hanul_ 24/06/2024
Só no final do livro que eu percebi que Cem Anos de Solidão é, provavelmente, uma das histórias mais tristes que eu já li na minha vida.
Veja bem, não entrarei com "spoilers" do final, então, sem analisar esse mérito, direi que a trajetória de cada membro da família Buendía é tão solitário e, ao seu modo, tão trágico que toda a tristeza dessa história me atingiu de uma vez toda, sem dó nem piedade, ao final dela.
Acompanhar a família Buendía e acompanhar o povoado de Macondo durante cem anos, fazendo orgulhosamente parte da América Latina assim como eles, é uma experiência realmente a parte. Isso porquê, se a sua família não é totalmente Buendía, com toda a certeza é, pelo menos, um pouco Buendía. Ao mínimo, você conhece alguma família assim.
Creio que justamente essa proximidade acidental com a nossa realidade e, talvez, modo de vida, torna ainda mais esse livro, uma história dolorosa, pois, perceba, não apenas com a família no geral, mas também (e especialmente) com os personagens há uma possibilidade de identificação tão profunda que chega a ser vergonhoso em alguns casos, isso pois, aqui, a identificação não é apenas pelas qualidades mas principalmente pelos defeitos.
Cada personagem é tão único em suas falhas quanto em suas qualidades e, conforme o tempo passa e você os observa crescer e se transformar, é impossível definir alguém na leitura tão superficial de bom ou mau. São seres humanos, não há como enquadra-los em hipóteses tão basicas, extremas e irreais.
Creio que muitos consideram a leitura um desafio pela repetição de nomes na família, mas, honestamente, não considerei isso um grande empecilho. Os nomes se repetem a cada geração mas não é esse mar de dificuldades lembrar quem é quem. Da mesma forma, a forma de escrita do Gabriel Garcia Marquez, deveria ser uma razão para justamente ler esse livro e não afastar possíveis leitores.
É assustador a forma como o autor conduz as palavras, formando um dos fios narrativos mais magníficos que eu já consegui presenciar. Temos tantas informações, mas tudo é tão claramente exposto, tudo parece tão natural, a narrativa te engole tão facilmente que, ao terminar um capítulo, ao fechar o livro, tomamos quase um susto ao perceber que não estamos em Macondo, de fato.
O realismo mágico, tão mencionado quando se trata dessa história, precisaria de uma (ou melhor, inúmeras) dissertações de mestrado e dourado para conseguir, talvez, se aproximar do completo esgotamento.
Enfim, ainda que a história tenha rendido momentos realmente hilários, do meu ponto de vista, o que resta ao final é essa melancolia de perceber que, no final das contas, estamos sozinhos e se dermos sorte, apenas poderemos partilhar tão solidão com outras pessoas