amandafffdo 13/05/2024
Insondável solidão que ao mesmo tempo os separava e os unia
Meu primeiro contato com Gabriel foi como um encontro de duas pessoas que já se conhecem, só não sabem de onde ou desde quando.
Cem anos de solidão compreende a história da América Latina e da própria solidão vivida por essas terras. A personificação, de ambos, é construída de forma a envolver o leitor com certo distanciamento, como quem anuncia: "eu sou o autor e conheço essa história." Dessa forma, Gabriel demonstra total controle da escrita e da narrativa, sabe há que vem e aonde vai - um deleite.
Apesar dos capítulos longos, dos inúmeros acontecimentos em uma linha do tempo um tanto irregular, da repetição dos nomes e das peculiaridades de cada um dos Aurelianos e José Arcádios, a leitura não é cansativa e transporta muito facilmente o leitor até Macondo. Além disso, minhas percepções acompanharam sensações dos personagens, de modo que nos capítulos finais o que senti não foi cansaço do livro, foi cansaço de cem anos, cansaço do tempo, da solidão.
O realismo fantástico, característica evidenciada na maioria das obras do autor, pode causar certo estranhamento inicial, mas é organicamente dissipado à medida que nos entregamos a leitura. Uma chuva de flores amarelas não poderia de modo algum se tornar desagradável...
Em síntese, leitura absolutamente recomendável!
Fim da estirpe.