Laiza 04/12/2020
Marina - Carlos Ruiz Zafón
Estamos na década de 1980: Óscar Drai, um menino que estuda em um internato em Barcelona é fascinado em descobrir e perambular pelas ruas da cidade, onde observa a arquitetura e a história que a cidade carrega. Em um dos seus passeios ele passa por um casarão antigo, de onde saí uma música que parece o chamar para dentro. Atônito, Óscar entra na casa, sem pensar muito nas consequências. Lá dentro ele encontra um velhos relógio, mas logo é interrompido por um senhor que corre até ele; assustado, Óscar sai as pressas do local, e apenas quando chega no internato ele percebe que levou o relógio consigo. Depois de dias de amargura, ele toma coragem e volta até lá para devolver o item que levou; é nesse momento que conhece Marina, que vive no casarão com seu pai, Gérman. Ambos aceitam as desculpas de Óscar e ele, fascinado pela beleza de Marina, sente-se envergonhado pela situação. Mas antes que ele vá embora, Marina, propõe que juntos, ambos resolvam um mistério: todo último domingo do mês, no mesmo horário, uma mulher toda coberta de preto, deixa flores em um túmulo sem nome, que possui apenas uma borboleta encravada. Afinal, quem é essa mulher misteriosa e a quem pertence o túmulo?
Marina é o tipo de história que te pega desde a primeira página. Com uma narrativa suave e poética, Zafón faz com que o leitor conheça a cidade de Barcelona através de seus próprios olhos, já que afinal ele morou em Barcelona na época em que a história se passa. Então a ambientação do livro possui um toque bem pessoal e sentimental, que te transporta para o cenário e a época. Isso também acontece porque da mesma forma que na Trilogia da Névoa, aqui temos um personagem que está voltando ao seu passado. O próprio Óscar, já adulto, narra sua história com Marina e o mistério que ambos tentaram resolver em sua juventude. Já nas primeiras páginas ele deixa claro que essa história é um segredo que o perturba e que guarda a sete chaves, não revelando-a a ninguém - até agora. E ele conta que esse mistério o fez desaparecer do mundo por sete dias, em que ninguém do internato onde ele estudou ou seus pais, conseguiram encontrá-lo. Tudo isso logo no começo, então a gente já começa a história com essa enorme curiosidade: afinal, o que aconteceu com ele
Óscar e Marina embarcam em uma aventura que mistura ares sobrenaturais com ficção científica. Nas resenhas que faço dos livros de Zafón, nunca gosto de contar muitos detalhes sobre o que é o mistério da história, para que não se perca o elemento da surpresa. Aqui ressalto isso, porque é mais interessante que o próprio leitor conheça quem são as peças chave do mistério - a mulher coberta de preto e o túmulo sem nome. Óscar e Marina são meros telespectadores, buscando desvendar o passado e a história de trágico um amor que marcou a história de Barcelona. Os mistério também explora pontos bastantes humanos; em que a linha que separa o bem e o mal não é tão facilmente separada; nesse quesito temos personagens bastante profundos e palpáveis. As adversidades da vida podem trazer destinos trágicos e sentimentos pesados e conflitantes. Gostei também que o suspense aqui é bem mais frio e sombrio, o que acaba por se misturar e complementar a parte descritiva do livro, criando uma atmosfera eletrizante.
Mas além do mistério que os jovens buscam desvendar, há no livro a questão que muitos esperam descobrir: Marina. Já nas primeiras páginas, sabemos que essa aventura que Óscar viveu com ela, o marcou profundamente. Ambos eram pessoas sozinhas a sua maneira: Óscar não tinha muitos amigos em seu colégio, ou possuía um bom relacionamento com os pais; Marina estudava em casa, e não tinha amigos além de seu pai e seu gato, Kafka. Os dois encontram um no outro uma amizade e companheirismos que é muito gostoso de ler. Como o livro é narrado em primeira pessoa por Óscar, é encantador vê-lo explorar seus sentimentos e seus desejos. Não temos no livro um grande romance, como muitos podem esperar. Mas sim um romance sutil, suave e juvenil, o que faz com que a história seja ainda mais apaixonante. Em nenhum momento isso se torna algo central no livro, mas sim uma parte que complementa o resto. Ambos são jovens que pela primeira vez experimentam esse tipo de sentimento, então não sabem lidar com esse tipo de emoção, então é algo divertido de ler.
Confesso que o desfecho já tinha sido premeditado por mim, mas mesmo quando você chega na grande revelação, continua sendo emocionante. Mas isso em nada atrapalha as grandes emoções que ele carrega. O mistério que envolve o túmulo marcado com uma borboleta negra é instigante até o final, e vai se desmembrando pouco a pouco, cheio de ação e tragédia, como em um filme. A relação de amizade entre Óscar, Marina e Gérman, e o que os três significaram uns para os outros nesse pequeno espaço de tempo é uma história de aquecer o coração e, no meu caso, de até chorar um pouquinho hehe.
Não é uma surpresa que essa história tenha se tornado a minha favorita do autor até agora. É uma leitura para todas as idades e para todos os gostos. Marina é uma leitura que prende, instiga, emociona e diverte em todos os momentos; um prato cheio para qualquer leitor, mas também para quem quer iniciar o hábito de leitura. Só posso terminar a resenha com uma palavra: leia.
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