Pandora 31/08/2022Considerado o romance fundador da literatura haitiana moderna, Senhores do Orvalho foi publicado em 1944, pouco após a morte do autor, aos 37 anos. Além de escritor, Jacques Romain era político marxista, tendo participado ativamente da luta contra a ocupação do Haiti pelos EUA.
“Vale destacar que, logo após sua publicação original, a obra foi traduzida para diversos idiomas, tendo em conta que o momento era de grande aceitação dos ideais comunistas e forte organização de movimentos sociais, além da situação da morte precoce de seu autor em função de doenças que desenvolveu enquanto preso político. A produção de Roumain está inserida em um contexto mundial de grandes guerras, desenvolvimento de ideais e governos fascistas e estratégias desumanizantes, como o Holocausto. Com base nisso, produções literárias que concediam fios de esperança de transformação da realidade, como a obra “Senhores do Orvalho”, podem ter se tornado extremamente relevantes para aquele momento histórico.” [1]
Em Senhores do Orvalho, Manuel volta ao Haiti após passar quinze anos trabalhando nas plantações de cana-de-açúcar em Cuba. Lá ele havia participado de organizações trabalhistas e de uma greve. Ele encontra seu povoado, Fonds-Rouge, castigado pela seca, seus pais e amigos passando fome e privações. Além disso, durante a sua ausência, uma tragédia havia separado as pessoas em dois grupos rivais. Ele começa a explorar a região em busca de uma nascente de água que possa, não só beneficiar aos seus, como todo o povoado, mas para isso precisa da união de todos.
Começa muito descritivo, o que dá uma desanimada. Acho que a intenção do autor é fazer com que o leitor se coloque naquele lugar, sentindo os efeitos da natureza - e consegue; mas é o tipo de coisa que me dá sono. Leio 500 páginas de fluxo de consciência, mas descrição de paisagem… eu sei, é um problema meu. Tanto que, depois que a história engrena, eu já tinha esquecido dessa minha insatisfação inicial.
A partir da reunião na casa de Larivoire até o fim, fui tomada de uma emoção crescente e pungente. Digam que é utopia, mas a união de um povo por um bem comum nos mostra como somos fortes e a coisas maravilhosas que podemos realizar juntos. Pena que a pequenez seja uma característica tão humana.
Como já foi dito por aí, o rumo desta história é previsível, o que não tira o mérito da narrativa, nem a essência do recado.
“Não é desatino, mãe. Tem os assuntos do céu e tem os assuntos da terra; são duas coisas, não é a mesma coisa. O céu é o pasto dos anjos; eles são felizes; não têm que se preocupar com comida e bebida. E com certeza há anjos negros para fazer o trabalho pesado de lavar as nuvens ou varrer a chuva e limpar o sol depois da tempestade, enquanto os anjos brancos cantam como rouxinóis todo santo dia ou tocam trombetinhas, como aparece nas imagens que vemos nas igrejas.” - pág. 35.
Notas:
[1] Fonte: Resenha Crítica, 25/6/21.
Senhores do Orvalho foi adaptado duas vezes: em 1964, intitulado Cumbite, dirigido pelo mais importante cineasta cubano, Tomás Gutiérrez Alea (disponível no YouTube em espanhol, com legendas em inglês); e em 1975, para a televisão francesa, por Maurice Failevic, com o título original Gouverneurs de la rosée (disponível no YouTube em francês, CC francês).