Sara Muniz 01/03/2017
Resenha - Viagens na minha terra
Viagens na minha terra, de Almeida Garret, começou a ser publicado como folhetim em 1845 e só depois se tornou um livro. Almeida Garret é conhecido como o pai do romantismo português, e fez parte da 1ª fase do romantismo. Apesar de ser um clássico da literatura portuguesa, e ter sido escrito pelo pai da mesma, eu simplesmente não gostei desse livro, mas vamos por partes:
Primeiramente, o livro narra a viagem de Almeida Garret, de Lisboa até o vale de Santarém. Em uma enrolação sem tamanho, ele descreve como foi a sua "emocionante" viagem. Chegando em Santarém, ele encontra uma bela janela e fica curioso sobre quem poderia ter morado ali, então o guia lhe conta a história da Menina dos Rouxinóis, que é quando o autor insere, no meio do que até então parecia ser um diário de viagem, uma novela.
A Menina dos Rouxinóis é a história de Carlos e Joaninha, dois primos que se apaixonaram. Na realidade, Joaninha é apenas uma criança, quando seu primo Carlos (bem mais velho), vai para a guerra. A avó, que cuidava das duas crianças, fica cega de tanto chorar quando Carlos vai embora. Quando ele volta, ele se depara com uma Joaninha crescida e ambos se apaixonam, mas ele não pode ficar com ela, pois é casado na Inglaterra. Há também um frade, que vive se metendo com a família e que, por conseguinte, Carlos acaba descobrindo que é o pai dele. O final da história é sem graça, triste e você não vê sentido nenhum para aquilo ter sido apresentado no livro.
O livro é cheio de digressões, inclusive não só com elementos de cena, mas nos próprios capítulos. Uma hora estamos lendo a Menina dos Rouxinóis, outra hora, o autor já começa a falar de sua viagem, da guerra civil de Portugal, de como ele pode ser comparado com Dante e Homero...
Não posso dizer que o livro não tenha acrescentado em nada, afinal, o autor faz algumas reflexões bastante interessantes, que vão ser sempre aplicáveis, como essa:
"Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? — Que lho
digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já devia andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis".
Avaliei Viagens na minha terra como regular, porque apesar das reflexões, esse é um livro feito somente para enrolar, basicamente. O próprio autor diz que é uma obra para divagar, inclusive pede desculpas várias vezes ao longo do livro, referindo-se a nós leitores, dizendo que podemos pular páginas, pois naquele momento ele estava "sonhando". Fazendo uma pesquisa mais a fundo sobre esse livro (já que terei de fazer um trabalho sobre ele), descobri que é o tipo de clássico que ou você ama, ou você odeia. Fico com o segundo caso.
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