Zé - #lerateondepuder 25/02/2020
A Sonata à Kreutzer
A escolha do livro A Sonata à Kreutzer foi exatamente com o intuito de iniciar as leituras das obras de Tolstói. Liev Nikoláievich Tolstói, também conhecido como Leon, Leo ou Liev Tolstói, foi um dos maiores escritores de todos os tempos. Um russo da era dourada de literatura daquela singular nação, Liev Tolstói foi, na verdade, um autor um tanto quanto controverso, por vezes tomado por, até mesmo, pervertido. Nascido na aristocracia, serviu ao exército, combateu na Guerra da Criméia, para depois escrever e ser reconhecido, trazendo-nos clássicos como Guerra e Paz, A Morte de Ivan Ilitch e Anna Karenina.
Este clássico foi escrito em 1889, quando Tolstói já caminhava para a fase de sua espiritualidade aguda, sendo Sonata à Kreutzer uma forte narrativa sobre o casamento e a questão da traição, onde o autor expressa uma visão muito negativa sobre as relações formais da época, com uma alta dose, por que não dizer, de misoginia para com a figura feminina.
São poucos os personagens mais marcantes, concentrando-se na figura de um narrador, com o protagonista
Pozdnychev, o que se transforma em boa parte do livro em quase um monólogo do personagem principal, descrevendo como acontecera a infelicidade do seu casamento, as críticas a sua esposa e a pretensa traição desta com um músico conhecido por Troukhachevsky.
Começa a trama com o narrador em um trem, ouvindo a conversa de uma senhora, com um advogado e outro senhor, cujo tema principal é o casamento, o divórcio e até mesmo sobre questões de traição. Este senhor diz que o dever de uma mulher é temer o homem. A senhora rebate, afirmando que só o amor legítimo pode consagrar o casamento. O senhor continua sua crítica, dizendo que homens e mulheres pretendem passar por monógamos, mas são, na verdade, polígamos. Então, o senhor é reconhecido como Pozdnychev, aquele que matara sua própria esposa.
Ficam sozinhos então o narrador e Pozdnychev, que começou a contar sua história. Filho de uma boa família, onde notoriamente os pais seguiam uma boa e reta moral e se amavam. Mas ele acabou seguindo uma vida leviana e devassa, perdido entre amigos, bebidas e mulheres que ofereciam gozo por dinheiro. Na história que conta ao narrador, compara estar tão perdido como um bêbado ou um fumador de ópio, passando assim por dez anos. Descreve como as mulheres, de uma forma geral, se comportam com o objetivo íntimo único de atrair os homens, quer seja solteira, casada ou de qualquer classe. E foi isso que lhe aconteceu, ao procurar sua pretendente.
Diz o protagonista que as mulheres quando fazem 15 anos ficam prontas para casarem como se fossem uma mercadoria. Não têm o direito a escolher seu parceiro, sujeitando a ser escolhida, mas se vingam pela sedução e
armadilhas, tornando-se uma rainha poderosa. Desta forma, o homem e a mulher pretendem passar por monógamos
quando realmente são poliandros ou polígamos. Quando, passados dois meses de casados, desejam separar-se, e o
casamento os impede de tal, então começa a vida infernal que conduz à embriaguez, à ferocidade, ao assassinato, ao envenenamento e ao suicídio. E a viagem de núpcias, a solidão a que se condenam os recém-casados não são mais do que um estímulo ao deboche.
Muitos dos camaradas de Pozdnychev eram casados e não tinham abandonado as suas ideias de poligamia. Pelo contrário, ele jurara viver sempre como monógamo. Mas a mulher para o protagonista é um manancial de gozos, e se ela se compenetrasse desta triste verdade, passaria a ser um monstro, porque com o auxílio do médico inutilizar-se-ia para a maternidade. Quanto aos seus afazeres, as mulheres sem concentram futilmente em vestidos, enfeites, tratar da sua beleza, estudar música, dança, ler romances, ir ao teatro. Fora destas, não tem outras ocupações: não trabalha e alimenta-se bem.
O ciúme, o ciúme sem motivo, foi uma das grandes calamidades de sua vida conjugal. Para ele foi uma constante tortura e continua criticando as mulheres que, em geral, são teimosas, perversas, egoístas, tagarelas, e as raparigas até à idade de vinte anos são tudo quanto há de mais puro e de mais nobre.
Decorridos os primeiros quatro anos depois do seu casamento, estavam completamente divorciados. Perante os estranhos conversam sobre tudo, abordando as coisas mais íntimas, mas a sós, nunca. Pozdnychev fumava extraordinariamente e o excesso do ópio, com um ou outro cálice de bebida, o mergulhava numa espécie de embriaguez que não o deixava ver o horror da minha situação.
Foram, então, habitar a cidade. Há mil coisas que lá os distraem: os negócios, as visitas, as doenças, a arte, a saúde das crianças e a sua educação e a esposa acabou adoecendo. Desde que deixou de ter filhos, ela engordou e com sua doença, o cuidado na saúde dos filhos desapareceu. Parecia ter despertado de um letargo. Um belo dia, os médicos têm a bondade de lhe dizerem que podia muito bem evitar os filhos. Invadiu-a uma grande alegria. O piano, que voltara ao esquecimento, passou a ser a sua predileta ocupação. Foi a origem da catástrofe.
Foi um homem com o seu violino que deu origem à catástrofe. Uma crise terrível aproximou-se, segundo Pozdnychev, que pensou no suicídio e em cometer um crime. Queria se conter, mas não pôde, invadindo nele uma verdadeira cólera. Troukhachevsky os procura assim que chegaram a Moscovo. O pressentimento era de que esse homem seria o causador de uma grande fatalidade. No dia seguinte, confessa o marido de que tinha ciúmes de
Troukhatchevsky, mas sua esposa não se perturbou e desatou a rir, como se eu lhe dissesse o maior dos absurdos, e que se ele desejasse, não o tornarei a ver.
Pozdnychev viaja e deixa sua esposa sozinha com os filhos, na esperança de que ela não mais veria o músico. Só que na volta, começa a ter delírios e fantasiar em sua cabeça que sua esposa o estava realmente traindo. Ao chegar em casa, constata que ela estava apenas jantando, mas vai até seu escritório, pega um punhal e o enterra em suas costelas, vendo sua esposa falecer demoradamente. É preso por apenas onze meses e termina se arrependendo do seu vil ato.
A obra foi escrita em um contexto de pré-revolução russa, em uma sociedade de muitas regras e costumes. Uma de suas interpretações é a de como os homens podem ser levados à verdadeira insanidade pelo ciúme, mas faz uma abordagem muito preconceituosa para comas mulheres. Deixa uma visão bem particular e um tanto quanto torpe do autor quanto aos relacionamentos, mas é de leitura fácil e rápida. É interessante conhecer mais a vida e outras obras de Tolstói para tentar compreendê-la um pouco melhor.
A edição lida foi de 2013 da Centaur Editions, traduzida por Maria Benedita Pinho, uma edição no formato EPub, lida no leitor Lev, podendo ser baixada no LeLivros, em: http://lelivros.love/book/baixar-livro-a-sonata-a-kreutzer-leon- tolstoi-em-pdf-mobi-ou-ler-online/, acesso em 23 fev. 2020. Há, pelo menos, outras quatro edições e o nome é uma homenagem e comparação com a obra de Beethoven, uma sonata que vai elevando os acordes à medida que vai se desenvolvendo, como o trama que vai elevando a loucura de um homem pretensamente traído, até o assassinato e morte de sua esposa.
Paz e Bem!
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