Iris Figueiredo 27/09/2011
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Acho muito difícil encontrar livros de ficção cristã, pois a maioria dos livros em livrarias evangélicas são sobre "como agir em determinado momento". E eu não tenho muita paciência para livros-manuais, prefiro ficção. Quando comecei a ver resenhas sobre "A Bandeja", fiquei curiosa! Ficção cristã nacional? Queria conferir. E fui isso que fiz.
A história de "A Bandeja" acompanha Angelina, uma jovem que foi criada na igreja e veio de uma família cristã. Angelina cresceu em Petrópolis, sempre aos cuidados da família amorosa e protetora. Mas agora é hora dela traçar novos caminhos, entre eles a Universidade. Após ser aprovada no vestibular para Letras na UFRJ, Angelina vai morar em uma república no Rio de Janeiro, longe dos seus pais e em um mundo completamente novo. Ao chegar na universidade, Angelina se deslumbra com as possibilidades e conhece Rico, um professor maravilhoso e que tem muito a oferecer a ela. Um mundo aparentemente maravilhoso, servido em bandeja de prata. Mas qual caminho Angelina escolhe seguir?
Existe um "ditado" na igreja que diz que "filho de crente, crentinho não é", que quer dizer, mais ou menos, que cada pessoa é responsável pela sua própria fé - ninguém pode acreditar por você. Angelina foi criada na igreja, mas seu compromisso nunca foi forte. Para quem nasceu na igreja, sabe o quanto certas coisas são "difíceis" e "diferentes". A Universidade é um dos maiores obstáculos para o jovem cristão permanecer na fé, porque geralmente significa um lugar diferente, com pessoas diferentes e dizer o que você pensa muitas vezes é complicado. Por Angelina nunca ter tido esse compromisso sério com religião, ela acaba deixando a sua fé em segundo plano para aproveitar as outras coisas que aparecem.
Alguns conceitos de fé parecem um pouco abstratos para quem não segue uma religião, mas consegui enxergar na história de Angelina pontos relacionados à minha vida e pessoas que conheço. Essa identificação foi um ponto essencial durante a leitura. Angelina faz muita coisa que não deve, que ela sabe que está errado... De vez em quando, dá vontade de sacudir e apontar para ela as coisas certas, mas é impossível criar antipatia pela personagem, porque ela é muito humana. A não ser quando ela insiste no mesmo erro uma, duas, três vezes... Dá raiva sim e vontade de dizer: "não acredito que você está fazendo isso!".
Lycia fala sobre religião, escolhas, amor e outras coisas de uma forma muito fácil de assimilar, que não soa como uma "pregação". Acho que a autora fala também sobre cotidiano, a vida de todo mundo, mas possui uma mensagem cristã ao fundo. É uma característica da personagem, portanto, não há como ignorar. Se você não tem religião ou tem outra fé, isso não o impede de ler o livro. É para todos os tipos de pessoa.
A trama tem reviravoltas, romance, mocinho, "vilão" e cotidiano. O livro também fala sobre muitas coisas que todo mundo se depara - além de escolhas certas ou erradas que a gente toma, independentemente de nossa fé.
Vocês vão se apaixonar pelo Dante - se bem que tem quem ame o Rico, vai entender! -, se comover com alguns personagens e querer saber mais sobre eles. Estou doida para conhecer, por exemplo, a história da Desirée. Me diz que vai ter livro sobre ela, Lycia!
A escrita de Lycia é bem gostosa, a única coisa que me incomodou foi que em alguns momentos a personagem principal não fala como uma menina de sua idade, mas usa palavras como se fosse alguém mais velho. Além disso, alguns comentários da narradora são colocados em parênteses entre as falas de outro personagem, mas isso é o de menos. A leitura é, sem dúvidas, recomendada.
Me chamou atenção o grupo missionário da história, que prega nas universidades. Me pareceu inspirado no Alfa e Ômega, um projeto cristão que existe em universidades ao redor do país. São reuniões de oração que acontecem algum dia da semana e ótimos lugares para conhecer pessoas com a mesma fé que você. Na UFRJ, universidade que Angelina estuda - e eu também -, existe o Alfa e Ômega. Tanto no campus do Fundão (onde fica a faculdade de Letras) quanto na Praia Vermelha (onde fica a Escola de Comunicação e eu estudo). Em outras universidades também existem. Caso você não conheça e queira saber mais, me pergunte que eu farei o possível para pesquisar pra vocês sobre o assunto! (E se quiser saber sobre o Alfa e Ômega Praia Vermelha, me perguntem que eu repasso para a galera que cuida do grupo).
Apesar da capa ter muito a ver com a trama e com os sonhos da protagonista, acho que o livro merecia algo muito mais bonito, que ajudasse a chamar mais atenção ao livro. Mantendo a mesma ideia, mas uma arte um pouco mais legal. O livro merecia! Em relação à revisão, nenhum erro que eu tenha reparado, o texto está bem cuidado.
O que pode incomodar a algumas pessoas que não estão acostumadas a ler a Bíblia são os versículos bíblicos no meio da história, mas para mim isso foi um plus! Só acho que poderiam ter usado alguma versão menos "robusta" do texto bíblico, para cativar aqueles que ainda não estão acostumados com a linguagem de versões mais sérias da Bíblia. A tradução em Nova Versão Internacional ou Nova Tradução na Linguagem de Hoje tem uma linguagem mais "prática" que serviria ao mesmo propósito no livro, mas isso não me incomodou. Afinal de contas, é ótimo as pessoas irem se acostumando com uma linguagem mais incrementada, aumentando o vocabulário - e a Bíblia é um excelente livro para isso. Além do que, algumas coisas em traduções mais "simplórias" acabam desviando do significado real da frase. Mas é bom destacar esses pontos para quem vier a ler o livro no futuro.
Se você não é cristão e está com o pé atrás, é só jogar o nome do livro no Google e ver opiniões de outras pessoas que não tem religião e leram o livro. Eu recomendo fazer isso, quem sabe você não se interessa mais ainda?
Assim que terminei, já peguei o segundo volume da coleção, "Entre A Mente e O Coração"! A série é composta de "companion books". São livros que se passam no mesmo universo e alguns personagens em comum, mas nenhum deles é narrado pelo mesmo narrador.