Pryh Santos 29/12/2013
Finalmente consegui ler o primeiro volume de As Peças Infernais. Confesso que quase adiei a leitura para 2014, mas, felizmente, descartei a ideia. A primeira impressão que tive do livro é que ele, ao menos em principio, se mostra um pouco mais arrastado que os de TMI, mas tal característica não prejudicou a trama em minha opinião. Por ser um tempo diferente, que remete a origens dos Caçadores de Sombras ancestrais aos de TMI, o desenrolar mais lento pode até ser visto com bons olhos.
Uma das coisas que quero salientar aqui e que fiquei bastante admirada, embora seja esperado de quem vá escrever romances históricos, foi à preocupação da autora e dedicação para adaptar a história a Inglaterra Vitoriana, e não só pelo livro como pelas observações finais da obra podemos ter a mínima noção da dedicação de Cassandra as pesquisas para ambientar a trama de forma com que ela se ajustasse o máximo possível. Só isso já é suficiente para me causar ainda mais admiração.
Durante a leitura e no início dos capítulos ainda nos deparamos com poesias. Um fato que eu adorei, assim como as citações feitas pelos personagens em seu decorrer. Toda a poesia foi escolhida de modo que seriam as que Tessa, a protagonista, leria em sua época, com duas exceções salientadas pela própria autora. E obviamente a vontade que ficou após encerrar a leitura foi a de procurar cada um dos poemas que ainda não conhecia.
Bem vamos à trama em si. Tessa vai para a Inglaterra encontrar o irmão, e agora único parente vivo após a morte da tia, e quando chega à cidade além de ter uma péssima impressão do país devido ao excesso de umidade e chuva tão característica ainda acaba sendo sequestrada pelas Irmãs Sombrias. E é chantageada a usar seu dom recém-descoberto sob contestantes ameaças das Irmãs Sombrias contra a vida do irmão de Tessa, Nate, o qual elas teriam sequestrado também. A protagonista temendo que algo de ruim aconteça ao irmão acaba colaborando e deixando-se ser treinada. Tal treino visa que ela desenvolva seu dom para ser então entregue ao Magistrado, cuja identidade é desconhecida. Uma noite é resgatada por um caçador das sombras, Will. Paralelo a isso eles descobrem a existência de autômatos, espécimes de robôs construídos para se assemelhar a humanos e que de alguma forma parece ter relação com o Magistrado. Tessa é então abrigada no Instituto de Londres e se dá inicio ao romance e futuro alicerce de um triangulo começa a se desenrolar ao passo que os Caçadores e a própria garota começam a investigar sobre os autômatos, o desaparecimento de Nate, a identidade do magistrado, dentre outros mistérios que vão surgindo.
Tessa, ao contrário da Mala, digo Clary, não é uma protagonista com a qual eu tenha passado muita raiva. Ela tem um crescimento até interessante em seus conceitos no livro, originando boas reflexões em se tratando da época. Ela parece chocada quanto a postura de uma mulher em quanto caçadora das sombras, ou mesmo com a forma que Sophie, a ‘criada’ do Instituo, trata os moradores da casa. Através de sua visão inicial podemos ter uma boa noção de como seriam os preceitos aplicados a postura das inglesas durante a época vitoriana.
Embora em parte do livro ela mesma desconheça isso, Tessa é forte e tenaz, a forma como suporta as adversidades visando à proteção do irmão é muito digna. E embora ela tenha seus momentos de reflexão e duvidas ao questionar-se quem é ou em relação ao que sente não demostra uma vulnerabilidade irritante conforme ocorre com outras mocinhas.
William Herondale, ou Will, no inicio pensei que tivesse o humor de Jace, e até cheguei a comentar isso, mas no final me vi enganada. Eles são diferentes, mas Will também me fez querer bater nele várias vezes. Seu personagem é todo mistério e um dos que me deixou mais perguntas em relação a sua origem e os possíveis esqueletos no armário que ele esconde. E toda essa nebulosidade e alusão a “algo errado” que ele possa guardar segredo são deliciosamente instigantes. Jem, por outro lado é um docinho no quesito gentileza, e apesar de ter seu segredo é ele quem podemos conhecer melhor na trama, Jem mesmo com sua “limitação” e saúde frágil é um bom Caçador, determinado e melhor amigo de Will. É literalmente ele quem vive salvando as costas do amigo; O rapaz toca violino e tem origem chinesa (Henry Lau é você meu bem???) e provavelmente me fará ficar bem dividida nos próximos volumes.
Além deles o livro conta com outros personagens interessantes, como Charlotte, a mulher é quem coordena o instituo e através dela podemos ver como o sexo feminino era reprimido a época. Charlotte por vezes tem que se desdobrar para se fazer ouvida e como disse em certa passagem no livro, por ser mulher parece não ter o direito de errar sem que outros caiam em cima de suas decisões. Charlotte é inspiradora e uma das personagens que mais admirei no livro. Henry seu marido é o contrapeso, ele é brilhante, mas muito atrapalhado, e de maneira alguma serve para dirigir o Instituto, prefere se manter na profundezas do lugar trabalhando em engenhocas que nem sempre (pra não dizer nunca) dão certo. Mas Henry é incrível a sua maneira, e é como a figura paterna para os outros.
Oposta a Charlotte temos Jessamine, uma caçadora das sombras que não gosta do que é. Seu sonho é como o que deveria ser o pensamento normal a grande massa da época, casar-se e ser uma boa esposa com uma vida simples e viver bem longe dos outros Caçadores de Sombras. O antagonismo entre o princípio dela e de Charlotte é mais uma boa reflexão em relação à sociedade vitoriana. E embora ela me irrite durante grande parte do livro, ainda tive meus momentos de complacência para com sua personagem.
O livro em si é uma ótima leitura e com toda certeza o recomendo, Cassandra trabalha com maestria uma nova corrente do universo que já conhecemos de TMI, explorando-o de maneira satisfatória e sem deixar de lado seus tão característicos méritos em ação, e forma de trabalhar sentimentos e laços como ela bem sabe. Muitas questões naturalmente ficaram sem respostas, e eu realmente não entendi o que realmente é o tal anjo mecânico que Tessa leva para todo lado, e a resposta para o que nossa protagonista realmente é ficou para um próximo livro, mas isso só serviu para prender-me ainda mais a trama. E como um primeiro volume de uma série os fios soltos já eram esperados.