Carla.Parreira 07/10/2024
Um outro olhar sobre a ansiedade: descubra as razões por que vivemos sempre ansiosos (Antonio Virgílio). Melhores trechos: "...A imaginação saudável provém da boa autoestima. Ela conduz ao esforço em busca dos objetivos e aceita a contrariedade como fato natural. Sabe que a vida é um jogo, em que se pode perder ou ganhar. Não há garantias. O pensamento mágico provém da imaturidade. Ele faz crer na sorte, às vezes leva à fuga ao esforço e transfere para causas externas todo resultado ruim... Se a percepção é fraca, motivo básico, a informação captada pela mente reativa não chega à mente analítica como deveria... Se você mantém algumas ilusões sobre si mesmo e mantém o próprio ego num elevado pedestal, sua mente analítica também vai ignorar recados vindos da mente reativa... Há ainda outra razão por que a emoção percebida pela mente reativa não completa o percurso até a mente analítica: você não amadureceu. É incapaz de suportar frustrações. No estado infantil de quem acredita serem injustas as exigências da vida real, você distorce a percepção dos fatos. Adapta tudo à sua comodidade. Não aceita a necessidade de esforço para chegar a algum objetivo. Aliás, até recusa ter objetivos para não precisar se esforçar. Também acumulará fracassos e igualmente não assumirá responsabilidade por eles... O pior é que sua percepção da realidade não só é incompleta como pode ser distorcida... Os sonhos, portanto, produzem símbolos que representam a sua realidade. Mas qual? Ora, a que está no seu inconsciente e é resultado de sua experiência de vida. Seus sonhos não são absolutamente etéreos. Por menos que assim pareça, eles têm origem em fatos que você viveu em algum momento... A ansiedade costuma jogar pedras em seu caminho. Você não vê as pedras, tropeça nelas e logo em seguida tropeça de novo. O ansioso não aprende a se desviar das pedras. Em outras palavras: comete o mesmo erro de modo compulsivo... A ansiedade começa no seu primeiro contato com o mundo. Sim, mal você nasce, a ansiedade começa a nascer também. Circunstâncias da vida familiar e, depois, do convívio em sociedade podem reduzi-la. Um novo ambiente, amigos ou alguma professora podem aumentar sua autoestima com palavras de incentivo. A ansiedade, então, diminui. Infelizmente, circunstâncias da vida também podem acentuá-la... Mas castigo ou ameaça eram a mesma coisa. Davam medo e pronto. Você tinha que obedecer. Quando se rebelava, usufruía da rebelião, mas lhe sobrevinha uma incômoda sensação de culpa. Essa gente que não lhe permitia fazer tudo o que desejava era vista como o mundo hostil. Você nunca usou essas palavras, mas sentia a hostilidade. Talvez tudo não passasse de um ponto de vista seu, apenas. Talvez a rejeição que sentia não fosse além de um equívoco de sua parte. Mas isso pouco importa. Se você se sentiu rejeitado, você foi rejeitado. Rejeição é um fato subjetivo, a realidade importa menos. Aquela que sentiu ficou gravada dentro de você para o resto da vida... Compulsividade e inconsciência caracterizam o estado de ansiedade. Voltemos a falar de você criança. Para sobreviver no ambiente que o contrariava e punia, fez o quê? Reprimiu os próprios impulsos e ficou bonzinho? Ou se revoltou, ficou sempre do contra e tornou-se um rebelde sem causa? Ou buscou uma terceira saída: afastou-se para um mundinho todo seu, isolado das pessoas? Seja qual for a “decisão” tomada, você temia o castigo se desobedecesse. Aprendeu a ter culpa – e as religiões, particularmente, reforçam isso... Para entender a sensação de insignificância, volte aos tempos de criança. É lá que surge a angústia básica, que é a 'sensação de desamparo e isolamento perante um mundo potencialmente hostil'. Aí começa tudo. No fundo, cada um de nós, agora adultos, é fruto da própria história e suas circunstâncias. Inconscientemente, você carrega pela vida afora essa angústia básica da criança e busca meios artificiais de superá-la. Forjar um eu idealizado é um desses recursos... A neurose começa com as leis inconscientes forjadas pelo eu idealizado. Se você for do tipo