Edson Camara 22/05/2018
Livro adorável que deveria ter sido publicado em papel cor de rosa
A leitura de A cidade e as Serras é um alento para a mente e uma esperança para o espirito. Eça de Queiroz mostra há mais de 100 anos que a felicidade necessita menos de tecnologia e mais de compreensão, solidariedade e amor.
Livro adorável que deveria ter sido publicado em papel cor de rosa
O romance de Eça de Queirós, publicado em 1901, pertencente à última fase do escritor, onde se afasta do realismo e abandona a crítica pesada que fazia à sociedade portuguesa da época. O próprio título já indica sobre o enredo. Nesse livro, Queirós faz uma comparação entre a vida módica e agitada de Paris e a vida tranquila e pacata na cidade serrana de Tormes.
Tudo termina na mais santa paz e harmonia. Após a última visita de Zé Fernandes a Paris onde se decepciona e volta correndo a sua querida Serra. Separei este trecho final do livro, que exemplifica bem o sentimento dos personagens desde a segunda metade do livro: "Então, enquanto fumava o meu charuto, estranhamente se apossaram de mim os sentimentos que Jacinto outrora experimentara no meio da Natureza, e que tanto me divertiam. Ali, à porta do café, entre a indiferença e a pressa da Cidade, também eu senti, como no Campo, a vaga tristeza da minha fragilidade e da minha solidão Bem certamente estava ali como perdido num mundo, que não era fraternal. Quem me conhecia? Quem se interessaria por Zé Fernandes? Se eu sentisse fome, e o confessasse, ninguém me daria metade do seu pão. Pôr mais aflitamente que a minha face revelasse uma angústia, ninguém na sua pressa pararia para me consolar. De que me serviriam também as excelências da alma, que só na alma florescem? Se eu fosse um santo, aquela turba não se importaria com a minha santidade; e se eu abrisse os braços e gritasse, ali no Boulevard — “oh homens, meus irmãos!” os homens mais ferozes que o lobo ante o Pobrezinho de Assis, ririam e passariam indiferentes. Dois impulsos únicos, correspondendo a duas funções únicas, parecia estarem vivos naquela multidão — o lucro e o gozo."
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