Isadora1232 10/07/2020Dostoievski é mestre em transmitir os mais extremos sentimentos em seus leitores. Entusiasmo, indignação, angústia, desilusão, tudo é sempre muito intenso. O Idiota não é uma exceção a essa regra - chame-o do que quiser, menos de insosso.
É impossível sair indiferente dessas páginas e da história do Príncipe Michkin, um misto de Cristo e Dom Quixote, perdido em meio a uma sociedade aristocrática, interesseira, cheia de preconceitos e vaidades. Mas é claro que essa premissa simplista é inútil. Assim como em todos os trabalhos do autor, nada é superficial. Os personagens, por mais cretinos ou irritantes que sejam, são desenvolvidos de forma bem complexa e tridimensional, o que, na minha opinião, é uma das melhores marcas de Dostoievski.
Não é, contudo, uma leitura fácil. Os diálogos e o ritmo narrativo refletem a mente dos personagens, por isso temos alguns saltos e, por vezes, ideias embaralhadas e difíceis de decifrar. Como bem explicou Paulo Bezerra no prefácio desta edição, "esses elementos estilísticos são índices caracterológicos e parte inalienável do perfil de cada personagem (...), sua omissão representaria uma lacuna no conjunto da imagem de cada personagem (...)" (p. 8).
O ideal é o leitor já estar acostumado ao estilo de escrita do autor e escolher uma boa tradução. Aliás, os livros da 34 são sempre excelentes, mas essa edição de O Idiota me surpreendeu. Tradução impecável como sempre e muitas notas de rodapé que enriquecem na medida certa essa leitura.
É um romance que gera excelentes e demoradas reflexões, e com certeza uma única leitura não será suficiente pra extrair tudo dessa grande obra.