gmarquez 09/09/2023
Um Homem Impossível.
Buenas e me espalho! Capitão Rodrigo chega trazendo novidades pro povoado de Santa Fé assim como Veríssimo traz conhecimento histórico e críticas sociais para os leitores de sua obra.
A leitura é muito tranquila e fluída, o leitor se prende a história como um todo, a construção de todos os personagens, além do protagonista, levam em consideração tantas camadas que torna o livro genial.
Elogio em especial a profundidade do autor ao escrever sobre a arbitrariedade do coronel e a "cumplicidade" do vigário ao se omitir, dominação essa que se mostra tanto na forma moral como no mundo físico (seja mantendo controle por homicídio ou por simplesmente confiscar gados/colheitas da população), não só para com a população como as "alfinetadas" do autor quanto a escravatura.
Fiquei fascinada com esta forma de me aproximar da história dos gaúchos, reconhecendo até mesmo a influência da língua espanhola no dialeto, em relação aos personagens, pouco se diz sobre a força da família Terra, que apesar de não ser explicitamente ousada como o Cambará, teve sua forma única de resistência. Faço menção também a como a vida é observada, apesar das dificuldades e sofrimento do povo, as nuances do quase morte, da morte e principalmente de viver em injustiça, mas tudo observado com humanidade, o contentamento com coisas simples, destaco este ponto como uma agradável reflexão sobre a existência...
Trechos Marcados:
"Ora... Eu sempre digo, se é contra o governo podem contar comigo."
"Sei que sou meio esquentado e às vezes falo demais. É que gosto muito da vida."
"Ao ver as coisas do marido - o uniforme, a espada, a medalha-, sentiu que quem tinha mais forte a marca de Rodrigo era ela mesma. Tinha-a em todo o corpo, como que feita a fogo."
"[...] desejou morrer naquele momento, morrer porque temia que no futuro essa felicidade acabasse."
"— Mas o mundo não é o que a gente quer — disse ele, quebrando o silêncio. — É o que é.
— Eu sei o que ele é. Mas a gente não deve se entregar. Deve lutar para conseguir as coisas que quer. Não há muita gente disposta a dar. Às vezes é preciso tirar à força."
"Um dia essas mudanças hão de fazer-se."
"Não tinha meio-termo: com ele era risada ou choro, beijo ou bofetada, festa ou velório."
"Mas no fundo achava que luto era uma bobagem. Afinal de contas para ela o marido estava e estaria sempre vivo. Homens como ele não morriam nunca."
Obs: Minha opinião descrita não leva em consideração o filme "O tempo e o vento" porque não o assisti e não há menção de críticas óbvias como machismo e racismo tendo em vista que infelizmente eram a realidade da época.