O Retrato

O Retrato Erico Verissimo




Resenhas - O Tempo e o Vento: O Retrato - Vol. 2


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Craotchky 25/08/2019

Bastidores da obra ou Erico por ele mesmo
(Este texto segue os moldes daquele texto que fiz para O Continente, portanto, também contém as palavras do próprio Erico Verissimo, extraídas de seu livro de memórias intitulado Solo de Clarineta. Há aqui, então, uma parceria entre Erico e eu. Os trechos do próprio Erico além de estarem entre aspas também aparecem em itálico para aqueles(as) que estiverem lendo pelo site e na página de resenhas.)

"Comecei a escrever O Retrato em janeiro de 1950, na praia de Torres, num apartamento com vista para o mar."

Assim Erico começa a parte 26 do capítulo V de seu livro de memórias Solo de Clarineta. Continua:

"Em março voltei para Porto Alegre com algumas centenas de páginas já prontas."

De volta à capital, Erico continuou o trabalho em casa. Na sala de jantar colocou a máquina de escrever em cima da mesa, ladeada por pilha de volumes contendo números do jornal Correio do Povo correspondentes aos anos de 1910 a 1915. Quando escrevera O Continente, Erico tivera que lidar com a falta de documentos e de maiores conhecimentos dos primeiros anos de vida do Rio Grande do Sul. Ao escrever O Retrato não houve este empecilho pois o autor dispunha de recursos acerca da época:

"Para escrever essa sequência de O Continente eu contava naturalmente com documentos abundantes e fáceis de obter."

Erico já havia decidido seu protagonista:

"Tinha decidido dedicar todo o livro a um 'retrato de corpo inteiro' do Dr. Rodrigo Terra Cambará, bisneto e homônimo do bravo capitão. O novo Rodrigo [...] devia representar um largo passo dos Cambarás rumo de sua urbanização e também o princípio da intelectualização de sua família"

Nas suas memórias Erico diz também que não vai muito com a cara de Licurgo Terra Cambará, ao mesmo tempo em que admite sua simpatia para com o Dr. Rodrigo:

"Não esconderei que me sentia perfeitamente à vontade na companhia do Dr. Rodrigo, porque, como ele participasse um pouco da minha aversão à vida campestre [...] eu me livraria da obrigação de estar constantemente no Angico, a estância da família."

O personagem Rodrigo Terra Cambará constituiu-se como, nas palavras do próprio Erico:

"uma espécie de sósia psicológico de Sebastião Verissimo [pai de Erico]". Assim "era natural que eu pensasse também na possibilidade de entrar no livro como personagem, caso em que teria de meter-me na pele de Floriano[...]"

Entretanto salienta:

"Queria, porém, que Rodrigo Cambará fosse parecido mas não idêntico a Sebastião Verissimo. Teriam ambos em comum a sensualidade, o amor à vida, a bravura, a generosidade, a vaidade à flor da pele, a autoindulgência e a mágica capacidade de fazer dos homens amigos fiéis até o sacrifício e das mulheres amantes apaixonadas. Diferente de meu pai, a personagem central de O Retrato seria fisicamente um belo espécime masculino e teria o que o velho Sebastião nunca pareceu ter tido: ambição política[...]"

Em outro momento Erico conta que Toríbio Terra Cambará foi inspirado em seu tio Nestor Verissimo:

"Tomei desse meu prodigioso tio o físico, a coragem cega, o gosto pela ação guerreira, um que outro episódio de sua aventurosa vida, e o seu insaciável apetite sexual."

Aderbal Quadros, segundo Erico, carrega muitos traços físicos e psicológicos de seu avô paterno. Em algum momento do processo de escrita, Erico percebeu que Flora estava correndo o risco de transformar-se num retrato da sua própria mãe. Erico admite que seu temor de transformar Flora em D. Bega (mãe de Erico) terminou fazendo-o tratar esta personagem sem verdadeira intimidade.

"[...] talvez isso explique a razão por que Flora é das figuras mais apagadas tanto de O Retrato como de O Arquipélago."

Segundo o texto da orelha desta minha edição de O Retrato, em uma entrevista, ao ser perguntado se este segundo tomo da trilogia é superior ou inferior ao primeiro, Erico respondeu:

"A única coisa honesta que lhe posso dizer é que jamais escrevi um livro com tanto prazer como este segundo volume de O Tempo e o Vento."

