taaji 05/08/2024
Sobre a morte de Maria Boríssova
?Dizem que aqueles que se encontram no alto sentem-se involuntariamente atraídos para baixo, para o abismo. Acho que muitos
suicídios e homicídios são cometidos somente porque o revólver já foi
empunhado. Aqui também há um abismo, um declive de quarenta e cinco graus,
no qual é impossível não deslizar, e algo impele irresistivelmente a pessoa a
apertar o gatilho. Mas a consciência de que eu estava vendo tudo, sabia de tudo e
esperava em silêncio morrer por suas mãos ? isso podia detê-la no declive.?
?Que dava tudo por uma confusão. Sua
docilidade, entretanto, constituía um empecilho. Quando uma criatura dessas dá
de se rebelar, então, por mais que ultrapasse os limites, é sempre evidente que
ela está forçando a si mesma a fazer isso, deixando-se levar, e que para ela, mais
do que para qualquer um, é impossível vencer a própria virtude e o pudor. Aí é
que está o porquê de certas mulheres às vezes se excederem a tal ponto que você
chega a não acreditar no que a própria mente constata. A pessoa Já acostumada à
perversão, ao contrário, irá sem premoderar, procederá da maneira mais abjeta,
mas com uma aparência de ordena e de decoro, cuja pretensão é a de levar
vantagem sobre os senhores.?
?Que me importam agora as vossas leis? De que me servem os vossos usos, os
vossos costumes, a vossa vida, o vosso Estado, a vossa fé? Que me julgue o
vosso juiz, que me levem para um tribunal, para o vosso tribunal público, e direi
que eu não reconheço nada. O juiz gritará:
?Cale-se, oficial!?. E começarei a gritar: ?Onde está agora esse vosso poder para
me fazer obedecer? Por que a tenebrosa rotina foi destruir aquilo que me era
mais caro do que tudo? O
que são as vossas leis para mim, agora? Eu estou me apartando de tudo isso?.
Ora, pouco importa!?
?A rotina! Oh, a natureza! Os homens estão sozinhos na terra, essa é a desgraça!
?Há alguma alma viva sobre a terra??,?
Livro interessantíssimo. Comum do autor retratar a dor de formas intensas. Fiquei muito intrigada em saber que essa estória surgiu através de um notícia de um suicídio real, de uma costureira que realmente morreu conforme a personagem. A narrativa é incrível.
Quando teve esse diálogo:
???não me responda nada, ignore completamente a minha presença, e deixe-me
apenas num cantinho a olhar; faça de mim um objeto seu, seu cachorrinho...? Ela
chorava.
? E eu que achava que fosse me deixar assim ? deixou escapar sem querer,??
Eu não interpretei ele como o personagem (de que a moça estava pensando que ele fosse deixar ela assim, no sentido abandonar ela na condição que ela tava), eu interpretei que a personagem quis dizer que ela imaginou que ele deixaria ela assim: como uma cachorrinha. Me parece que o marido não percebeu o quanto de medo a menina tinha, mas que ao mesmo tempo ele estava disposto a aceitar todos os medos dela e lidar com os dele. Livro complexo demais.