Matheus.Correa 02/02/2024
O tempo não nos torna mais sábios, apenas mais covardes.
"A Barcelona da minha juventude não existe mais. Suas ruas e sua luz se foram para sempre e vivem apenas nas lembranças. Quinze anos depois, voltei à cidade e percorri os cenários que cheguei a acreditar que tinham sido varridos da minha memória. Fiquei sabendo que o casarão de Sarriá tinha sido demolido. As ruas que o cercavam fazem parte agora de uma rodovia pela qual, segundo dizem, corre o progresso. O velho cemitério continua lá, acho eu, perdido na névoa. Sentei naquele banco da praça que tantas vezes dividi com Marina. Reconheci ao longe a silhueta do meu antigo colégio, mas não me atrevi a me aproximar. Alguma coisa me dizia que, se o fizesse, minha juventude ia se evaporar para sempre. O tempo não nos torna mais sábios, apenas mais covardes."
Ao ler o relato de Oscar no epílogo de um livro tão impactando quanto é o de Marina, me deparo com o Matheus que aprendeu a amar Carlos Ruíz Zafon, o garoto que pegou o livro em 2012, e leu com uma fome voraz a Sombra do Vento e contemplou, pela primeira vez, o amor a literatura. O amor ao encadernado, as linhas que ao longo do tempo se tornam poros, pura vida. Marina resgatou isso e sou grato. Grato por Oscar ter entrado em um casarão e ter conhecido German e Marina, ter se maravilhado com o ar galã de um pai e o tom irônico de uma filha "com a pele de porcelana". Entrar nessa investigação sobre um ser que não quer que uma história seja investigada, e juntando cada fato e foto, tentar tirar os nossos jovens protagonistas de circulação, me fez ficar radiante.
Conversas profundas e habituais, tudo misturado, do jeito que deve ser. O autor brinca entre a realidade ferida de uma Barcelona com seus problemas reais e mistura com a fantasia, uma fantasia que dói, que lateja, mas que ensina sobre a dor do outro. E como dói a dor do outro.
Ler Marina é ter experiências, é voltar para casa, é se sentir aliviado pelas vitórias e não em frenesi. Ler Marina é ler a vida. Ler Marina é ler algo que vai te acompanhar para sempre, assim como todos os livros desse autor, a quem amo tanto.