Mesmo assim, em suas memórias, Erico também diz que

"A despeito do prazer com que o escrevi, achei-o literalmente inferior a O Continente. Para principiar, falta-lhe o elemento épico."

Bem, acho que já me alonguei demais. Meu objetivo aqui foi trazer algumas curiosidades pouco conhecidas e que julguei interessantes para quem já leu a obra. Apenas lamento que, para quem não leu, este texto possa parecer insípido. Até.
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zette 16/06/2009

Dando continuidade a história de "O continente", surgem novas personagens em "O Retrato".
Bibiana Terra Cambará, casa seu filho Bolivar Terra Cambará, com uma moça doente para reaver as terras que foram tomadas de seu pai pelo pai adotivo da moça. Desta união nasce Licurgo Terra Cambará que se casa com uma prima Alice Terra. Licurgo pouca convivencia tem com a mãe uma vez que sua avo Bibiana absorve completamente a atenção do rapaz, primeiro por não gostar de Luzia e tb por não entender a doença dela.Para isso ela mente, trapaceia segundo ela conta ao médico, uma figura singular que lhe é muito chegado. Nestes volumes,entram em cena , Rodrigo Terra Cambará, figura central do romance e seu irmão Toribio chamado por Bio que para mim é uma das figuras mais importantes do romance , persongem pitotesca, que adorava guerrear e que lembra seu bisavo, Capitão Rodrigo Cambaráe muito fiel as suas ideias politicas que dominava a tds naquele tempo.
Rodrigo se forma como médico, é querido por alguns e odiado por outros e se casa com Flora Quadros filha de Babalo Quadros uma das figuras mais ricas da história que tem ao seu credito, sua bondade, honestidade,sensibilidades e beleza moral.
Encontra-se tb neste livro muitas outras personagens ricas como Maria Valeria que recorda Bibiana, não em seus principios morais mas na fidelidade aos seus antepassados e na educação austera que recebeu.
Entre tds as figuras do livro, não poderia deixar de citar Fan dango, que é uma figura folclorica e amada pela familia Terra Cambará.
Para mim Bio é uma figura impressionante, quase humana, representante de uma raça em extinção, que dominava o Brasil, um sujeito forte, decidido , mulherengo mas que tinha um grande respeito e amor pelo irmão Rodrigo e pelos seus familiares.
Vale a pena ler esta trilogia. Parece-me que ela retrata a situação de td o Brasil durante os nebulosos anos das guerras em busca de um pais federalista. Não digo que recomendo pois não sou critica literaria para indicar nada a ninguem. mas esta trilogia ,para mim reperesenta o que ha de melhor em nossa literatura.
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monique.gerke 06/09/2018

Eu simplesmente não consegui gostar do Dr. Rodrigo Cambará. Maaaaaas, ainda tem mais três livros, então TALVEZ essa minha impressão se altere no decorrer dos próximos volumes.
De qualquer forma, acho maravilhoso como Erico Veríssimo desnuda a alma de seus personagens, nada fica oculto, temos uma visão extremamente realista dos fatos, personagens e seus reais significados. Aqui personagens não podem usar de falsos sentimentos para justificar as ações. Tudo é deixado claro para o leitor.
Aliás, não achei que fosse gostar tanto desse viés histórico do Rio Grande do Sul, então me surpreendi com a rapidez que a narrativa flui.
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Maria Eliete 13/03/2018

Quarto volume. Continua muito bom.
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Fábio Valeta 06/10/2017

Quarta livro da saga do Rio Grande do Sul por Érico Verissimo e conclusão da segunda parte da “Trilogia de sete livros” O Tempo e o Vento.

Originalmente publicado em volume único, o Retrato é a história do início da ascensão política de Rodrigo Terra Cambará que personifica muitas das qualidades e defeitos de seus antepassados (falei sobre isso na resenha da primeira parte de “O Retrato”). Aqui, vemos mais sobre sua personalidade o tipo de homem que ele é, ao mesmo tempo que já sabemos de antemão sobre sua derrocada, junto ao Estado Novo de Getúlio Vargas.
Falando de forma bem clara, (e de certa forma com um pouco de spoiler, então continue a ler por conta e risco) Rodrigo está longe de poder ser considerado boa pessoa. Seus ideais são constantemente atropelados pelos seus desejos, aos quais ele constantemente se rende. Impulsivo, ele deixa-se dominar pelo momento apenas para depois ficar com medo que as outras pessoas saibam de suas fraquezas e defeitos e que usem desse conhecimento contra ele.
E é esse um dos pontos altos da história. Em nenhum momento o autor conduz sua história de forma a defender ou mesmo vilipendiar seu personagem principal. O narrador não o julga, mesmo quando os atos do personagem, tão condenáveis, levam a consequências terríveis para outros. O julgamento, cabe aos leitores, e apenas a eles.

