spoiler visualizarGabriel Meneses 09/01/2024
Vamos falar sobre "O Velho e o Mar"?
O Velho e o Mar foi um livro que me permitiu diferentes reflexões e tocou algumas feridas que eu nem sabia que existiam.
O livro, no que diz respeito a leitura em si, não traz grandes dificuldades; a linguagem é formal, ainda mais pelo fato de o autor ser um jornalista, e é um texto relativamente curto. Mesmo assim, é uma leitura envolvente, em que você pode se sentir vagando pelo oceano num pequeno barco.
Em relação ao enredo, eu vejo quatro personagens principais: o velho (Santiago); o mar; o peixe e o menino (Manolin). Santiago é um velho pescador, simples, com rugas no rosto, mãos calejadas, mas que detém de uma vontade inerente de fazer aquilo que ele julga ter nascido para fazer: pescar. Contudo, está há um longo período sem obter sucesso na pesca, mesmo com a ajuda do jovem Manolín. Esse período de 'seca' faz com que os pais do menino o 'incentivem' a procurar um novo pescador e um novo barco para trabalhar.
Nesse contexto, Santiago embarca em uma viagem para tentar afastar essa maré de azar e voltar a pescar bons peixes. Na ausência de sorte, ele decide buscar águas mais distantes e profundas, onde a 'sorte' possa estar mais presente.
SPOILER ALERT ⚠️
E foi o que aconteceu: em determinado momento, um grande peixe fisga uma das inúmeras iscas deixadas por ele, e o velho pescador começa uma longa saga, ao perceber que jamais conseguiria colocar esse peixe para dentro do barco, ainda mais sozinho.
Nesse processo, Santiago dialoga com ele mesmo; dialoga com o peixe, demonstrando respeito pelo grande espadarte; sente vontade de ter o menino por perto para compartilhar com ele esse momento; sente a ambição de ter conseguido pescar um peixe tão grande; ele se sente bom novamente, por conseguir provar a si mesmo que ainda é um bom pescador.
E nós vivemos essas angústias junto com ele, desde quando ele consegue 'vencer' o peixe e amarrá-lo junto ao barco para transportá-lo à costa, até a imensa angústia dos momentos em que inúmeros tubarões vão atacando, de tempos em tempos, e levando pedaços do grande espadarte que ele pescara.
E como é angustiante ver os pedaços do peixe indo embora, melancolicamente, junto com a esperança de Santiago de se provar novamente (a si mesmo e aos outros) como um bom pescador, mesmo sendo velho.
Ao chegar na costa, com os restos do grande peixe amarrado no barco, todos da cidade percebem o que aconteceu, mesmo sem nada ser dito.
E como é bonito ver o jovem Manolín demonstrando profundo respeito por seu (velho) amigo, deixando muito claro que faria de tudo para que o velho melhorasse logo, e que eles voltassem juntos para o mar, pois o jovem ainda tinha muito a aprender com velho sobre o mar.
Nessa curta história, repleta de profundos significados e interpretações, o que mais chama a atenção é um idoso que tem o trabalho como sua razão de viver, repleto de medos, angústias, vaidades, mas que não consegue mais desempenhar como antes fazia; porém sem perder a esperança e a certeza de que está onde quer estar. Vejo, também, um jovem, que, muito mais do que um aprendiz desse velho, é um amigo que admira e que tem certeza que tem muito a aprender com o outro. Santiago não precisava provar nada para o garoto para mostrar que tinha algo a ensinar. Na verdade, eu vejo que ele queria mesmo era aprender com o jovem Manolín.