fabio.ribas.7 21/10/2021
da presença da ausência
Não há inferno senão no amor traído — Darwich
Darwich, que faleceu em 2008, é o escritor palestino que melhor é identificado pelo próprio povo como aquele que traduz a situação de exílio forçado, de injustiça e de saudade para um retorno que até hoje não ocorreu.
“Nakba” é a palavra árabe (النكبة) usada para falar da saída forçada, da expulsão dos palestinos, quando houve a criação do Estado de Israel, logo após o fim da Grande Segunda Guerra. Na verdade, “nakba” é uma palavra árabe que quer dizer tragédia. Com isso, já se percebe a ótica dos palestinos quando os exércitos israelenses foram tomando suas casas e, cada vez mais, empurrando os palestinos, até que muitos decidiram deixar o país. Não todos, mas muitos.
Darwich aproveita sua prosa, uma prosa repleta de liberdade gramatical, para tentar compreender a própria condição de exilado, de estrangeiro no mundo. O Darwich histórico é um personagem riquíssimo, cujo o escritor tenta compreender e compartilhar nos livros. No caso, o livro em questão é “Da presença da ausência”, título que já sugere a leitura de um Estado que está lá, mas que não está e que, ainda assim, se faz presente por todos estes anos de conflito. Um povo cuja a ausência da sua própria terra mostra a importância que o espaço pode ter no tempo, alterando este no coração dos exilados.
A criança no meio da guerra, os conflitos com o inimigo, a injustiça e os sentimentos que isso impõe ao coração são temas presentes na obra de Darwich. Todavia, o escritor não cai na cilada da monotonia panfletária da guerrilha. Ao contrário, ele sabe tratar desses temas de uma forma universal, mostrando que o estranhamento, o estranho e o estrangeiro são condições humanas que sempre estiveram presentes no planeta. Com isso, Darwich consegue nos aproximar da causa palestina pelo viés da arte. Talvez cansados e anestesiados por tantos anos de uma luta eterna sempre apresentada pela mídia, já nem tenhamos mais interesse por aqueles conflitos tão cruéis e desumanos. Se a política afasta mais do que atrai os ouvidos desanimados e os olhos embotados de nossos jovens, a arte consegue renovar a discussão olhando por um outro prisma, apresentando de uma nova maneira. E não é exatamente esta a função da arte?
site: https://medium.com/@ribaseribas1