Leonardo 04/07/2011
Dostoiévski e seus devaneios fantásticos
Disponível em: http://catalisecritica.wordpress.com
Estava na Livraria Cultura, no Shopping Iguatemi, em Brasília, procurando um livro para meu irmão, Reinaldo, que aniversariava justamente naquele dia. Já havia comprado outro livro de presente, mas queria comprar outro. E queria Dostoievski. Ele queria “Os Possessos”, mas este está fora de catálogo, segundo me informou o vendedor.
Vi alguns livros mais conhecidos e acabei deparando-me com este “Uma Criatura Dócil”. Comprei-o por um motivo, eu confesso: é da Cosac Naify.
O fato de eu ter comprado Os Miseráveis, de Victor Hugo e três livros de Faulkner (O Som e a Fúria, para Reinaldo, presente meu e de Eduardo, Luz em Agosto e A Árvore dos Desejos) me deram a conhecer a excelência da qualidade dessa editora. “Reinaldo merece um Cosac Naify”, pensei, o que não deixa de ser uma metonímia que insulta bastante Dostoievski.
Eu nunca havia ouvido falar dessa novela do russo, e como estava com bastante tempo, li ali mesmo, antes de comprar. Já falei algumas vezes que, para mim, a literatura definitiva está toda contida em O Sonho de um Homem Ridículo, de Dostoievski. É um conto perfeito, que resume tudo que eu espero das letras. Enquanto lia Uma Criatura Dócil, uma luzinha acendeu na minha mente, especialmente quando li o seguinte:
“Sou mestre na arte de falar em silêncio, passei minha vida toda conversando em silêncio e em silêncio acabei vivendo tragédias inteiras comigo mesmo.”
O livro fala muito sobre mim, sobre como eu sou naturalmente: amigo do silêncio, sem que isso signifique necessariamente uma coisa boa. Lembro que no começo do meu casamento, quando brigava com a minha esposa, eu simplesmente ficava calado, parecendo o protagonista da história, esperando que ela compreendesse tudo por ela mesma. Como eu ficava calado, eu nunca falava o que não devia, mas também não falava o que devia. E isso era uma crueldade com a minha esposa, essa sim, falante, que esperava por minhas respostas. Com o tempo, fui amadurecendo – é natural do cristão querer ser melhor, superar seus defeitos – e hoje já não pareço tanto assim com o narrador da novela.
Mas como fala forte em mim aquela citação!