“O Tempo e o Vento” continua se mostrando uma história poderosa e seus três livros finais serão lidos depois de uma breve pausa para outras leituras.
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Lucas 01/07/2017

A agitada vida de um protagonista problemático – Resenha para os dois volumes
Seja em livros, filmes ou qualquer outro tipo de entretenimento, é normal que se torça o nariz para sequências. É raro que a segunda parte de uma história, cujo sucessora tenha sido incrível, mantenha o nível de atração. Até por isso, em casos assim, a sequência é muitas vezes cercada de expectativas menores: o leitor, nesse caso, crê que se tratará de um bom livro, mas que não terá a mesma consistência da obra que o antecedeu.

A saga O Tempo e o Vento, do gaúcho Erico Verissimo é um excelente exemplo desse raciocínio. A primeira parte, O Continente, é genial: misturando a história turbulenta do Rio Grande do Sul entre 1745 e 1895 com personagens fictícios de substância eterna, ele abre muito bem a saga. Além disso, é um livro que funciona perfeitamente sozinho, pois não deixa pontas soltas ao fim, com o destino dos personagens mais importantes se resolvendo ou deixando-se encaminhado. Ao fim da leitura e antes de iniciar O Retrato, a segunda parte do épico, o leitor fica com a mesma sensação do exposto no início: certamente será um bom livro, mas que carecerá de alguns pilares fictícios que tornam O Continente tão maravilhoso, como o casal formado pelo incrível Capitão Rodrigo Cambará e a exemplar Bibiana Terra.

Mas as primeiras páginas de O Retrato desconstroem isso. O mesmo fascínio narrativo demonstrado em O Continente aparece aqui renovado. Com a mesma técnica de narrar primeiro o tempo "presente" (1945) e fazendo digressões (bem menos frequentes que o antecessor) ao passado, a narrativa adquire ares ora lúdicos, ora históricos. A grande diferença é temporal: enquanto a primeira parte de O Tempo e o Vento demonstra 150 anos da história do RS, O Retrato vai realçar uma parte da história de 36 anos da família Terra Cambará, entre 1909 e 1945. Esse relato temporal é parcial: a sinopse de O Arquipélago, obra que fecha a trilogia, dá a entender que é nela que estarão mais fielmente detalhadas as turbulências históricas que ocorreram nestas quase quatro décadas. Assim, O Retrato começa do "presente" e volta ao passado, iniciando, com minúcia, esse caminho de volta a 1945, mas que não é totalmente realizado, ficando parte desse retorno narrativo para O Arquipélago. Este é um detalhe crucial que difere o livro de O Continente, cuja história retrocede e volta ao presente, gerando uma obra mais "redonda".

Este aspecto cronológico, de menor abrangência, é um argumento favorável à tese inicial de que O Retrato é um pouco inferior literariamente. Pensa-se de antemão que agora a monotonia seja maior, com detalhismos cuja necessidade é questionável. Mas ao deixar a narrativa um pouco menos dinâmica, Erico detalha a vida do interior do Rio Grande do Sul do início do século XX, com as colônias alemãs e italianas, a vida na cidade (Santa Fé, pano de fundo fictício de toda a história, agora é uma cidade típica do interior, com duas ruas calçadas, restaurantes, etc.) e o cotidiano nas estâncias. O minuano (vento frio de inverno, normalmente vindo do sul), a forma de falar, com várias gírias, o gosto do gaúcho em arranjar "pelejas", tudo isso está aqui. Para quem desconhece a vida no sul do Brasil (principalmente no RS e em SC), estas são características fascinantes e até peculiares. Mas para quem é daqui, a impressão que se tem, assim como em O Continente, é que O Retrato é uma homenagem ao povo gaúcho; o leitor que é natural do sul sente-se homenageado com as canções, os relatos, as lendas e os diálogos que permeiam a obra. É uma maravilhosa volta ao passado, onde a forma de viver das gerações anteriores, tão fielmente representada, é uma ferramenta que toca e emociona o leitor quase o tempo todo.

