spoiler visualizarFeliz451 18/01/2023
Um Conto de Fadas, E Um Carpinteiro
Piadas a parte no título, acredito que ele se encaixe perfeitamente com o que quero escrever aqui. Por muito tempo essa foi minha saga literária favorita, o que sempre me apavorava quando eu pensava em reler os livros. Sempre me passou pela cabeça que o fato de tê-los achado tão incrível era o fato de os ter lido ainda bem jovem. Cara, como é bom estar enganado as vezes!!
Nova Ether é um mundo protegido por poderosos avatares em forma de fadas-amazonas, porém um dia, cansadas das falhas dos seres racionais algumas delas decidem se voltar contra as antigas raças. E assim nascem as bruxas, e assim surgem as caçadas. Com essa simples sinopse, Raphael Draccon consegue te prender em um mundo de fantasia que, em muito, acaba lembrando do nosso e onde coisas estranhas nunca, mas nunca deixam de acontecer.
No livro, acompanhamos diversos pontos de vistas de diferentes personagens (alguns já bem conhecidos por nós leitores), que em sua maioria vivem em Andrianne, capital do reino de Arzallum, o principal cenário da narrativa. Com capítulos curtos e dinâmicos, e muitas vezes não lineares, com o narrador (supostamente um bardo) indo, voltando, parando e até mesmo se esquecendo da história de vez em quando. Draccon nos faz mergulhar fundo no cotidiano e no estilo de vida que esses personagens levam, sendo ir à um teatro, à uma escola e até mesmo em um encontro com um Príncipe Encantado! Opa, essa última parte não é algo tão cotidiano assim, não é mesmo?
Pra quem não sabe, a principal ideia da Saga é que exista um mundo formado a partir de pensamentos e intenções (basicamente uma consciência coletiva da humanidade) onde personagens de contos de fadas vivem todos em um mesmo mundo, que é moldado a partir de semideuses (nós, leitores. O que ocasiona em ótimas sacadas de meta linguagem), o que pode explicar o motivo de personagens de conto de fadas em um contexto medieval falarem de um modo tão próximo ao nosso. Por exemplo, em um determinado capítulo, envolvendo o já citado príncipe encantado, uma das personagens principais está torcendo para ele em uma competição de pugilismo e grita a plenos pulmões: "Lindo! Tesão! Bonito e...!", infelizmente sendo interrompida antes de continuar.
Outra coisa muito legal são as referências mais nerds feitas nesse livro, sejam elas nos nomes de personagens, lugares ou até em descrições de histórias dentro do universo e sonhos de uma das protagonistas. Fãs da franquia Final Fantasy que lerem o livro ficarão surpresos ao descobrir que a Rainha (com R maiúsculo) de Arzallum se chama Terra Branford, nome da protagonista de Final Fantasy VI e que comparando a narrativa das duas obras, foi uma escolha genial. Acredito que outra figura central do romance, Sabino Von Fígaro também tenha tido seu nome retirado do mesmo jogo.
Tá, eu falei, falei mas afinal: sobre o que é esse livro? Os pontos de vistas principais que acompanhamos ao longo dele são: João e Maria Hanson (sim, os da casa de doces), Ariane Narin, Axel Terra Branford e Snail Galford. A maioria desses personagens, assim como João e Maria saíram direto de contos de fadas, que aqui tem versões bem mais sombrias do que as versões mais populares. Vou evitar me estender demais e acabar dando spoiler do livro inteiro, mas só queria ressaltar o quanto nesse primeiro livro todas as narrativas acabam se entrelaçando e contribuindo para que a história seja contada com maestria e que poucos furos de roteiro acabem surgindo (e sendo corrigidos em livros posteriores).
Acredite ou não, a busca por um irmão perdido do outro lado do continente, a jornada de uma garotinha rumo ao sobrenatural, as desventuras românticas de uma jovem camponesa com um príncipe, as tramoias de um pirata ladino que passa a perna em duas das mais perigosas facções criminosas do reino e um jovem invocado que acha que sabe tudo formam um única e excelente história que vai te prender do começo ao fim. Por isso a piada com o carpinteiro no título, Draccon com muita maestria conseguiu pegar todas essas peças e montar um belíssimo "móvel" em forma de narrativa que por mim foram vistas em pouquíssimas outras obras.
Por fim, por mais que eu quisesse continuar discorrendo o quão incrível é esse livro, e todos os detalhezinhos escondidos e fantástico que ele esconde, essa resenha já tá grande demais e ainda faltam mais três pra falar sobre!! Considerações finais: Ariane é a personagem mais perfeita desse livro, e justamente por seus defeitos (ser uma adolescente irritante), plot twists muito bem amarrados, um mundo vivo, e um fechamento incrivelmente satisfatório que faz essa história se fechar em um perfeito ciclo, tanto que, se você quiser apenas ler o primeiro livro da saga, eu acredito que ele funciona muito bem sozinho. A partir do segundo no entanto, as coisas mudam, e muito!