carolinadevermelho 24/08/2024
É preciso sair da ilha para ver a ilha
Devo dizer que gosto muito dos vlogs da Bruna Martiolli, pra início de conversa. Afinal, foi ela quem em cativou a começar essa leitura. Em uma tarde eu sentei e li estas páginas devorando cada linha, conforme eu me sentia imersa nessa leitura. Minha experiência com o Saramago data exatamente 2015, quando li o fantástico Ensaio Sobre a Cegueira, e fiquei estupefata, sem comentar que em 2012 eu havia lido A Viagem do Elefante dentro daquelas leituras obrigatórias para vestibular.
Nesse conto eu notei surpresa uma diferença na escrita dele, nos dois livros que li anteriormente comparados a esse. O conto nos apresenta, um homem, uma mulher e um rei, dos que mais apresentam foco principal na história. Esse homem vai até o rei pedindo uma embarcação, não sendo ele nem náutico e nem mesmo tendo uma tripulação que entenda das "coisas do mar". O rei é apresentado como alguém que vive sobretudo de questões burocráticas, fiquei pensando no tanto de espera dos súditos dentro do que ali era comum. Mas esse homem está tão determinado, não quer deixar recados, que ver o rei e insiste até ser recebido pessoalmente.
Esse homem que esse barco para encontrar o que ele chama de ilha desconhecida. E é claro que eu fiquei encantada com essa metáfora, tendo eu mesma me identificado com essa necessidade de buscar um propósito, eu me encontro extamente nesse ponto da minha vida, onde acho necessário encontrar e seguir uma jornada de significados e significâncias. Nesse ponto, concordo com o autor de que é uma jornada solitária e muitas vezes assustadora. A coragem, a persistência, a valorização dos sonhos, o autoconhecimento como um compromisso e até mesmo a decisão de assumir riscos em prol da nossa realização pessoal, são pontos importantes que esse conto toca dentro de nós.
Eu gostei muito da mulher, de como ela decide também, por meio de uma inspiração despertada não intencionalmente por aquele homem, seguir também na sua própria busca. A fala acerca do filósofo do rei e como ela tras a ideia de "é preciso sair da ilha para ver a ilha" me deixou por dias refletindo acerca da importância da minha independência, da minha liberdade. É difícil sair em busca de superar o meu próprio mar de ignorância, porém, é uma atitude indispensável se o que estamos buscando é uma experiência de realização e felicidade subjetiva, dessas que sentimos com a gente e dentro da gente mesmo.
Ainda falando sobre o "sair da ilha para ver a ilha", eu sinto que foi durante o meu processo de sair da minha zona de conforto, que não era nem um pouco confortável, mas me trazia aquela sensação de controle, foi nesse processo que eu pude ter novas perspectivas sobre mim, sobre a minha vida e as inpumeras possivilidades que o desconhecido oferta. Essa ideia de que, quando fazemos o exercício de onservar nossas rotinas e limitações do dia a dia, com esse olhar externo, somos capazes de renovar todos os significados e propósitos mais profundos que já temos conhecimento até então, é muito encantadora, para mim.
Acho que o que de mais valioso eu descobri durante essa leitura, foi essa decisão de contato maior comigo mesma e de abertura para compreender quem eu sou e qual é a minha experiência com o mundo que me cerca, sem deixar de pensar, também, na vida em comunidade, mas não tem como ela ser vivida de uma forma plena, na minha opinião, sem esse investimento pessoal em nós mesmas.