Em termos mais práticos, O Retrato (lançado dois anos depois de O Continente, em 1951) conta a primeira parte da trajetória de vida do Dr. Rodrigo Terra Cambará, bisneto do eterno Cap. Rodrigo. Na obra anterior, ele era apenas uma criança, mas Verissimo dá a entender que ele é o grande protagonista de toda a saga. Médico formado, a história começa, em termos cronológicos, com o seu retorno a Santa Fé, onde ele toma partido nas disputas políticas locais e até nacionais (a eleição do Marechal Hermes da Fonseca para presidente em 1910 adquire grande espaço na obra). Ao fazer esse relato, o autor demonstra a realidade "bélica" das eleições da época, bem como certos "aspectos obscuros" que as envolviam (ainda hoje no sul do Brasil, as eleições municipais são cercadas de imensa expectativa, com muitas farpas e divisões profundas nas cidades menores). A presença e menção a personagens reais (como o senador Pinheiro Machado, um dos maiores políticos da história do RS) dá ainda mais veracidade à ficção, tornando-a crível sob o ponto de vista de retrato da realidade da época.

O protagonista é imperfeito, contraditório e bipolar: ora carismático, lembrando o seu bisavô, ora individualista, preconceituoso e possessivo. O Dr. Rodrigo pode sim ser uma extensão do seu antepassado homônimo, mas é inegável que ele possui alguns defeitos pessoais mais sérios, que podem fazer o leitor, no mínimo, questionar a sua real importância, especialmente os relacionados à adultério e, principalmente, cobiça, aspectos tão presentes no clã Cambará. A mistura de presunção e altruísmo é o que define o "filho pródigo" de Santa Fé, o que só evidencia a sua alta complexidade. Há esperança, contudo, de que sua personalidade se transforme positivamente com o tempo que não foi enquadrado por O Retrato e que deve estar incluso na narrativa de O Arquipélago. O seu desfecho, carregado de aspectos sombrios, permite acreditar nesta hipótese.

Erico Verissimo é, sabidamente, um dos maiores autores nacionais do século XX. Uma característica interessante é que ele escreve de uma forma positivamente diferente em O Tempo e o Vento: quando se lê, por exemplo, Caminhos Cruzados ou Incidente em Antares, duas das obras mais populares da carreira de Verissimo, se está diante de um ótimo autor, que narra suas histórias sem futilidades ou aspectos forçados. Mas quando se está lendo a saga da família Terra Cambará, além destes pontos positivos, o leitor se sente diante de um grande literato, profundo conhecedor da história do seu Estado e da sua gente. A já mencionada inserção de personagens reais na narrativa (algo que não ocorreu de forma direta em O Continente) contribuiu para que a ficção seja carregada de realidade, deixando-a totalmente desprovida de qualquer tipo de artificialidade.

Problemas de saúde do autor adiaram seguidamente o lançamento da obra que fecha O Tempo e o Vento, O Arquipélago, lançado apenas em 1962. É importante destacar isso porque O Retrato, contrário ao seu antecessor, não é uma obra que "se resolve" por si mesma. Dezenas de pontas soltas e temas não resolvidos ficam para a última parte da saga. Assim, é até recomendável que ambos os livros devam ser lidos quase seguidamente, a fim de que não se perca o encanto despertado na obra que apresenta o Dr. Rodrigo. E diferente de O Continente, O Retrato trás grande expectativa para a obra seguinte, que trará a continuação e o desfecho da história da família Terra Cambará, que tão bem representa o fascínio que é ser natural do sul do país.
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Mayane25 04/01/2017

Até agora é o volume que menos gostei. Chegar nesse ponto da história é sentir saudade de personagens fortes como Ana Terra e Bibiana. Além de ter, a todo momento, a sensação de que falta alguma coisa que havia nos dois volumes de O Continente e o primeiro de O Retrato: algo que o faça valer a pena.

A minha leitura desse livro foi bem lenta, quase 6 meses enrolando esse término (fato que surpreende a mim mesma, já que praticamente devorei os outros volumes da saga com tamanha empolgação). Porém, continuo a dizer que O Tempo e O Vento foi a minha maior/melhor descoberta literária. Acredito, até, que a lentidão tenha sido também por "saudade antecipada", já que agora chego à última parte da história da família Terra Cambará.