submisso, por exemplo, não terá consciência de que uma lei interior, inflexível, o manda agradar a todo mundo. Não sabe da existência da lei, mas obedece a ela e se envaidece por ser um bom menino. Mas isso o faz sofrer, pois o torna um eterno perdedor. Ninguém gosta de perder. Aí, para amenizar o sofrimento, você faz a mágica do eu idealizado: esquece que é submisso e exalta o amor que tem pelos outros. Orgulha-se disso e até se considera com uma superior capacidade de amar... Neurose é basicamente uma dificuldade nas relações pessoais, resultante da não aceitação da própria normalidade. O porquê da não aceitação difere de pessoa para pessoa e está sobretudo relacionado à história individual. Todos nós vivenciamos conflitos com o ambiente em que vivemos na hora de encararmos de frente o nosso eu real. Nesse sentido, você pode até dizer que, em geral, somos todos neuróticos... O psicótico não distingue realidade de fantasia. A realidade interior dele não confere com a realidade exterior. Se ele achar que é verde uma parede que sabemos ser azul, nada o convencerá do contrário. Diz-se que, para o psicótico, a soma de dois mais dois dá cinco, ao passo que o resultado continua sendo quatro para o neurótico – só que ele sofre por causa disso... Inibição costuma ser confundida com timidez, hesitação ou introversão. Todas elas podem andar juntas, mas, como você verá, trata-se de algo mais profundo. Guarde bem essa definição: inibição é uma incapacidade de pensar, sentir e agir. Essa incapacidade ocorre em todas as circunstâncias da vida de um indivíduo inibido? Não! Ocorre naquelas em que um determinado impulso está sendo reprimido... Proibido de se manifestar, o impulso é atirado à penumbra do inconsciente. Vai engrossar o superego. O indivíduo inibido vive uma anestesia que o empobrece emocionalmente e o afasta de certos momentos da realidade, como se essa realidade não existisse. Segundo um ditado popular, oportunidade é um cavalo que passa encilhado. Não para, não espera ser montado e segue em frente. Quem montou, montou, quem não montou, não monta mais. Inibição é não montar pelo fato de nem enxergar o cavalo... Infância não é só precedência cronológica. Infância é causa – e define a maneira como você hoje vê e sente o mundo... Ansiedade é fingir serenidade com uma espada de Dâmocles sobre a cabeça do eu idealizado. Para se proteger da espada, você se cobre inconscientemente com o elmo de falsas virtudes. Para prová-las, coloca-se em posição de vítima e hostiliza o mundo... Para você, amar implica ceder, fazer a vontade alheia, abrir mão de direitos. O amor que distribui não visa apenas o bem das pessoas. Visa especialmente desarmar a agressividade delas. Viver em ambiente pacificado, em que todos se amam e ninguém se agride, é seu grande sonho. Os animais, se não sabe, têm um natural circle of fear. Esse círculo de medo é uma área física que não pode ser invadida sem que provoque estresse e eles contra-ataquem ou fujam. É variável o limite do círculo de medo que cada espécie animal tem. Você também tem um circle of fear de caráter emocional, que não pode ser invadido. Mas você costuma permitir que seja. Não se defende. Seu problema de autoanulador é não impor limites, porque reprimiu a agressividade. Frequentemente a passividade diante da invasão do circle of fear causa depressão e você não entende por que ou de onde ela veio. Tende a acreditar mais na opinião alheia do que na própria... Sua escolha amorosa tende a recair sobre parceiro arrogante. Ambos se complementam. Caso haja uma doentia relação simbiótica, você pode chegar a viver através do parceiro ou parceira as emoções que reprimiu. A solução para toda essa autoanulação? Você terá melhor qualidade de vida emocional se e quando perder o medo de externar os próprios impulsos de agressividade. Eles não vão destruir o mundo, como imagina. Você precisa aprender que só o ódio constrói. A receita não serve para todos – não generalize –, mas é vital para você, autoanulador... Amar é mostra de fragilidade porque o torna dependente de alguém. Convenceu-se de que paixão