Trevisolli 26/01/2012
Tintim no mundo!
Ontem fui ao cinema decidido a assistir Sherlock Holmes dois, não vi o primeiro, mas como segundo as datas Tintin só iria estrear semana que vem achei melhor ver este filme, mas ao chegar no cinema recebi a surpresa de ver que Tintin estava em pré-estréia (uma semana antes!) então resolvi assistir, é claro que eu queria ver o filme no cinema novo em IMAX, porém tive de me contentar a um 3-D que tinha por perto, dublado ainda por cima, mas foi uma agradável surpresa que vários dubladores do desenho animado original (que passava na cultura) estarem de volta, inclusive Odeban Junior, dublador original do Tintin! Infelizmente o dublador do Capitão Haddock, Isaac Bardavid não estava presente (o que é uma pena, pois sua voz marcante é a responsável por inúmeras dublagens de minha infância).
No filme, que adapta o álbum “O segredo de licorne” tem várias referencias aos outros livros, inclusive um personagem animado bem parecido com o Hergé, criador do Tintin logo no começo bem parecido com as semelhanças do desenho clássico no qual Hergé sempre aparecia nos inícios dos episódios, algo como o que o Stan Lee faz nos filmes da Marvel, aliás, os créditos de abertura do filme estão perfeitos, assim como os primeiros minutos da trama.
A tecnologia usada para capturar movimentos também, a textura apresentada nas telas e as expressões dos personagens não existe igual, assim como a movimentação dos personagens, mas sinceramente, não ligo muito para filmes em 3-D e animações prefiro as antigas feitas à mão em 2-D. Se vi o filme em 3-D é porque infelizmente não tinha outra opção, porém mesmo assim o filme se destaca em várias partes para mim e uma delas é o incrível o realismo dos personagens, uma coisa interessante é perceber que apesar do realismo se o longa fosse feito com atores reais não causaria o mesmo impacto. Se o filme fosse animado sem efeitos digitais seria perfeito, alias, não tem muito o porque de assistir o filme em 3-D, sendo que não há muita ambientação, creio que será uma experiência mais fascinante assistir a ele numa tela IMAX mesmo que seja em 3-D.
Como alguns deve saber, O segredo de Licorne apesar de se fechar como uma história, faz parte de dois álbuns, sendo seguido de O Tesouro de Rackham, o terrível, na história, Tintin após comprar uma maquete de um barco do século 17 acaba enfrentando uma série de complicações, existe aí, algumas adaptações se comparado com a história original. Como por exemplo, o fato de originalmente Tintin já conhecer o capitão Haddock desde Os Caranguejos das Tenazes de Ouro, sendo assim no original Tintin compra a réplica do navio para dar de presente ao capitão, o que faz mais sentido do que comprar um navio para si. Mas isso não fica de fora e as logomarcas dos charutos do faraó ou caixas com as tenazes de ouro aparecem em vários momentos, assim como as várias referencias a outros personagens, mas eu não quero detalhar sobre o filme. Gosto mais de falar do personagem, e a cultura que envolve as histórias de Tintin.
Para começar, gostaria de lembrar que o que Hergé fez foi o que apenas muito ano depois teria nos quadrinhos como algo parecido com quadrinhos jornalísticos.
