Aione 05/12/2011Difícil resenhar sobre um livro que foi uma surpresa para mim. Tal surpresa, entretanto, nada tem a ver com o fato de eu ter gostado do livro, já imaginava que este seria o resultado final da leitura, ainda que eu não esperasse o que, de fato, encontrei. Fui surpreendida por seu conteúdo.
Quando me deparei com a sinopse de “A Bandeja – Qual pecado te seduz?” me preparei para um romance recheado de mistérios. Há romance, há mistérios, mas estes só servem como um plano de fundo para uma mensagem muito maior. Pelo menos, foi essa a impressão que tive: Lycia Barros criou uma história para transmitir uma mensagem e foi muito feliz em seu resultado.
Primeiro, sobre a construção da história. Fui tragada para dentro do livro logo que comecei a ler. A narrativa é envolvente e convidativa, e vai se desenvolvendo aos poucos. Sabe quando a cronologia da história é rápida, mas o enredo é tão bem descrito que se torna verossímil? É o que acontece aqui: em momento algum duvidei da intensidade dos sentimentos de Angelina ou de seu deslumbramento. Ademais, se eu pudesse, dividiria a história em duas partes: na primeira, há o desenrolar dos fatos que criam a história e a encaminham para a segunda parte, na qual há o predomínio do auto-conhecimento e amadurecimento da protagonista.
Angelina cresceu em uma família religiosa, cercada por conceitos que, na realidade, nunca compreendeu muito bem. Sua ida para a faculdade simboliza, acima de tudo, sua independência, é o primeiro momento de sua vida que ela não tem seus pais ou os melhores amigos, Natasha e Dante, para aconselhá-la prontamente. Dessa maneira, Angelina não sabe como lidar com as situações pelas quais acaba passando, principalmente com o fato de se apaixonar pela primeira vez.
Rico é envolvente, misterioso, charmoso e irresistível. É o oposto de Angelina e ambos se atraem feito o magnetismo de um imã. Invadida por um turbilhão de sensações desconhecidas, que a entorpecem por completo, a garota passa a ser comandada por seus sentimentos, sem enxergar motivos para ir contra a eles. Dessa maneira, sua paixão por Rico se torna sua única e exclusiva prioridade, nada mais em sua vida tem importância, porque ele é sua fonte maior de felicidade. Ao mesmo tempo, seus sonhos, cada vez mais reais e simbólicos, são indicações para o que ela vive, embora lhe falte o entendimento prévio dos ensinamentos dados pelos pais e pela igreja para compreendê-los.
Foram duas as coisas que mais me chamaram a atenção nesse livro: a primeira foi a realidade dos sentimentos de Angelina. Já senti muitas das suas angústias e temores e, se não os senti, já vi amigas que os sentiram. Seu deslumbramento cego é o que mais comumente ocorre quando se vive uma intensa paixão, capaz de derrubar com a mesma força que elevou em um primeiro momento.
A outra característica que me chamou a atenção foi também a responsável pela minha surpresa ao ler o livro: é um romance cristão. Embora haja menção desse conteúdo na sinopse do livro, não esperava que fosse tão presente na história. Por Angelina ser de uma família religiosa, é constante o aparecimento de trechos bíblicos no enredo, os quais fundamentam o aprendizado da protagonista. Entretanto, o livro não trata de religião, e sim do que acredito ser a base de todas as religiões: Deus. Independente da maneira de como é chamado, devido a uma variação cultural e religiosa, todas as religiões, ao meu ver, pregam, no fundo, os mesmos princípios de amor, fé e esperança, apenas se utilizam de palavras e métodos diferentes para isso. “A Bandeja” traz a mensagem desses princípios comuns, do significado e da importância do amor divino em nossas vidas acima de qualquer religião, e afirmo isso por nunca nem ao menos ter frequentado a igreja da religião de Angelina e, ainda assim, me deparei com muitos ensinamentos comuns ao que acredito.
Sem dúvida, ainda que eu não esperasse esse conteúdo, foi o que mais gostei na história. É bom quando encontramos com uma mensagem positiva em um livro, algo que nos faça refletir e que seja passível de aplicação em nossas vidas. Ao iniciar a leitura, esperava um bom entretenimento e, ao finalizá-la, não só atingi essa expectativa como também adquiri algo muito maior, através do aprendizado de Angelina. Independente de se concordar ou não com alguns dos conceitos apresentados, a mensagem de amor e fé apresentada na história é universal.
O único ponto negativo que poderia ressaltar nem ao menos chega a influenciar a leitura. Certas passagens são narradas muito superficialmente, apenas informando ao leitor o que aconteceu em determinado período de tempo. Somente em alguns trechos senti falta de uma maior descrição, principalmente os relacionados à Natasha. Gostaria de ter acompanhado melhor alguns dos acontecimentos ao invés de simplesmente ter conhecimento de que ocorreram. Porém, como já dito, isso mal chega a ter algum impacto na leitura.
“A Bandeja” é o primeiro livro da série “Despertares”. Porém, a série não é composta por volumes que continuam uma mesma história, e sim por histórias independentes, cada qual sobre um personagem que aparece no primeiro livro. O segundo, “Entre a mente e o coração”, narra a história de Rico e já foi lançado e estou curiosíssima para lê-lo. Só tenho a agradecer a Lycia por ter me possibilitado a leitura desse belíssimo romance, sua mensagem certamente tocou meu coração.