Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018
Decadência do Imoerio Português
?Viagens na Minha Terra", de Almeida Garrett, faz parte da lista de livros indicados pela Fuvest. É uma indicação peculiar pelo caráter da obra e confesso que sua escolha causou-me surpresa.
Sua leitura é difícil e a história divide-se em duas linhas mestras: as impressões de uma viagem realizada entre Lisboa e Santarém e o caso amoroso entre Carlos e Joaninha durante a Revolução Liberal, relatado durante o trajeto.
Um ponto fundamental está na compreensão desse momento histórico. Após a invasão napoleônica e a fuga da Família Real para o Brasil, Portugal viveu uma disputa politica e ideológica entre Conservadores (ou Absolutistas) que não aceitavam restrições ao poder régio e Liberais (ou Constitucionalistas) que possuíam uma visão mais progressista do poder, fruto de novas ideias que varriam o continente europeu. Em 1830, a situação tornou-se insustentável, dando origem a uma Guerra Civil entre a Monarquia, aliada ao clero, e a burguesia em ascensão. Dessa disputa, saiu vencedora a Facção Liberal, liderada pelo nosso imperador D. Pedro I que assumiu o poder como D. Pedro IV, ao derrotar seu irmão D. Miguel.
Publicado em 1846, durante o Romantismo, o livro não se enquadra nesse estilo com exceção da trágica história "A Menina dos Rouxinóis" que faz parte da narrativa. Aliás, Garrett, repudiava o movimento e de acordo com suas palavras: "A sociedade é materialista; e a literatura, que é a sua expressão, é toda excessiva e abundantemente espiritualista."
O escritor também aparece como narrador e chega a participar do romance, sendo apresentados seus pontos de vista, opiniões e experiências, inclusive, ele questiona o leitor, atentando para o que falou ou aconteceu. Uma outra novidade é a mistura de estilos assim como sua linguagem criativa com expressões e imagens inovadoras enxertadas no texto.
Exibindo inúmeras digressões, a narrativa exibe uma marcante intertextualidade, indo de Camões a Shakespeare, passando por Homero e outros autores, afora o uso da metalinguagem, exemplificando: " Isto pensava, isto escrevo; isto tinha n'alma; isto vai no papel: que doutro modo não sei escrever."
Finalmente, eis o mais bem acabado retrato da decadência do Império Português. Boa sorte e até a próxima!