Decepção pequena que não foi o suficiente para me impedir de criar milhões de expectativas quanto aos livros d'O Arquipélago. A leitura desses também será bem lenta, mas de propósito: vai ser difícil largar o Veríssimo.
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Natalie Lagedo 10/05/2016

No primeiro volume de O Retrato, vimos que por motivos políticos, Rodrigo adiou o início de sua atividade médica. Neste segundo tomo, ele coloca em prática esse desejo e inclusive faz um esboço de hospital nos fundos da farmácia, auxiliado por um casal de italianos, os Carbone.

O protagonista, como já ficou bastante claro, é amante da modernidade e de tudo o que o conforto pode trazer. É neste ponto que percebemos a grande diferença entre Licurgo e seu filho, pois aquele acredita que qualquer coisa além do essencial é vaidade e feminilidade.

Com o despontar da Primeira Guerra Mundial, o livro mostra as formas como ela impactou a vida no Brasil. A esmagadora maioria do país apoiava os Aliados; as colônias alemãs e italianas, por sua vez, ficaram do lado de seus países de origem, denotando que por mais que permanecessem em solo brasileiro, ainda possuíam forte carinho pela pátria. Tanto é que Veríssimo sempre afirma que não abandonaram a cultura nem o idioma de origem.

O sergipano Tenente Rubim, em discussão sobre o espírito guerreiro do brasileiro disse algo que eu, como nordestina, gostaria de ressaltar: “Não tivemos vizinhos castelhanos com quem brigar, mas tivemos e ainda temos um inimigo que nunca nos deu tréguas: a terra, o clima. E o pior, ou o melhor, é que apesar de tudo nós amamos esse inimigo.”

Os elementos fixos do texto, como o punhal de prata de Pedro, a tesoura enferrujada de Ana Terra e a figueira da praça desaparecem da história, demonstrando as mudanças do século XX e o desapego com a tradição.

Por fim, Veríssimo faz um corte no tempo e passa para a fase em que os filhos do casal Rodrigo e Flora já são adultos. Floriano, o primogênito, é um escritor de romances desinteressado pela política e de caráter prudente. Graduou-se nos Estados Unidos e reflete sobre a situação da humanidade após a Segunda Guerra Mundial. Conclui que o pavor de ter outra disputa desse porte foi o ponto que mais favoreceu à instauração dos regimes totalitários na Europa. Chama de Horror Moderno a canalização e industrialização do medo por meio do Estado, Nacionalismo, adulteração da História, Antropologia, Biologia e afins para adequá-las ao Regime, e de Horror Atômico a bomba, que dizimou populações inteiras. E é no contexto da Guerra Fria que encerra-se O Retrato.
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Newton Nitro 29/04/2015

E continua a saga dos terra-cambará!
No segundo volume se completa a trajetória do Dr. Rodrigo Cambará, em uma das melhores explorações de personagens que já li. Veríssimo expõe completamente a alma do Dr. Rodrigo, com todas suas contradições, oferecendo questionamentos e evitando explicações, como em toda grande literatura.

Técnica narrativa impecável, e com direito a arroubos de fluxo de consciência à moda Joyciana (amei essa parte), personagens muito bem construídos e imprevisíveis, e um retrato explícito do patriarcalismo tradicional imerso na nossa história, é de chocar ver os processos mentais de Rodrigo a partir do contexto atual das relações entre homens e mulheres, e o que mais horroriza é ver que muitos dos preconceitos da época em relação à mulher continuam fortes e vivos nos dias de hoje.

Essa segunda parte mergulha mais a fundo nas discussões filosóficas que parecem ser um dos pontos centrais de "O Retrato, como se fosse um "retrato" das correntes de pensamento do início do século XX. Facismo, anarquismo, comunismo, liberalismo, mentalidade pequeno-burguês, caudilhismo, são abordados e muitas vezes "encarnados" em diversos personagens".

E mais uma vez, o cuidado com a linguagem, a lapidação frase a frase, tudo isso faz de "O Retrato" um clássico da literatura. É uma pena que a maioria dos leitores de Tempo e o Vento parem no primeiro volume, O Continente. O Retrato é um livro muito diferente do Continente, mas é fantástico, merece ser lido e redescoberto. E para quem curte escrever, O Retrato é uma aula impressionante de como mergulhar e narrar as nuances da alma de um personagem contraditório e "vivo".

