Andressa 20/01/2015Zafón, sempre Zafón.Difícil fazer uma resenha que faça jus a genialidade de Zafón, autor que não peca na qualidade de seus textos, sempre ricos e rebuscados, até nas mais simples estórias.
“Marina” nos conta a estória de Óscar Drai, um garoto de quize anos, que vive em um internato situado na cidade de Barcelona, grande protagonista dos livros de Zafón. O garoto gosta de andar pela cidade e admirar a beleza das arquiteturas, até que se encanta por um casarão, entra e leva consigo um relógio. É com o propósito de devolver o objeto que Óscar conhece Marina e seu pai, Germán. Os três constroem uma forte amizade e Óscar, finalmente, se sente em família.
Neste livro há, também, um entrelace de estórias. Marina e Óscar vivem intrigados a respeito da mulher do cemitério e acabam sendo tragados para uma estória sombria, sobre um imigrante e a desconstrução de sua fortuna, de sua família e dele próprio. Não vou contar muito mais do que isso, porque estragaria as surpresas do livro.
O livro é narrado em 1a pessoa, por Óscar, que relembra o passado e reflete o futuro através das memórias. Apesar de Zafón usar uma linguagem um pouco mais rebuscada em todos os seus livros, Marina flui muito bem e está belissimamente escrito. É possível devora-lo de forma rápida, pois tem bastante mistério.
Gostei muito dos personagens! Óscar é um garoto carente de afeto, dono de um bom coração, o qual se sente realizado com mínimas atitudes. Marina é uma jovem inteligente, que abraçou a solidão de Óscar, enquanto cuida de seu pai doente, Gérman, um homem enfraquecido pelas perdas da vida.
O desenvolvimento da amizade destes três é o que há de mais bonito na estória. É bem construído, é cativante. Senti o reconforto de Óscar ao se sentir parte de algo pela primeira vez. No entanto, por vezes, me peguei desinteressada no mistério pelo qual Marina e Óscar corriam atrás, já que não havia uma conexão entre as estórias, foi apenas uma coincidência mesmo. Por outro lado, algumas cenas, descobertas e reviravoltas saciaram minha curiosidade e me causaram até um pouco de medo. O que acho excelente, pois quer dizer que o livro realmente te abduziu para o seu universo.
O final conseguiu me surpreender - tristemente - quanto a Marina e Óscar. Passei o livro todo com uma ideia fixa a respeito de Marina e fui, inteligentemente, enganada. Já sobre o imigrante, achei sem pé nem cabeça e bem fantasioso, contrastando com a realidade de Marina e Óscar, mas não estou em posição de criticar um autor que me causa tantas emoções e surpresas de formas maravilhosas.
A diagramação da Suma de Letras está boa, só acho que deveria ter um pouquinho mais de espaçamento, isso aumentaria o número de páginas, mas não teria importância já que a leitura ficaria mais limpa. A capa é sombria como o livro e eu adorei.
É claro que recomendo Zafón. Todos deveriam conhece-lo, ao menos, uma vez.
"A vida concede a cada um de nós apenas alguns raros momentos de felicidade. Às vezes, são apenas dias ou semanas. Às vezes, são anos. Tudo depende da sorte de cada um. A lembrança desses momentos nos acompanha para sempre e se transforma num país da memória ao qual tentamos regressar pelo resto de nossas vidas, sem conseguir."