Queria Estar Lendo 05/09/2018
Resenha: Uma Dobra no Tempo
Uma Dobra no Tempo é um elogiadíssimo clássico de Fantasia e Ficção Científica que ganhou uma mega edição especial pela Editora Harper Collins. A obra, da autora Madaleine L'Engle, coloca uma garota à frente de uma aventura entre galáxias e o desconhecido.
Na história, acompanhamos Meg. Ela não entende seu lugar na família, na escola e no mundo. Questionadora e extremamente teimosa - e birrenta - Meg não tem muita expectativa para seu futuro. Com o desaparecimento misterioso do pai em uma missão para o governo, a garotinha só quer continuar emburrada e reclamando de tudo até que o universo resolve colocá-la a prova.
Meg, seu irmãozinho genial e incompreendido chamado Charlie e um garoto que ela só conhecia de vista, Calvin, mas que aparentemente também se encaixa nessa questão de "não se encaixar em lugar algum" são convocados por três entidades esquisitas a viajar para muito longe de casa a fim de salvar a vida do pai da Meg - e, quem sabe, o próprio planeta Terra.
"O escuro tem algo de tangível, é possível se mover através dele, você pode senti-lo; no escuro, você caminha e pode bater a canela; o mundo das coisas segue existindo ao seu redor. Aquilo em que ela estava perdida era o vácuo horripilante."
Uma Dobra no Tempo foi uma leitura agradável, leve e bastante refrescante para o cenário da Ficção Científica. A obra, publicada nos anos 60, se tornou um clássico aclamado justamente por desafiar o padrão, dando o protagonismo a uma garota, usando linguagem mais simples para explicar situações complicadas sobre viagem entre dimensões, física, mundos novos e uma galáxia de possibilidades. E também por usar muito de religião em um cenário questionador.
Madeleine tem uma narrativa bastante juvenil; familiar a quem acompanha séries como Percy Jackson e Magisterium, mas com um humor bem mais delicado e com personagens menos rebeldes ou exaltados. Crianças de sua época, de fato.
"- Guarde a fúria, pequena Meg. Você vai precisar dela agora."
Meg é um pé no saco, mas é parte da sua história e do seu arco agir de tal maneira. Não acho suportável, mas justificável. Ela não evolui, exatamente, dentro da trama; não existe uma crescente de desenvolvimento ou de melhora em sua postura porque a história precisa que ela seja furiosa e birrenta.
Charlie, por outro lado, é o lado racional e perspicaz. O doce garotinho, considerado problemático para as pessoas que não o conhecem, é de uma inteligência e sagacidade que completam os conhecimentos específicos da irmã - e forma o equilíbrio perfeito às birras e chatices de Meg.
Calvin, por último, cai de paraquedas no grupo e acaba se entendendo muito bem com os dois irmãos. Crescido em uma família gigante e com pouca atenção sobre si, a consciência e a sabedoria de Calvin vêm para completar o que o trio tinha até então. Onde Meg é furiosa e Charlie é sagaz, Calvin é empático.
Guiada por três Senhoras esquisitas e que pouco fazem sentido - pelo menos até que você entenda, de fato, o que elas são - a jornada das três crianças pelo universo é rápida, sem grandes enrolações. Somos apresentados a três cenários distintos dentro desse mundo de possibilidades, o que deixa em aberto sobre até onde a autora pode levar os personagens na missão de salvar o mundo da Escuridão; uma massa de sombras desconhecida que se arrasta pelo universo e devora planetas e deixa o caos para trás.
"- Acho que, dentro das nossas limitações de ser humano, nem sempre somos capazes de entender as explicações. Mas, veja bem, Meg: não é porque não entendemos alguma coisa que essa explicação não existe."
Usando artifícios sutis, a autora explora religiosidade e ciência dentro da trama principal. Tal como As Crônicas de Nárnia, Uma Dobra no Tempo levanta questionamentos sobre fé e devoção, o poder do amor e da esperança - ao mesmo tempo em que cria esse mapa de planetas e tecnologia e explora ideias malucas e bizarras que, aqui, fazem bastante sentido.
Das figuras coadjuvantes ao trio principal que fazem parte do bizarro, as Senhoras se destacam. Elas são entidades misteriosas, cada uma com seu jeito peculiar de falar e de se portar, convenientemente escondendo respostas nos momentos certos para que as crianças descubram tudo sozinhas.
A edição da Harper Collins está um capricho. Definitivamente uma homenagem à saga que conquistou tantos leitores com o passar de todos esses anos; capa dura, diagramação agradável e revisão impecável.
"- Você ajudou muito porque me deixou furiosa, e quando eu fico furiosa, não sobra espaço para o medo."
Uma Dobra no Tempo é um bom livro para quem gosta de viagens no espaço e mundos fantásticos embasados em ciência; uma jornada sobre coragem, amor e esperança com um fim curioso que deixa um gostinho de "quero mais".
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