E agora vamos para Arquipélago, o último volume de O Tempo e o Vento e o último livro de ficção de Érico Veríssimo.

ANOTAÇÕES FEITAS DURANTE A LEITURA (CUIDADO, PODE CONTER SPOILERS!)

relação entre licurgo e rodrigo, relação católica entre o homem e o deus patriarca

machismo e orgulho, Rodrigo trata as mulheres como objetos para saciar seus desejos

personagens com vida interior intensa, pensamentos, emoções, dúvidas, vem e vão, como o vento dentro da alma, emoções complexas, justificações, racionalizações, egoísmo, e os momento dw confiança absoluta intercalados por dúvidas profundas.

Rodrigo é o Chantecler, da peça francesa, e Dorian Gray de Oscar Wilde.

Rodrigo se revolta quando descobre que o universo não gira em torno dele.

Rodrigo, o macho da elite no auge dos seus poderes em um contexto machista.

como é bom estar vivo - frase que se repete, o lema dos Rodrigos de Érico Veríssimo.

discussões sobre a morte, livro mais filosófico, grandw trabalho de carpintaria

Rubinho, a encarnação do nascente pensamento fascista

rodrigo cambará do romance o retrato é a reencarnação o capitão rodrigo do romance o continente o homem que ama a vida sem limites sensualismo sedutor energético mas em um contexto diferente ou seja o que aconteceria se o capitão rodrigo tivesse nascido dentro do contexto de rodrigo cambará a força do sangue a força da ancestralidade talvez uma metáfora para o espírito do rio grande do sul

o nascimento so facismo nas conversas dos amigos de rodrigo

morte de fandango, morte do sul tradicional

momentos pontuais de onisciencia, por meio de recortes

Pepe, o pintor anarquista : mais um estrangeiro em Santa Fé que não gosta do lugar mas que não sabe porque fica, como Carl Winters no vol. 1 de Tempo e o Vento

Mudança no estilo: narrador em terceira pessoa próxima subjetiva, refletindo as mudanças no estilo contemporâneo de narrativa. A narrativa é focada em Rodrigo apenas, quase sem mudança de ponto de vista narrativo.

rodrigo justifica sua infidelidade constantemente, de cima de sua posição poderosa de homem de elite

conflitos entre vida familiar amante é a mulher esposa problemas sexuais

técnica narrativa transição temporal em uma frase usando o ponto de vista profundo

tema: o ego masculino sempre leva a tragédia pessoal


técnica narrativa, ao fazer exposição, use uma metáfora para unificar a exposição inteira, fica elegante e de fácil entendimento para o leitor
metáfora do leite para descrever a hieraquia social da cidade de santa fé
rodrigo e o símbolo do cometa rodrigo como cometa

o livro explora a alma masculina ante aos avanços sociais do século XX

construção coletiva da verdade sobre uma pessoa

Cidadão Kane e O Retrato de Dorian Gray, referências.

a vinda apocalíptica do cometa marcando o novo século, junto com a volta de Rodrigo para Santa Fé.

o vento como símbolo novamente " a culpa é do vento"

começa pela hora da morte, como em Cidadão Kane

desgraça nunca vem só

"Calúnia é calúnia, sempre deixa sua marca"

conflito da roça com a cidade
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Lili 13/02/2015

O Retrato - parte 2
Foi difícil para mim dar uma nota a este livro. Resolvi dar a nota máxima, mas tenho que deixar claro que achei "O Retrato" como um todo bem inferior a "O Continente". O primeiro livro é mais profundo, envolvente, completo... Este é um pouco mais raso. Mas não deixa de ser parte da melhor obra de literatura nacional que já li.

"O Retrato" se trata quase que exclusivamente de Rodrigo Terra Cambará. Existem muitos outros personagens importantes no livro, mas tudo gira em torno dele, e não o perdemos de vista por nem um instante. E, como na vida real, quando se conhece alguém tão a fundo, seus defeitos também se tornam bem aparentes. Não dá para enxergar somente as qualidades.