nada mais é do que certo distúrbio da atenção. De modo geral, a hostilidade reprimida emerge na busca ou de poder, ou de prestígio, ou de posses. Na prática, as três tendências se mesclam em você – mesmo porque se alimentam mutuamente. Mas há sempre uma que predomina. A busca neurótica de poder começa, em geral, após tentativas na infância de obter afeto. Isso gerou ansiedade e agora você quer superar a sensação interior de desmerecimento... A busca de prestígio objetiva mascarar o sentimento de insignificância que inconscientemente o aflige. Para brilhar, você age com arrogância. Também humilha as pessoas – uma forma de vingança de humilhações que sofreu na infância. Ter sido pobre ao lado de parentes ricos ou discriminado socialmente, ter tido irmãos preferidos pelos pais ou ter sido ignorado por estes – tudo isso se torna pretexto para a vingança. Mas você tem medo de represália se humilhar alguém. Então, age com sutileza... Você vive encastelado, encolhido, fugindo das emoções e dos esforços de qualquer natureza. Todo esforço lhe parece antinatural e desperta em você uma surda revolta. Sua falta de ambição vem daí, em grande parte. Sua aparente serenidade não é virtude, tudo não passa de pura acomodação. Recusa-se a admitir os talentos que tem, para não precisar agir... Lembre-se de que você não nasceu resignado. Tornou-se assim, a partir de algum momento da vida. A causa pode ter sido uma educação muito rígida, que não lhe permitia expressar revolta. Então, você se excluiu emocionalmente da família para brincar sozinho. Expressou revolta por meio do afastamento, que o protegia do castigo. Mas pagou um preço alto: estancou sua capacidade de amar. O empobrecimento emocional que se instalou iria crescer paulatinamente. Liberdade é sua palavra mágica... Sua passividade diante da vida significa que você não sofre? Aí as aparências enganam: você sofre muito interiormente e se angustia. E não está só: todo neurótico sofre! As soluções que adota não são mais do que fuga à dor de entrar em contato com a própria insignificância... Mas a generalização, quando se torna um processo inconsciente, ganha outro nome: projeção ou identificação projetiva. A projeção vai funcionar, para você, como autodefesa contra os próprios impulsos destrutivos – ou subjetivamente assimilados como sendo inaceitável... Em sentido inverso ao da projeção, há o mecanismo de introjeção. Consiste em transportar para dentro de si, inconscientemente, convicções e pontos de vista alheios. Mas você vive convicto de serem originariamente seus... O mecanismo de negação frequentemente vem acompanhado de sintomas psicossomáticos. Não é raro surgirem taquicardia, suor, diarreia, vômitos ou vontade premente de urinar, entre outros. A negação costuma vir seguida de racionalização. Ao negar uma realidade incômoda, você busca uma justificativa para se convencer de que está no caminho certo – e passa a acreditar piamente na justificativa... Outro mecanismo de proteção do ego empregado com frequência é o da repressão ou recalque... Se você teve uma educação muito rígida, se sofreu humilhações na infância ou se foi invalidado com regularidade, é provável que tenha aprendido a reprimir a agressividade e hoje mal sabe se defender... Externalização acontece quando você trata como fato externo falhas e defeitos que possui. Julga que se passa fora o que, na verdade, faz parte de sua vida interior. A externalização não se restringe a fatores negativos: você joga para fora de si mesmo também sentimentos positivos... O prejuízo emocional da externalização está no fato de você, ao transferir a outrem sua vivência emocional, cria uma espécie de subordinação. O outro passa a ser a referência de fatos emocionais seus. Aí você adquire o hábito de se intrometer na vida alheia tentando corrigir nos amigos e nos familiares as próprias falhas. Ou, em sentido inverso, você vive a sensação falsa de que os outros o hostilizam. Tem certeza disso e passa a disparar agressões aleatoriamente. Gente rancorosa e de mal com a vida geralmente está externalizando o autodesprezo. A externalização