(DES)Caminho para Santiago

(DES)Caminho para Santiago Cees Nooteboom




Resenhas - Caminhos para Santiago


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Paulo Sousa 16/11/2024

Caminhos para Santiago
Leituras de 2024
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Caminhos para Santiago - Desvios pelas terras e pela história da Espanha [2008]
Orig. De omweg naar Santiago
Cees Nooteboom (??1933-)
Nova Fronteira, 2008, 460 p.
Tradução: Irène Cubric
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?Recolhimento, é possível voltar-se cada vez mais para o interior de si próprio e, mesmo que os caminhos levem para o Sul ou para o Oeste, experimentar a sensação de penetrar cada vez mais fundo na alma de um país, e esse país esconder alguma coisa que nunca vimos antes em parte alguma, sejam quais forem nossas viagens?? (Pág 404).
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Este volume, que gastei um tempo demasiado para ler (não porque seja ruim, mas por minha falta de método e disciplina, que teima em dividir a atenção entre vários projetos) é composto por 25 textos, escritos entre 1979 e 1992, onde o holandês Cees Nooteboom narra suas impressões sobre as muitas viagens que fez pelas terras espanholas.
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Desde sua primeira ida à Espanha, em 1953, Nooteboom várias vezes percorreu de carro caminhos incomuns ao turismo tradicional, quase sempre dando em vilarejos perdidos no mapa e no tempo, onde pode se embrenhar por ruelas centenárias, palcos de sangrentas batalhas em prol da expansão do reino e da fé. Todas essas direções sempre o levaram a um único fim, que é a mítica Santiago de Compostela, um destino que todos, incluído eu, temos o desejo de chegar após a famosa peregrinação.
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Nooteboom é especialista - de verdade - em arte sacra e delicia o leitor com suas reflexões sobre os pintores e escultores catalães que emolduraram com sua arte estes inúmeros caminhos. (Até então eu nunca ouvira falar de Francisco de Zurbarán, fartamente citado neste livro e, numa rápida pesquisa no Google, me encantei com a beleza plástica de suas pinturas).
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Da mesma forma, Cees reflete sobre a realeza, a religiosidade do lugar, conquistados nem sempre na força do amor. Este mosaico de memórias de viagens muito nos lembra das epopeias de D. Quixote, é um verdadeiro passeio por ambientes que de fato serviram de pano de fundo para a literatura, atiçando o imaginário pela beleza estética do texto deste grande escritor.
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De Nooteboom, eu já tinha lido os excelentes ?Dia de finados? e ?Paraíso perdido?, livros impactantes, repletos de indicações de arte, pintura e cultura que só mesmo um mestre da literatura poderia legar. Estou com outro volume seu, o ?Rituais?, que espero ler em breve e brevemente, exatamente nessa ordem. Prossigamos!
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Teca 02/01/2016

Dediquei-me de corpo e alma à Espanha.
Descobri Cees Nooteboom em textos de ficção. “A seguinte história:” e “Rituais” são romances ágeis, ainda que impregnados da erudição do autor. Boas e instigantes leituras. Já Caminhos de Santiago aguardou um pouco na estante, até que minha própria experiência de viagem pela Andalucía despertasse quase que a necessidade de ler mais sobre a região e penetrar em seus signos.
Dediquei-me de corpo e alma à Espanha. Este é o título de um dos capítulos, mas que revela a motivação maior do autor, um escritor holandês apaixonado pela Espanha. Por esse amor, aprendeu a língua e viajou, muitas vezes sozinho, por regiões onde o tempo parou, mais exatamente nos anos anteriores à Reconquista pelos reis católicos. Belíssima narrativa, erudita sem perder o vínculo com o espanto genuíno do viajante. Estradas desertas e secas, fileiras de oliveira, aldeias semiabandonadas. E para onde o autor nos leva nos desvios que percorreu até Santiago de Compostela.
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Aguinaldo 05/02/2011

caminhos para santiago
Se há uma coisa que impressiona um sujeito é descobrir um autor feito à sua medida. Descobri Cees Nooteboom há pouco e por acaso, mas já me sinto um afotrtunado amigo dele, de suas criações, de seus personagens. Quando vi uma entrevista de Edney Silvestre com Nooteboom impressionei-me com um comentário onde ele dizia que um país como a Espanha era curioso principalmente por ter Nossa Senhora, mãe de Jesus, como "comandante em chefe" honorária dos exércitos de Espanha (e isto até hoje, neste bizarro século XXI) e também por ter uma cerimônia anual, onde o Rei, o Príncipe de Austúrias ou ainda um preposto nomeado, entregam o país simbolicamente à são Santiago, o apóstolo que é cultuado na cidade Galega de Compostela e é o padroeiro da Espanha. Em função deste comentário resolvi ler algo sobre o tal caminho de Santiago (daí o "Ultreia", garimpado nos guardados, que já resenhei aqui) e encomendei este "Caminhos para Santiago", que resenho agora. Bom, lê-se este livro com enorme prazer. Não se trata de um guia para peregrinos, mas antes, como o próprio subtítulo do livro nos ensina, uma digressão inspirada por "desvios pelas terras e pela história da Espanha". São vinte e cinco capítulos, escritos entre 1979 e 1986. No último texto, escrito em 1992, ele analisa estas viagens (anuais quase todas) e seu envolvimento com o país. Nooteboom, que tem setenta e cinco anos agora, foi a Espanha pela primeira vez quando tinha vinte. A idéia era experimentar o calor do sul, esteve primeiro na Itália, mas logo quis conhecer aquele país que em sua Holanda natal era odiado desde os bancos escolares (por conta da guerra de secesão do final do século XVI.) Daí para um encantamento foi um passo. Seu texto aqui lembra Robert Hughes contando as coisas da Catalunha. Temos a mesma mistura de erudiçao e cultura refinada, envolvimento pessoal e emoções, tudo na medida certa. Já disse que não se trata de um guia para explicar como funciona a caminhada. Em suas viagens ele segue caminhos distintos a cada ano. Alguns de fato associados a história da peregrinação (Saragoça, Jaca, Sória, Pamplona, Burgos, León, Atorga), a maioria entretanto por destinos rotas mais distantes (Segóvia, Extremadura, Córdoba, Cádiz, Múrcia, Valência, Teruel.) Os espaços amplos e o tempo que flui lentamente na meseta espanhola parece saltar do livro, emulado pelo autor. Assim como no Hughes há uma enfase na descrição da arquitetura de castelos, mosteiros, claustros, mas há também muito sobre pintura (Zurbarán principalmente, mas também Velázquez e claro, Goya), sociologia, história, literatura e religião (sempre presente em seus livros.) O livro inclui um mapa simples e índices de nomes próprios e lugares, além de algumas fotos em preto e branco. Todo aquele que já esteve na Espanha e já se apaixonou por aquele país há de apreciar este livro e talvez concordar com ele quando diz: "Um ano sem o vazio desse país, sem as cores da terra e dos rochedos, é um ano perdido." Vale.
"Caminhos para Santiago", Cees Nooteboom, tradução de Irène Cubric, editora Nova Fronteira, 1a. edição (2000) brochura 14x21cm, 451 pág. ISBN: 978-85-209-1117-X
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