TatáVasconcelos 17/10/2024
Liderar ou Não Liderar? Você Tem a Motivação?
Embora seja uma obra de não-ficção, o autor constrói uma fábula para transmitir sua mensagem em "O Espírito da Liderança". Ele começa nos apresentando dois CEOs que se encontraram sob circunstâncias peculiares: Shay Davis, CEO de uma empresa de segurança de São Francisco, contatou um serviço de consultoria para tentar melhorar suas estratégias no trabalho, porém, esta consultora estava trabalhando já há algum tempo com Liam Alcott, CEO de uma empresa do mesmo ramo de segurança de San Diego, e, por questões de ética, decidiu consultar seu cliente para saber se não haveria problema em atender um de seus concorrentes.
Algum tempo depois, para sua surpresa, Shay foi contatado pelo próprio Liam, de quem ele tinha um rancor injustificado, aparentemente embasado em seu sucesso, e no fato de Liam ser britânico. Este se ofereceu para encontrá-lo, durante uma visita à São Francisco, e explicar como a consultoria o ajudou a progredir em seu trabalho.
Shay, um tanto reticente, concordou com a visita, embora não acreditasse que a conversa fosse lhe ser útil de alguma forma. Ao longo daquele dia, porém, Liam expôs, de forma inicialmente didática, e depois com certo dinamismo, os questionamentos em que a consultora o fez refletir, e que o fizeram perceber que estava trabalhando da maneira errada, e principalmente, realizando seu trabalho pelos motivos errados. Ele comentou sobre partes desconfortáveis do trabalho de um CEO que ele, assim como Shay, evitava sempre que podia, e como uma mudança de perspectiva se mostrou benéfica, tanto para o progresso da empresa, minimizando problemas que ele era capaz de evitar que crescessem e aumentando a produtividade, quanto para ele mesmo, levando-o a gostar de seu trabalho, por mais difícil que ele se apresentasse.
O encontro acabou sendo surpreendente para ambos os personagens por diferentes motivos, que não vou abordar para não dar spoiler, mas a mensagem principal foi levar Shay a se perguntar por que ele queria ser um CEO, e se ele realmente era feito para este trabalho, ou se ele havia aceitado o cargo por achar que era uma recompensa justa por anos de trabalho duro, que era uma promoção natural, e acima de tudo, se este é o trabalho que ele realmente gostaria de estar realizando.
Para qualquer pessoa a resposta seria óbvia: é claro que este é o trabalho dos sonhos de qualquer executivo. Só um louco recusaria esse cargo, o mais importante da empresa, acima de qualquer outro, o homem no comando de toda a operação, que somente responderá a si mesmo, e será seu próprio chefe e o de todos os outros funcionários.
Mas depois de ler este livro, confesso, conheci um lado do trabalho de um CEO que não parece tão glamoroso assim, e que requer, acima de tudo, um profundo autoconhecimento.
O autor foi muito feliz na escolha de sua abordagem nesta obra, expondo, antes de tudo, um exemplo claro. Seus dois personagens representam claramente o conceito: de um lado temos um CEO que encara seu trabalho como uma recompensa, e que se dá ao luxo de fazer apenas o que gosta, e evita ou delega as partes mais desagradáveis da função; e de outro, temos um CEO que soube reconhecer suas fragilidades e buscou se adequar ao trabalho, abraçando suas responsabilidades, por mais desagradáveis que fossem.
Por mais que os métodos de ambos parecessem estar funcionando, em termos de lucratividade, era óbvio qual deles tinha mais chances de manter a empresa em crescimento a longo prazo. Estava claro que apenas um deles estava ocupando o cargo certo - e nunca foi uma questão de quem era mais "qualificado", mas de quem estava mais "disposto" a se autodisciplinar pelo bem da empresa. Era natural que uma grande mudança precisava acontecer ao fim da história, para que a mensagem fosse transmitida com êxito.
Patrick Lencione nos propõe, através de uma narrativa fluida e dinâmica, uma ideologia que vai além do corporativismo, trazendo à luz um novo olhar sobre a real função de um líder, que vai além de qualquer currículo ou de qualquer preparo. Está mais relacionado com suas motivações, e com a postura com a qual ele desempenha suas funções. Pois não basta querer ser um líder; é preciso estar preparado para ser um exemplo, para resolver pequenos atritos e manter cada membro de sua complicada máquina de operações focado, produtivo e motivado.
Depois de expor sua mensagem em forma de parábola, o autor explica, em poucas páginas, as motivações que um verdadeiro líder deve ter se quiser levar sua empresa ao sucesso; qual a mentalidade que deve ser adotada, e os maus hábitos e tentações que devem ser evitados.
O Espírito de Liderança não é um manual de instruções para formar CEOs, mas traz um bom argumento, e uma importante reflexão, tornando-se uma leitura necessária para quem almeja alcançar o topo da hierarquia de comando numa empresa. O famoso "pare e pense": você realmente está preparado, e principalmente, disposto a encarar todas as responsabilidades que um verdadeiro líder não pode e nem deve delegar a outra pessoa? Você realmente quer exercer essa função? Ou você será mais feliz realizando outra tarefa?
Como o próprio Liam salientou: o trabalho de um CEO é o mais solitário. Tudo o que der certo ou errado, inevitavelmente, se abaterá sobre quem estiver ocupando essa cadeira. Por isso é importante ter convicção de que escolheu este caminho pelos motivos certos.