Natalie Lagedo 10/05/2016
No primeiro volume de O Retrato, vimos que por motivos políticos, Rodrigo adiou o início de sua atividade médica. Neste segundo tomo, ele coloca em prática esse desejo e inclusive faz um esboço de hospital nos fundos da farmácia, auxiliado por um casal de italianos, os Carbone.
O protagonista, como já ficou bastante claro, é amante da modernidade e de tudo o que o conforto pode trazer. É neste ponto que percebemos a grande diferença entre Licurgo e seu filho, pois aquele acredita que qualquer coisa além do essencial é vaidade e feminilidade.
Com o despontar da Primeira Guerra Mundial, o livro mostra as formas como ela impactou a vida no Brasil. A esmagadora maioria do país apoiava os Aliados; as colônias alemãs e italianas, por sua vez, ficaram do lado de seus países de origem, denotando que por mais que permanecessem em solo brasileiro, ainda possuíam forte carinho pela pátria. Tanto é que Veríssimo sempre afirma que não abandonaram a cultura nem o idioma de origem.
O sergipano Tenente Rubim, em discussão sobre o espírito guerreiro do brasileiro disse algo que eu, como nordestina, gostaria de ressaltar: “Não tivemos vizinhos castelhanos com quem brigar, mas tivemos e ainda temos um inimigo que nunca nos deu tréguas: a terra, o clima. E o pior, ou o melhor, é que apesar de tudo nós amamos esse inimigo.”
Os elementos fixos do texto, como o punhal de prata de Pedro, a tesoura enferrujada de Ana Terra e a figueira da praça desaparecem da história, demonstrando as mudanças do século XX e o desapego com a tradição.
Por fim, Veríssimo faz um corte no tempo e passa para a fase em que os filhos do casal Rodrigo e Flora já são adultos. Floriano, o primogênito, é um escritor de romances desinteressado pela política e de caráter prudente. Graduou-se nos Estados Unidos e reflete sobre a situação da humanidade após a Segunda Guerra Mundial. Conclui que o pavor de ter outra disputa desse porte foi o ponto que mais favoreceu à instauração dos regimes totalitários na Europa. Chama de Horror Moderno a canalização e industrialização do medo por meio do Estado, Nacionalismo, adulteração da História, Antropologia, Biologia e afins para adequá-las ao Regime, e de Horror Atômico a bomba, que dizimou populações inteiras. E é no contexto da Guerra Fria que encerra-se O Retrato.