Tin tin é um jornalista que por causa da sua posição e de sua curiosidade natural conseguiu viajar para diversas partes do mundo, entra elas a União Soviética, o Congo (estes dois ainda tratarei melhor embaixo e em um artigo próprio), Austrália, Escócia, América do Norte e do Sul, etc. Em algumas vezes Hergé demonstrou um bom estudo sobre as culturas dos outros países, mas em outras também se fez um papel de jornalista partidário, no qual apresenta ai alguns sérios equívocos, tanto por parte do ponto de vista do autor como também de que em alguns momentos não demonstrou tanto conhecimento no caso (eu li que Hergé se baseou em apenas um livro de extrema direita para retratar a Rússia) e este álbum junto com “Tin tin No congo” merecem uma atenção em especial devido à complexidade da obra, No pais dos sovietes não muito, apesar de ser um álbum bem simples, fiquei feliz quando soube que seria publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras, e triste ao comprar e me deparar com um quadrinho que denuncia a união soviética de forma de deboche, este é o único álbum que hergé não quis refazer melhorando o lado artístico e também não coloriu, ele dizia que tinha se arrependido de ter feito o Álbum e que não pretendia publicar mais, apesar disso tudo, vale a pena pela curiosidade histórica de como pensavam os Belgas e a Europa Ocidental naquela época sobre a união soviética, se tudo escrito lá realmente é verdade (e de fato algumas são) cabe isto uma matéria totalmente dedicada aonde eu teria me baseado mais em documentos para escrever. O mesmo digo de Tin tin no congo, apesar de ser redesenhado pelo autor, muitas coisas foram mudadas da época em qual foi feito, porém o álbum é amplamente acusado de racismo, para quem se interessar há todo um documento abordando o assunto aqui: http://www.ec.ubi.pt/ec/06/pdf/lucio-filho-africa.pdf.
Retiro dele um final bem escrito:
“No período em que Tintim na África foi lançado o Congo ainda não havia conquistado a independência e mantinha-se na condição de valiosa colônia da Bélgica industrial. O abade Wallez, então patrão de Hergé, desempenhou papel fundamental como influenciador dos trabalhos do desenhista, com suas ideologias favoráveis ao imperialismo em um periodo em que vigoravam as teorias raciais. Atualmente critica-se Hergé pela maneira como os povos africanos foram retratados. Entretanto, criticar sem compreender o período em que a obra foi produzida pode ser o mesmo que incorrer no crime do anacronismo. A construção dos congoleses, na obra em questão, reflete o contexto histórico no qual se inseria o desenhista, em uma época marcada pela postura colonialista, pelos estereótipos burgueses e pelo espírito paternalista.”
Mas como disse acima, estes dois álbuns em especial merecem uma análise a parte, assim como todos os outros, há também outros fatores que acusam Tintin de machista, só verificar que raramente temos uma personagem feminina nas historias, e quando tem são coadjuvantes fracas ou com alguma característica que atrapalhe os personagens principais, mas isso é uma característica nos quadrinhos daquela região naquela época, como Smurfs, (recentemente um jornalista condenou o criador dos Smurfs de Nazista, usando o símbolo do qual todos são Loiros, termos apenas uma smurfete - como diria Donnie Darko, “como os smurfs transan?”, o vilão Gargamel ter características do típico Judeu que é retratado em alguns quadrinhos humorísticos de gosto duvidoso e por aí vai ) , o mesmo com Asterix e Obelix e outros álbuns do tipo, mas como o criador do texto acima, denominado : A África que Tintim viu: metáforas da superioridade européia, estereótipos raciais e destruição das culturas nativas em uma desventura belga“ as aventuras de Tin tin são um olhar da época, e duvido muito que Hergé seja racista, anti-comunista e machista, muitas alterações de suas obras ocorreram conforme o tempo, assim como o perfil de Tin tin mudava, os personagens coadjuvantes também, sendo assim perceptível que Hergé mudava conforme o tempo, muito disso pode ser percebido neste link abaixo que demonstra varias alterações que Hergé fez em sua obra conforme o tempo:
http://dardel.info/tintin/variantes.html
Há também outros albuns que partem para um sentido contrário da coisa toda: “Tintin na Lua”, “Tintin rumo a lua”, os filmes adaptados “O segredo de Licorne”, “Tintin e a estrela misteriosa”, são algumas histórias que beira ao fantástico!
Por isso apesar de todas as acusações, ainda por cima assim como Asterix e Obelix, o Pequeno Príncipe e tantos outros quadrinhos que eu apresentaria sem sombra de dúvida ao meu filho todos os álbuns!
Além de citar este ótimo artigo que encontrei sobre Tintin no Congo acima, gostaria também de citar o ótimo blog brasileiro sobre o personagem, com noticias e informações sobre a obra de Hergé, e do qual tirei algumas curiosidades e uso em pesquisa, segue abaixo:
http://www.tintimportintim.com/