spoiler visualizarKatharina.Pedrosa 10/08/2024
"Nós podemos muito, mas nem tudo"
“Futuro Ancestral” é um compilado de entrevistas, aulas, e participações do Ailton krenak em debates e eventos. Com a ajuda de Rita Carelli, temos as análises e críticas de Krenak sobre como nos relacionamos com a “natureza”.
Quando nos afastamos da “Natureza”, esse conceito criado por nós e do qual não nos sentimos parte, agimos como se fôssemos algo separado do todo e acabamos perdendo a conexão profunda com tudo que nos cerca e que deveríamos entender, sentir, respeitar e proteger.
No primeiro capítulo, “Saudações aos rios”, o autor destaca o nosso distanciamento do que deveria ser natural. Afinal, a proximidade e a dependência da água deveriam nos fazer mais atentos. Veja esse trecho:
“Sempre estivermos perto da água, mas parece que aprendemos muito pouco com a fala dos rios. Esse exercício de escuta do que os cursos d’água comunicam foi me levando a observar criticamente as cidades, especialmente as grandes, que se espalham por cima dos corpos dos rios de uma maneira tão irreverente que perdemos todo o respeito por eles”.
Ainda neste capítulo, Krenak exalta os vários rios que teve a oportunidade de conhecer pelo mundo, e reconhece que se o futuro pode ser cogitado, esse futuro é ancestral, pois os rios já estavam aqui. E continuarão depois que nós partirmos.
Ao longo dos capítulos, Krenak faz várias reflexões sobre a urbanização, a oposição entre natureza e cultura e a lógica capitalista. O que estes tópicos têm em comum?
A transformação e o controle do espaço e dos recursos em benefício de uma visão específica de progresso e desenvolvimento. As cidades frequentemente são vistas como espaços de cultura e progresso, enquanto a natureza é vista como algo separado ou inferior, que deve ser moldado ou controlado para se adequar às necessidades humanas. E é dessa forma que produzimos pobres. Veja esse trecho:
“A gente pega quem pesca e colhe frutos nativos, tira do seu território e joga nas periferias da cidade, onde nunca mais vai poder pegar um peixe para comer, porque o rio que passa no bairro está podre”.
Por fim, Krenak aborda a educação das crianças, comparando a educação indígena com a dos socializados em cidades. Em nossa sociedade, as crianças são levadas desde cedo para escolas e passam por um processo de “formatação social”. Elas não podem mostrar suas essências ou o que podem trazer de novo, e a competitividade é estimulada em vez do sentimento de colaboração e compartilhamento, criando um pódio fictício onde muitos jovens se sentem excluídos e isolados.
No final, Krenak nos convida a repensar o presente e o que podemos fazer para uma mudança real agora, porque o futuro ainda está por vir:
“As crianças indígenas não são educadas, mas orientadas. Não aprendem a ser vencedoras, pois para uns vencerem outros precisam perder. Aprendem a compartilhar o lugar onde vivem e o que têm para comer. Têm o exemplo de uma vida onde o individual conta menos que o coletivo (...) o que as crianças aprendem desde cedo é a colocar o coração no ritmo da terra”