do autodesprezo preserva intato o eu idealizado... Você emprega outro mecanismo de defesa, o deslocamento, se a manifestação de um impulso em relação a um determinado alvo se reverter em ameaça. Você desloca o impulso para um alvo que não representa perigo... Formação reativa é outro recurso neurótico mas eficaz que você talvez use para fugir a uma situação angustiante. Inconscientemente, você assume atitude oposta à situação que o aflige. Seu comportamento – aquele percebido por quem o rodeia – expressa exatamente o contrário de seu verdadeiro sentimento interior... Fantasia é a tentativa de resolução de conflitos internos pela satisfação imaginária dos impulsos. Se você recorre a devaneios de modo consciente e moderado, a fantasia não o prejudica. Você pode se imaginar sendo aplaudido por algum gesto de grande coragem ou por um trabalho que julgou brilhante. É como se sonhasse acordado. Mas sua vida não depende desses devaneios. Se a fantasia não se impõe à realidade nem foge à consciência, ela se dissipa paulatinamente. Quanto mais se adquire maturidade, tanto menos se recorre à fantasia. Dano emocional haveria no caso de você depender da fantasia para manter o autorrespeito e a autoestima. Nesse caso, terá como fato concreto o que não passa de ilusão. A fuga emocional da realidade leva a ações baseadas em premissas falsas, que redundam em fracassos... Pela sublimação, você protege o ego direcionando um impulso potencialmente destrutivo para uma ação louvável e socialmente aceita... A sublimação é o único mecanismo de defesa produtivo de fato: elimina tensão e sofrimento interiores e beneficia o indivíduo e a sociedade. Por essa razão, alguns autores não atribuem à sublimação o sentido de mecanismo de defesa do ego... O temperamento faz parte do grupo das características imutáveis. Você nasce com temperamento já definido: colérico ou não colérico. Um e outro são inatos e não se alteram durante a vida... O medo nascido de processos ansiosos foge ao controle da razão. Atua, inflexível, no inconsciente. Você fica sob o domínio da emoção... O sentimento de culpa não surge do nada, na vida adulta. Ele tem história: instalou-se dentro de você quando você ainda era criança. Ele nasceu da ansiedade provocada pelo mundo hostil, que o castigava ou amedrontava... O real sentimento de culpa é inconsciente. Você não o reconhece, mas é ele que o leva a cometer fracassos. Aqui está o principal sintoma: o fracasso. Você falha em tarefas que domina, sofre inexplicados acidentes, prejudica-se em negócios, toma decisões inadequadas – e não entende por que repete seguidamente um mesmo erro. Fracasso provocado por sentimento de culpa é autopunição... Influenciar é querer moldar o outro de acordo com seus próprios padrões – que você julga superiores e a salvo de críticas. Você se coloca em posição de modelo para os outros – não percebe isso – e distribui conselhos que ninguém pediu. Incentivar, pelo contrário, é fortalecer, elevar a autoestima alheia, apontar rumos que beneficiam pessoas. Existe um real interesse seu em beneficiar o outro, não importando se isso trará a você alguma vantagem ou não... Doutrinação é egocêntrica, é falatório em mão única: você não ouve ninguém, nem leva em conta pontos de vista e interesses alheios. Doutrinação só tem eficácia quando alguém a busca por livre e espontânea vontade. Tem que haver predisposição de aprender. Como pôde perceber, influenciar, exigir cega adesão, fazer chantagem, impor castigos ou doutrinar não favorecem o outro... Somente pelo fortalecimento da personalidade do outro você o tornará um entusiasmado colaborador. Isso é o que se define como liderança... Inconscientemente, você pode se enganar e se mostrar feliz quando de fato não está. Mas o corpo não se deixará iludir: a fadiga o dominará e surgirão dores de cabeça, quando não patologias mais graves. Seu rosto se mostrará algo turvo, sem brilho. Já se disse que todo mundo é responsável pelo rosto que tem após os trinta anos... Felicidade não cai do céu. Depende em grande parte de suas ações e de sua predisposição para ela..."