spoiler visualizarGean 19/09/2023
O que é que você esperava? O tempo passa.
Que o tempo passa, todos nós sabemos. Vivemos cercados de relógios e calendários, se arrastando pelo cotidiano à procura de um grande evento, conquista ou até mesmo amor.
Que a morte chega, todos nós sabemos.
Vivemos cercados por más notícias, sufocados pela presença da morte dentro e fora do nosso círculo social, lutando cada vez mais para que não nós nos encontremos com a morte através de nós mesmos ou dos nossos entes queridos.
E que nasce-se amaldiçoado a solidão, temos consciência disso? A solidão, como os elementos referidos também é companheira no nosso dia a dia, mas sua a presença diferentemente, em pouco caso é percebida.
Cem anos de solidão traz um perspectiva diferente não só do tempo, mas dá morte e obviamente, da solidão.
Gabo neste livro, ao meu entender faz uma relação direta à herança da colonização deixada pelos europeus, ao fato de que não estamos somente cem anos condenados a solidão, mas sim durante todo o seguimento de nossa estirpe. Quando estava na exata página em que a Úrsula alterna a fala que é o título desta resenha, eu tive uma conversa com meu Pai e conheci mais da minha estirpe, correlacionei que assim como os Buendías, minha família vive como se tivesse presa ao tempo, mas não na medida convencional em que ele passa, mas sim na medida em que ele se repete. Partir deste pensamento, eu ouso dizer que isto não é algo particular da minha família, que apesar de todos os avanços nós âmbitos sociais e tecnológicos, continuamos todos a viver como os nossos pais, avós, bisavós e tataravós, não de maneira idêntica obviamente, mas de maneira semelhante, assim como mostrada no livro. Além da herança de não ter uma segunda chance sob a terra, deixada a nós pelos nossos queridos antecessores europeus, a solidão é retratada não somente como um estado de espírito que pode estar ou não estar, mas sim quase como algo objetificado que pode ter se ou não ter, algo que escolhemos por orgulho ou soberba viver com. Ao refletir sobre essa objetificação da solidão, eu percebi que eu tenho à minha própria solidão, e que ao continuar carregando está solidão, isolei-me da pessoa com quem eu à partilhava, sendo assim, acabei por ficar sozinho devido a minha própria solidão, criando se quase que um círculo vicioso que todos nós seguimos. É quase como se fosse uma vontade subconsciente de ser infeliz, algo que mesmo com toda a felicidade disponível, continua a viver como um parasita nas estranhas da memória, algo que, muita das vezes é simplesmente, como eu disse antes, por soberba ou orgulho, algo que é quase intencional.
Cem anos de solidão vai muito além destes poucos conceitos que citei, e é um livro tão completo do início ao fim que a cada lida deve-se ter uma percepção diferente, não só da época em que se lê, mas também da pessoa que se lê. Este livro é uma daquelas obras que se vale a pena ler resenha, pois a partir de cada resenha se tem um novo ponto de vista que pode ser completamente diferente do anterior, e depois de todas estas linhas escritas venho dizer que até o presente momento, cem anos é o melhor livro que eu já li e que após todos os minutos escrevendo essa resenha, digo que o tempo passa. É verdade, mas nem tanto.