spoiler visualizarAlle_Marques 24/12/2023
... do que morre um homem, senão de sua morte?
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“Uma voz proclamando a verdade é uma força maior do que frotas e exércitos, se lhe derem tempo”
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Mais um caso que não dava nada e fui positivamente surpreendida. Foi graças a uma leitura coletiva que fui, enfim, conhecer e ler essa obra, além de também ter sido meu primeiro contato com a escrita da Ursula K. Le Guin, e não podia ter começado melhor.
Foi graças a essa leitura coletiva que tive a oportunidade de me aprofundar na obra e tirar dela compreensões e reflexões que, dificilmente, conseguiria por conta própria, pelo menos não com tamanha intensidade. É um livro corajoso, único e difícil, somos jogados em um mundo completamente diferente, com pessoas e culturas excepcionais, ela não nos entrega nada mastigado e precisamos de muita atenção para compreendermos totalmente o que a autora quis dizer, entender o significado das palavras e ações que ela nos mostra, é um livro sobre preconceitos, gênero e sexualidade, amizade, sociedade e política, Ursula escreve de forma profunda, emociona e sua escrita é quase poética.
Não é uma obra para todos, mas com certeza vale a pena, afinal, Le Guin não conquistou seu espaço entre os grandes nomes da ficção cientifica à toa.
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“A única coisa que torna a vida possível é a incerteza permanente e intolerável: não saber o que vem depois.”
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Mas, como nada é perfeito, o começo do livro pra mim também não foi, os inícios tendem a serem mais complicados, ainda mais quando estamos inseridos em ambientes e pessoas completamente diferentes de tudo o que já vimos, e nesse caso foi ainda mais complicado por se tratar de um planeta novo, palavras que nunca tinha ouvido antes e pessoas biologicamente diferentes de nós, embora bem parecidas, estava achando difícil, até meio chato e maçante, não consegui simpatizar com o Genly Ai logo de cara e Estraven não parecia muito confiável, mas tudo mudou da metade pro final.
A partir da prisão do Genly, de toda aquela tensão dele no caminhão, indo de encontro a um futuro desconhecido, cercado de toda aquela incerteza, frio e sofrimento, foi a partir dai que o livro se tornou outro pra mim, que passou a me ganhar de pouco em pouco, até por fim a travessia pelo gelo, onde tudo se intensificou e a obra ganha camadas de reflexões que tornam a leitura memorável, sei que muitos consideram justamente essas partes as mais chatas e enfadonhas do livro, e eu entendo, não é nada fácil, não acontece muita coisa e os dias são repetitivos e cansativos, mas são graças as noites que esse longo período é suportado, a cada uma delas vinha algo, um dialogo, uma cena, uma novidade, uma reflexão para compensar, que fazia a leitura valer cada vez mais a pena. Foi a partir dessa travessia também, e o que aprendemos e absorvemos dela, que passei a simpatizar bem mais por Genly e Estraven.
Sobre o final, este me pegou completamente desprevenida, não imaginei um encerramento assim, ou melhor, não ousei imaginar, mas refletindo sobre ele, fica fácil de entender o quão inevitável ele era, infelizmente.
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[...] Não existe princípio nem fim, pois todas as coisas estão no Centro do Tempo. Assim como todas as estrelas podem se refletir num pingo redondo de chuva caindo na noite, também todas as estrelas refletem o pingo de chuva. Não existe escuridão nem morte, pois todas as coisas existem na luz do Instante, e seu fim e seu início são um. [...]
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13° Livro de 2023, 18ª Resenha de 2023
Desafio Skoob 2023
Leitura coletiva com o canal “Ler Antes de Morrer” (Isabella Lubrano)