Jhon 19/01/2021
ele faz a obra prima dele
Érico Veríssimo é um dos meus autores favoritos, então eu estava a mil % de expectativas pra começar essa saga, que já nesse primeiro ciclo me surpreendeu demais! Uma das coisas que eu mais estava curioso era saber como ele ia articular o aspecto historiográfico (dos eventos históricos) e ficcional (da criação das personagens). E foi muito interessante a maneira espetacular como, em diversos momentos, ele descreve eventos históricos importantes que auxiliam na contextualização, mas nunca deixando que isso ofusque os verdadeiros condutores da narrativa: as impecáveis e tão marcantes personagens (principalmente as femininas).
Eu também amei observar como os processos históricos nos quais as personagens estão imersas, de alguma forma continuam reverberando em nosso tempo. Ouso até afirmar que não só reverberam, como também operam nas nossas relações e atuam na construção da nossa subjetividade. Acho que isso fica bastante evidente no jeito que o autor descreve a institucionalização de masculinidades e feminilidades que foi se operando ao longo do tempo. Afinal, a distribuição dos papéis e performances sociais das personagens, que estão imersas num extenso e complexo processo histórico heteronormativo, escravocrata, dizem respeito a nós.
É a maneira como as personagens em suas diversas camadas vão vivendo nesse contexto histórico tão duro e cruel que me fez ficar apaixonado. E embora as estórias sejam muito trágicas e tristes, é muito fácil se envolver com elas. Me emocionei demais, tive ranço, nojo, ódio, empatia por vários personagens (às vezes tudo isso em apenas um deles kkk).
Mas uma das minhas maiores surpresas foi o protagonismo feminino em toda narrativa. Na minha opinião, sem romantizar o sofrimento das mulheres em pról da criação de "personagens femininas fortes", o autor conseguiu mostrar que, embora para muitos a vida possa ser cruel, para alguns ela pode ser muito mais devastadora. As tão marcantes experiências de Ana Terra, Bibiana, Luzia e várias outras mulheres vão ficar comigo e espero fazer algo com isso, pois embora haja uma janela histórica e temporal, algumas situações vivenciadas por essas personagens não me pareceram tão distantes assim do presente.
Enfim, foi um ótimo pé na porta pra iniciar essa trilogia. Sou apaixonado pela escrita simples, mas ao mesmo tempo lírica, leve e aconchegante de Érico Veríssimo. A maneira como ele conduz as narrativas dele é algo que eu não consigo explicar. Estou empolgadíssimo pra continuar a saga.