o espetáculo principal em Jenipapo: "O anoitecer final de sua vida pode ser a qualquer instante. No sertão a morte é precoce." Tito Leite escreveu um romance realista com formato de bangue-bangue que nos mostra como a resolução de conflitos no interior do país ainda obedece uma primitiva sucessão de agressões e revanches. Regiões nas quais o controle das instituições legais e o cumprimento da justiça são dependentes do poder econômico.

"Ivanildo espera o usineiro olhar assustado para o seu rosto. Respira fundo e dispara o que tinha na agulha. Os passageiros gritam, o motorista para imediatamente. O sonhador desce do ônibus, caminha um minuto, respirando, respirando como se estivesse soprando num fogão de lenha para o fogo dançar. Desamarra seu cavalo e some feito fumaça que se esfuma. Agora, ele sabe que não é o mesmo. Pensa que uma parte dele é bruta, qual Rodrigo. Outra parte é bicho solto, feito Gil. A insustentável vida numa cidade-estábulo e a brutalidade do sol não são nada se comparados à injustiça de um tiro nas costas. O dia de seu fim, não tem como saber, apenas que não demora. Nesse tipo de vida morrer é depressa. A partir de hoje, todos os dias em que lavar o seu rosto lembrará do que é. Essa será a sua multa diária." (p. 79)

Sobre o autor: Tito Leite nasceu em Aurora, Ceará. Poeta e ficcionista, é autor dos livros de poemas Digitais do caos (Selo Edith, 2016) e Aurora de cedro (7Letras, 2019), além do elogiado romance Dilúvio das Almas (Todavia, 2022), finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2023​, categoria Melhor Romance de Estreia do Ano.
comentários(0)comente



@raissa.reads 27/08/2024

Em Jenipapo Western, Tito Leite nos mergulha na dura realidade do sertão nordestino com uma escrita que ecoa a brutalidade da região. O romance se passa na fictícia Jenipapo, onde a lavoura de algodão é controlada por figurões locais que perpetuam a injustiça social. Ivanildo Trindade, um sonhador que tenta mudar essa dinâmica ao vender algodão em usinas próximas, desafia o poder local e enfrenta uma violenta retaliação. O atentado contra ele, que resulta na morte de seu irmão gêmeo Sandro, desencadeia uma espiral de vingança que toma conta de toda a família.

Tito utiliza uma prosa seca e cinematográfica para criar uma narrativa intensa e envolvente. Vejo um filme ou novela claros em todas as cenas dos livros. Suas frases curtas e diálogos essenciais intensificam a sensação de urgência e tensão, refletindo a dureza e secura do sertão. O autor combina um estilo lírico com uma abordagem direta, oferecendo uma experiência de leitura visceral que expõe a cruel realidade das desigualdades sociais e a luta pela dignidade em um ambiente opressor.

A história busca por justiça e mostra que essa pode transformar os oprimidos em opressores, perpetuando um ciclo de violência e vingança. Jenipapo Western é uma poderosa crítica à perpetuação das desigualdades e à brutalidade das resoluções de conflitos no interior do Brasil. Eu gostei MUITO dessa leitura e recomendo demais para quem quer uma história diferente e que seja intensa e reflexiva. Vemos o retrato do interior do sertão e a discriminação dos “donos” dessas terras e de como as coisas são tratadas a sangue frio. Um verdadeiro faroeste sertanejo.
comentários(0)comente



MaClara041 27/06/2024

Jenipapo Western
Nota: 8/10

O conflito entre os Trindade e Palmares é de fato interessante e a escrita te faz ficar até o fim para saber o desfecho do confronto entre as duas famílias.

Cheguei até a imaginar o livro como uma novela/série de tão instigante e emocionante.

Sempre tenho receio com finais de livros, mas esse eu gostei. Não terminou de forma abrupta, ou completamente sem respostas. Recomendo!

"Quando perdemos o encanto com as coisas que amamos e que por elas lutamos um dia, o universo diminui."

"Isso porque o pensamento enquanto pensamento é também algo mágico."

"No sertão, as palavras têm peso, todas são julgadas como se fossem no dia do juízo final."

"Nem se tivessem sido feitas em caldo de cana com gengibre seriam tão doces."

"Há certos homens que com uma mulher de verdade se sentem frágeis como se ainda fossem crianças."
comentários(0)comente



Júlia Gam 25/08/2024

Jenipapo Western
Comecei a ler quando vi um projeto Lendo Nordeste indicando o livro para ser lido. Me interessei, pois tenho raízes perto de Aurora, CE.

Sobre o livro, ele é rápido de ler, mas confuso com os diversos personagens. Gostei bastante do livro, ler as palavras que vc escuta com frequência, num local onde vc conhece é um má experiência diferente.
comentários(0)comente



5 encontrados | exibindo 1 a 5


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR