Pererinha 15/11/2011
O desabafo de Cacambo: De que lado estaria à liberdade de seu povo?.
[...] Não me chames de cruel: enquanto é tempo
Pensa e resolve, e , pela mão tomando
Ao nobre embaixador, o ilustre Andrade
Intenta reduzi-lo por brandura.
E o índio, um pouco pensativo, o braço
E a mão retira; e , suspirando, disse:
Gentes de Europa, nunca vos trouxera
O mar e o vento a nós.Ah! não debalde
Estendeu entre nós a natureza
Todo esse plano espaço imenso de águas [...]
Esse trecho do poema em decassílabos do livro Uraguai, de Basilio da Gama, publicado em 1769, relata o desabafo de Cacambo. Em que podemos refletir sobre a mudança de vida dos nativos com a chegada dos primeiros colonizadores. Em contraponto, poderíamos pensar que, esse evento marcou o desenvolvimento dessa terra, pois, seus hábitos deixaram de ser nômade, para reduções organizadas. O fato que, suas liberdades de expressão, nunca mais fora como antes, Como seriam suas vidas sem a colonização europeia?. Os pressupostos e subtendidos deixados no discurso de desabafo de Cacambo. Podemos fazer uma leitura mais atenta, sobre a resposta ao chefe das tropas lusitanas, já que, o fragmento em questão, é o nó, e o desenlace da fatídica guerra, que dizimou os gentis. O objetivo de uma leitura mais zoom, não é separá-lo e/ou isolá-lo do resto, mas, preparar-se para uma melhor reflexão de toda a obra, já lida.
Para começar, vamos refletir e elucubrar sobre a primeira frase desse trecho. Andrade, mesmo usando de um discurso, superficialmente, “diplomático”, deixa claro, ou aceitam nossas condições, ou como ele próprio diz: “não me chamem de cruel” . Uma citação direta e objetiva vinda do personagem. Seria um recado implícito na narração do autor? Em que deixa uma lacuna para leitor preencher, será que aquele está sendo tão amistoso?. E temos também, uma frase começada por um imperativo, o que não soa tão inocula, mas, um tom ameaçador. Tudo isso, porque ele sabe que os índios não farão muita resistência frente às tropas ibéricas. E termina, assim: “enquanto é tempo” , como se Cacambo estivesse frente a uma ampulheta, em que a areia cai sem cessar.
Em seguida, ele tenta amainar a situação, depois de tudo que já foi dito antes: “Pensa e resolve” , seguido de uma gestual de aproximação, pegando-o pela mão numa tentativa de acolhê-lo. O autor o descreve como embaixador, alguém que tem o poder de negociar assuntos de interesse de sua nação, não um rei como Andrade mencionara antes desse fragmento selecionado, argumentando que eles devem servir ao reinado de Portugal porque terão mais vantagens a ficar a mercê dos mandos dos jesuítas. Mas, será que eles também não estavam usando de uma ideologia? Para também torná-los escravos, tanto quanto os catequistas?
Enquanto refletia, Cacambo, imediatamente, vai tirando a mão do comandante de si, mostrando que não vai concordar com suas colocações. Com um suspiro, como que grito preso na garganta de seus descendentes e compatriotas, que não fora dado antes, nessa mesa redonda entre autoridades. Ele faz um dos discursos mais impactantes, dizendo: “Gentes de Europa nunca vos trouxera...O mar e o vento a nós...Estendeu entre nós a natureza...espaço imenso de águas” . Numa versão em prosa: “−Gente da Europa: seria melhor se o vento nunca os tivessem trazido até nós. Não foi por um acaso que a natureza estendeu entre nós mundo de água plano e imenso” .Podemos refletir que eles viviam muito bem com seus costumes e hábitos, suas crenças em seus deuses, criando histórias como forma de explicar o mundo, mesmo que não fossem cientistas para explicar o empírico, viviam em harmonia com a natureza.
Em complemento,usa o mar, um fenômeno imenso da natureza, que os separava do mundo civilizado, algo como infinito universo, entre os terráqueos e os alienígenas, essa foi à sensação, quando chegaram aqui.O fato que a palavra debalde, que significa “não por um caso” , é uma expressão muito forte nesse discurso porque da força e continuidade, as metáforas já feita, Fiorin diz que: “A metáfora é uma concentração semântica,...e leva em conta apenas alguns traços comuns entre dois significados que coexistem ... aumentando a intensidade do sentido” . Ou seja, a grandeza do oceano Atlântico com relação as duas filosofias de vida.
No mesmo raciocínio, a versão em prosa começa com um vocativo,verbo no futuro do pretérito seguido de um subjuntivo, fazendo voltar às mesmas indagações já exortadas antes. Como seria a vida deles? Se os navegadores não tivessem errado a rota, e chegado até aqui? Trazendo seus estilos de vida. São perguntas que não querem calar, e estão impregnadas nas maltraçadas, de Basilio, que mesmo o foco da narrativa, ser a critica as doutrinas jesuíticas, abre a possibilidade de discussão sobre questão da liberdade, desse povo sofrido.
Depois de analisar, o advento ao inicio da guerra. Estamos raciocinando com Cacambo, numa encruzilhada, que leva a vários caminhos. Ou, na Poética de Aristóteles : tudo o que no poema até aqui, foi desenvolvido, é chamado de nó. E a conseqüência da resposta, do cacique desencadeou a dizimação do povo guaranítico, o desenlace. O fato é que Cacambo ficou ao lado de quem, de alguma forma, preservaram sua liberdade, e de seu povo, os jesuítas, mesmo que, esse já não fosse como antes de 1500. Eles preferiram morrer pela liberdade, o que os tornaram heroicos, e tão lembrados pela história, e a literatura De lá pra, muitos grupos revolucionários, como: A revolução Farroupilha, que reivindicava a liberdade desse povo, do resto do país, que também adotou o lema helênico: eleftéria e tanátos) liberdade e morte, terra de Homero, que também inspirou essa poesia, com suas epopeias.