O personagem é de uma infantilidade e uma volubilidade que irritam a todo momento. Mas assim como todas as pessoas que o cercam no livro, o leitor também se sente encantado e atraído por seu jeito simpático, impetuoso e apaixonado. Ele conseguiu errar mais que seu bisavô homônimo (isso não é pouco!), mas ainda assim ficamos com ele até o final.

Acredito que "O Arquipélago" virá completar lacunas da história contada em "O Retrato", pois aqui vimos dois tempos totalmente diferentes (1910-1915 e 1945), com esse grande hiato sem explicações. Portanto, vamos à parte final da trilogia!
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Laura Bernardes 22/02/2014

O Tempo e o Vento - O Retrato Vol. 2 - Erico Verissimo (Companhia das Letras)
Nem sei mais o que dizer sobre O Tempo e o Vento. Cada vez me prende mais. Erico Verissimo tem um jeito maravilhoso, inteligente e cativante de escrever, e consegue misturar harmoniosamente política e romance, os dramas de uma família e os dramas de um governo. Principalmente em O Retrato, em que a história não me era conhecida, me surpreendo com todo o enredo criado. O Tempo e o Vento é um clássico, e não poderia ser diferente.
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Beto 21/12/2013

O tempo e o vento. O retrato vol. 2
O Retrato vol. 2, nos apresenta um Dr. Rodrigo Cambará, refinado, médico, preocupado com os pobres, mas vaidoso, que nos lembra a atualidade, homens vaidosos e machos, na concepção da palavra, o refino cultural, abrandou as truculências do passado, do Capitão Rodrigo, o Erico Verissimo foi mais uma vez brilhante na composição e exposição dos personagens.

” – Tinhas o mapa do Rio Grande na cabeça e no coração. Por onde quer que andasses, até os passarinhos te conheciam e estimavam. Foste um sábio e um santo à tua maneira, um rapsodo desta terra e desta gente, o melhor contador de causos que conheci. E neste momento, do outro lado da vida, montando num dos teus muitos pingos de estimação que morreram antes de ti, imagino-te cruzando num trote faceiro as invernadas da eternidade: “Ó de casa!”. E vejo são Pedro olhar para fora e dizer aos seus anjos: ” Abram a porta, meninos, é o Fandango. Entre, compadre, sente e tome um mate, faz de conta que a casa é sua” . Fandango, amigo velho, até por lá!

O caixão foi descido à cova. Licurgo agachou-se, apanhou um punhado de terra e atirou-o sobre ele. Outros o imitaram. O negro Antero tomou da pá e começou a entupir a cova. Aos poucos o grupo se foi dispersando.

Ao descerem para a casa, Licurgo resmungou, taciturno:

- Não carecia o senhor fazer discurso. O Fandango não era homem dessas coisas…

Rodrigo, que imaginava o pai orgulhoso de sua oração, ficou desapontado. Sentiu-se, porém, um pouco consolado quando Bio, tomando-lhe afetuosamente o braço cochichou:

- Me fizeste chorar, filho da mãe.

- Eu também chorei…

- Somos duas vacas.
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Ronan.Azarias 03/09/2012

Excelente
Dividir o livro em 2 volumes foi uma jogada legal da companhia das letras, mas é difícil fazer uma resenha do volume 1 somente. Até porque fica na cara ao final do primeiro volume que falta muita coisa pra acontecer.

Em um exame profundo cada personagem exprime um pensamento da época. E Rodrigo é o catalisador da mistura. Sempre as voltas com intrigas políticas das quais não tem nenhum controle e levando ao extremos seus sentimentos, este personagem dúbio vive em guerras internas entre sua personalidade egoísta e seu intelecto solidário.

Quis se casar com Flora para salvar o pai da mesma e ao mesmo tempo mostrar a sociedade que era um homem bom e direito, digno de respeito. Porém vive às voltas com suas "pandegas" com os amigos e aventuras amorosas, mostrando, neste momento que o sangue dos Cambarás fala mais alto. Bem como a sua predileção por brigas, ainda que na esfera intelectual e política.

Em suma um livro delicioso de se ler em vários aspectos, tanto para viver a história política do país quanto para se aventurar nos rolos de Rodrigo.
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Gláucia 05/07/2011

O Retrato Vol.2 - Erico Verissimo
Segundo volume da segunda parte da série O Tempo e o Vento, aqui se encerra a saga da familia Terra-Cambará, narrada sob a visão de Rodrigo Cambará que nos descreve todo o panorama histórico da década de 1940.
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